Algumas histórias são como rios: desviam, enfrentam pedras, seguem caminhos. Tortuosos, mas de algum forma acabam encontrando o amor.
A vida me ensinou que não importa o quanto tentamos fugir, quando uma pessoa é destinada a estar com você, nada, nada impedirá que vocês fiquem juntos.
Eu só tinha 9 anos quando conheci o Oliveira. A família dele morava ao lado da minha casa e todos eram muito amigos. Quando eu estava com 11 anos, ele me pediu em namoro por meio de uma cartinha, mas nós éramos só duas crianças. Duas crianças que mal sabiam o que a vida nos reservava.
A gente namorou escondido com essas cartinhas durante dois anos, porque a minha mãe era muito rígida e jamais permitiria que acontecesse alguma coisa. Mas, quando eu fiz 13, o Oliveira criou coragem e pediu permissão para a gente namorar de verdade.
Nós dois estávamos animados e com muita expectativa, afinal, na nossa cabeça, já éramos adolescentes, mas a minha mãe não aceitou de jeito nenhum e disse que eu ainda era muito nova.
O Oliveira ficou tão chateado e desiludido, que terminou tudo comigo e ainda foi viajar para o Ceará, onde ele tinha parentes. O meu mundo simplesmente desabou. Eu chorei por dias e mais dias, porque, para mim, ele era o grande amor da minha vida. Eu não podia acreditar que ele tinha ido embora... não podia!
Eu sei, eu era muito nova, uma criança ainda, mas o que eu sentia por ele era uma coisa verdadeira, sincera e forte. E isso ficou provado depois.
Cerca de seis meses depois, a irmã do Oliveira me falou que ele estava voltando e quando eu soube, meu coração parecia que ia sair pela boca. Eu só pensava que a gente ia ficar junto outra vez! Eu estava tão ansiosa, tão ansiosa! Só que quando ele chegou, não quis saber mim e, para piorar, logo engatou um namoro com outra menina do bairro.
Foi a minha primeira grande decepção amorosa. Quando ele foi embora, eu fiquei arrasada, mas, dessa vez... dessa vez foi diferente. O Oliveira realmente quebrou o meu coração em mil pedaços.
Mas o tempo passou... com 15 anos eu comecei a namorar o Maurício. Ele era muito romântico, dedicado, carinhoso e dois anos depois, ficamos noivos. Parecia que tudo ia dar certo e que eu seria muito feliz.
Quando eu estava prestes a me casar, o Oliveira apareceu na porta da minha casa dizendo que eu era a mulher da vida dele, que ele me amava e ainda pedindo para que eu não me casasse. Segundo ele, o Maurício não era a pessoa certa para mim e não ia nunca me fazer feliz. Nossa! Foi um baque.
Eu senti naquele momento que eu ainda amava o Oliveira, mas eu era jovem, imatura e não conseguia perdoar o que ele tinha feito comigo ao começar a namorar com outra quando voltou.
Então, eu decidi continuar com o Mauricio e no mês seguinte eu me casei com tudo o que eu tinha direito: véu, grinalda e tudo o mais. O Oliveira ficou tão decepcionado que resolveu ir embora de novo e se mudou para outro estado.
Talvez fosse o fim da nossa história. Ele foi e eu resolvi focar na minha nova vida, mas só com um mês de casada, descobri que o Maurício estava me traindo com uma ex-namorada. É, pois é!
Eu percebia que ele estava muito distante, ficando cada vez mais no celular e quando eu peguei o telefone, vi tudo: mensagens, ligações, tanta coisa! A gente só tinha se casado há um mês.
Claro que em um primeiro impulso, só pensava em terminar com ele, ainda mais quando eu me lembrava do que o Oliveira tinha me dito, mas eu decidi perdoar o meu marido porque, no fundo, eu não queria que o Oliveira pensasse que ele estava certo.
O Maurício também se mostrou muito arrependido, pediu perdão, me deu flores, levou uma faixa no meu trabalho, jurou que nunca mais ia acontecer e eu acabei perdoando com a condição de que ele realizasse o meu grande sonho. Um sonho que ele não sonhava: ter um filho. Para ficar comigo, o Maurício aceitou, e eu continuei com ele.
Os anos se passaram, nós ficamos bem, tivemos um filho e eu fiquei sabendo por uns amigos que o Oliveira tinha se casado com uma conhecida minha. Na hora, admito que tive um ciúme muito grande dele. Eu nunca tinha deixado de gostar do Oliveira – isso eu tinha certeza, mas eu também tinha decidido deixar aquele sentimento de lado há muitos anos para viver a minha vida.
