O presidente da Argentina, Javier Milei, ameaçou retirar o país do Mercosul em troca de um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. O anúncio foi feito no último sábado (2) e levanta dúvidas sobre quais seriam as consequências dessa saída para a relação entre os países.
O Agro Band desta terça-feira (4) conversou com um especialista para saber quais seriam as consequências para o agronegócio se Milei realmente cumprir sua promessa.
Em discurso na abertura anual do Congresso, Milei alegou que o bloco criado em 1991 e do qual também fazem parte Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia (esta última em processo de adesão) só serviu para "enriquecer os industriais brasileiros" às custas do empobrecimento dos argentinos.
Ao reafirmar seu desejo de fechar um acordo comercial com os americanos, o líder argentino disse que essa é uma "oportunidade histórica". "Mas para aproveitar esta oportunidade histórica que mais uma vez se apresenta, temos de estar dispostos a ser flexíveis ou, se necessário, até a sair do Mercosul", defendeu.
A oferta a Trump já havia sido feita antes por Milei, em janeiro, durante visita ao Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.
Os países do Mercosul, cuja presidência rotativa está atualmente com a Argentina, negociam juntos acordos com outras nações ou blocos.
Horas antes, Lula defendeu Mercosul
O discurso de Milei foi feito horas depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em viagem ao Uruguai para acompanhar a posse de Yamandú Orsi, ter defendido a importância de "formar um bloco forte na América do Sul", independentemente de quem governe.
A jornalistas, Lula disse que é hora de "esquecer as convergências e as divergências entre as pessoas" e compreender que a relação entre os Estados "é algo mais profundo e que não muda, mesmo quando muda o presidente".
Citando o acordo firmado no final do ano passado entre Mercosul e União Europeia, o brasileiro frisou que, num contexto em que "o mundo está dividido em blocos", quem estiver "mais organizado" poderá fazer mais.
Em dezembro, após 25 anos de negociações, o Mercosul e a União Europeia finalmente anunciaram um acordo de livre comércio entre os dois blocos. O acordo, que enfrenta resistência do setor agrícola europeu em alguns países, ainda precisa ser ratificado para que possa entrar em vigor. Esse processo pode levar anos.
No discurso de sábado ao Congresso, Milei também prometeu dar continuidade à política da "motosserra" – como ele chama seu plano radical de corte de gastos públicos –, classificando-a como "símbolo de uma mudança de época" que "seguirá por anos e não parará até que encontre o final do Estado no longo prazo".
Segundo Milei, essa política pôs a Argentina "na vanguarda do mundo" e teria inspirado até mesmo o Departamento de Eficiência Governamental (Doge) de Elon Musk nos EUA. O discurso aconteceu num momento em que a popularidade de Milei está arranhada pelo escândalo do "criptogate" – deflagrado após o colapso, em duas horas, de uma criptomoeda promovida pelo argentino em 14 de fevereiro.