
O Mauro cresceu cheio de traumas e sem a figura paterna de pai. Mais velho, ele se casou, mas entendeu que falhou e decidiu abandonar a filha e sua esposa, Aline, igual ao seu pai fez no passado.
Consumido pela culpa, ele encontrou uma luz no fim do túnel quando conheceu a Edna. Ela o levou para a igreja, onde ele descobriu um sentimento poderoso: o perdão. Cheio de coragem, depois de 15 anos, Mauro foi atrás da família e entregou 15 cartas para a ex-esposa. Cartas que ele nunca havia tido coragem de enviar. Cada uma representava um aniversário dela, de todos os anos que ele ficou longe.
E agora, qual a decisão de Aline? Leia o “Quem Ama Não Esquece” desta quinta-feira, 30 de janeiro:
Às vezes, a maior batalha de um homem não é contra os erros que ele comete, mas contra o medo de encarar o que ele se tornou e tentar recomeçar.
Eu tinha uma família. Era casado com a Letícia e nós tínhamos a nossa filha, Aline. A Letícia sempre foi uma ótima mãe, já eu nunca me senti o melhor dos pais. Eu sentia que e não sabia fazer um papel que eu nunca tinha visto direito. O meu próprio pai foi um cara totalmente ausente e a minha mãe, tentava fazer o possível, mas não dava conta de tudo, então eu cresci meio solto, sem referências de família, sem atenção e sem muito amor e carinho.
Quando a Letícia engravidou, eu confesso que fiquei apavorado e acho que foi ali mesmo que eu coloquei na cabeça que nunca seria um bom pai, mas eu não me preocupava, porque diferente de mim, a Letícia era ótima! Ela vinha de uma família muito estruturada, unida e cheia de carinho.
Eu tentei... eu juro que tentei, mas eu... eu nunca consegui. Eu levei a Aline para aprender a andar de bicicleta, ao parque, mas eu me sentia sempre falhando com a minha filha.
Alguns anos depois, o meu casamento entrou em crise. Eu não me lembro exatamente quando tudo começou a desmoronar, mas parecia que a gente vivia em círculos: ela queria mais de mim, eu não sabia dar, e isso deixava ela ainda mais frustrada. Eu e a Letícia passamos a brigar muito e a Aline sempre presenciava aquelas cenas horríveis. Uma criança de 12 anos não devia ver o que ela viu, nem ouvir o que ela ouviu. A nossa filha chorava no quarto, assustada e foi ali que eu percebi que, do jeito que tínhamos nos tornado, eu era mais um problema do que solução.
Tudo me atingiu tanto, que eu passei a beber muito mais do que eu devia e foi aí que a Letícia pediu o divórcio. Ela não estava errada. Eu estava perdido e, pior, tão afundado nos meus próprios erros que achava que talvez fosse melhor sumir. Deixar elas em paz.
E foi o que eu fiz. Eu achei que, saindo de cena, estava protegendo minha filha e que nós não tínhamos mais jeito como família.
Hoje, olhando para trás, eu sei que era covardia. Eu estava repetindo o ciclo do meu pai. Fui embora porque era mais fácil. Mais fácil do que encarar o que eu precisava mudar. Mais fácil do que admitir que eu era fraco e que tinha medo.
O que eu não sabia é que, ao ir embora, eu não estava protegendo minha filha. Eu tava machucando ela de um jeito que eu nem conseguia imaginar.
Eu recomecei a minha vida do zero, carregando nas costas o peso da vergonha, do arrependimento e da saudade que dia a dia só aumentava. Apesar de tudo, eu ainda me dizia que era melhor assim porque eu não era uma boa pessoa. Eu tentava me convencer de que tinha feito a coisa certa.
Aos poucos eu me reergui: parei de beber, encontrei uma casa bem longe, mudei de emprego e segui em frente e assim, a vontade que eu tive um dia de ir, virou vontade de voltar, mas aí eu já achava que era tarde demais. Eu não tinha coragem de enfrentar os próprios erros e vivia preso a um ciclo de arrependimento e medo de ser rejeitado.
Depois de 14 anos, eu conheci a Edna, uma mulher simples, mas que tinha uma força de fé que me tocou. Foi ela quem me levou para a igreja e lá, pela primeira vez, eu encontrei uma coisa que eu nunca tinha permitido para mim mesmo: o perdão. Tanto o divino quanto o que eu precisava dar para mim mesmo.
Foi um processo lento, mas comecei a admitir que fugir nunca foi proteção... só um ato de fraqueza mesmo.
A Edna foi uma luz na minha vida. Foi a minha salvação. Ela me incentivou a retomar os pedaços que eu tinha deixado para trás. Eu precisava enfrentar o meu passado e tentar, mesmo que não desse certo, reconstruir a minha relação com a minha filha.
Foram dias pensando, noites sem dormir, até eu conseguir o endereço da Aline e criar coragem para ir. Meu Deus, como eu estava ansioso! A cada quilômetro que eu andava, eu sentia vontade de sair correndo de volta.
Eu desci do ônibus e olhei não sei por quantas horas para a porta da casa dela. Eu ensaiei o que falar, eu desisti, eu voltei atrás, eu esperei mais... Meu coração parecia que ia sair pela boca, mas eu toquei a campanha. Parecia que eu ia desmaiar de tanto nervoso quando eu ouvi os passos do lado de dentro. Eu achei que ela nem ia me reconhecer, mas assim que que a Aline abriu a porta, já uma mulher tão diferente da menina de 12 anos que eu tinha abandonado, a fisionomia dela mudou. Ela parecia nem acreditar no que estava vendo, fechou a cara totalmente e eu percebi que ela tinha sim me reconhecido.