Mas, olha só, que ironia! Algum tempo depois de saber que o Oliveira tinha se casado, eu descobri uma nova traição do Maurício. Quer dizer, não tão nova assim... o meu marido estava me traindo de novo com a ex-namorada. Aí, dessa vez, quando eu soube, nem pensei duas vezes: me separei dele e tudo acabou definitivamente entre nós.
Foi muito triste, claro que foi. Todo fim de casamento é triste. Mas, eu ainda era nova, tinha só 24 anos, e sabia que eu tinha que seguir a minha vida.
Por isso, alguns meses depois eu arrumei um namorado, mas para a minha surpresa, o Oliveira apareceu de novo no portão da minha casa.
- Tina, eu estou aqui para te falar de novo... de novo... que você é a mulher da minha vida.
- Que? Do que você tá falando?
- Pela segunda vez eu estou aqui, diante de você, pedindo para você não ficar com alguém. Não se envolver com esse cara, por favor.
- Por que, Oliveira? Por que? Você está vivendo sua vida, me deixa viver a minha. Me deixa ser feliz.
- Se você falar que fica comigo, eu peço o divórcio. Juro. Eu me separo e caso com você.
- Está maluco? Eu jamais faria isso com uma pessoa. Eu jamais seria pivô da separação de alguém.
- Tina, eu amo você.
Eu não quis ouvir mais nada daquilo que ele estava me falando. Eu sabia muito bem que o Oliveira estava feliz, bem casado, tinha até filhos! Eu não podia ouvir! Eu não podia largar tudo: o meu namoro, o meu novo começo para ficar com ele.
Eu resolvi continuar como estava e foi tudo tão rápido que, meses depois, eu me casei de novo. Me casei no civil e na igreja, tudo bonitinho, tudo como manda o figurino.
Eu fiquei casada com o meu segundo marido por sete anos e foi um casamento saudável e feliz, mas depois desse tempo, a gente foi percebendo que não tinha mais amor entre nós. O relacionamento caiu na rotina, virou uma amizade e a gente só percebeu quando era tarde demais.
Felizmente nós tivemos maturidade para terminar numa boa e cada um seguiu a sua vida.
Depois do meu segundo divórcio, eu me sentia um tanto quanto frustrada e achei melhor ficar sozinha e não me casar mais. Eu já era uma mulher totalmente independente financeiramente, bem sucedida, e podia me virar sem ninguém.
Nessa fase aconteceu uma coisa bem esquisita. O diretor da escola em que eu trabalhava me disse uma vez, do nada, que o homem da minha vida estava chegando, que ele era moreno e que a primeira letra do nome dele era O. Eu dei risada e até lembrei de um amigo chamado Orgiano, mas nem dei muita bola. Até porque esse amigo não tinha nada de moreno.
Mas, quando chegou a época do Carnaval, eu encontrei com o irmão do Oliveira, que era meu amigo de infância, e ele veio me contar com um sorriso enorme, que o irmão dele tinha se divorciado.
Nossa! Quando eu ouvi aquilo me deu um frio na barriga! Mil coisas passaram pela minha cabeça. Será que finalmente eu poderia dar uma chance para ele? Para nós?
Fazia tanto tempo que a gente não se via, tantos anos! Mas o meu amigo na mesma hora fez o Oliveira me ligar.
- Que bom ouvir sua voz, Tina.
- O... oi... Tudo bem? Eu fiquei sabendo da separação. Você está bem?
- Eu estou bem. Sabe, eu te procurei nas redes sociais, eu tentei te encontrar...
- É, eu não tenho nada dessas coisas mesmo.
- Que bom que você encontrou meu irmão. Eu queria tanto te ver!
Nós ficamos conversando por dias, mas só pelo celular. Depois, combinamos um encontro, que não seria tão fácil de acontecer, porque ele estava morando em outro estado.
Até que um dia, ele simplesmente me fez uma surpresa.
Eu estava dando aula à noite, quando o diretor da escola me chamou, dizendo que estavam procurando por mim. Eu saí da sala sem nem imaginar quem era, mas quando percebi, o Oliveira estava na porta da escola
Eu... eu não podia acreditar. Ele tinha viajado sem falar nada só para me ver e estava ali, em carne e osso, bem na minha frente. O Oliveira! O mesmo Oliveira que eu tinha amado, que tinha aparecido em tantos momentos da minha vida e com quem eu nunca tinha conseguido ficar realmente! O Oliveira, me encarando com aquele mesmo olhar que eu conhecia desde criança! Parecia um sonho.
Como eu estava trabalhando, naquele momento a gente não conseguiu conversar muito, mas combinamos de nos encontrarmos depois. Quando chegou a hora, eu fui com o meu coração aberto. Aberto para conhecer o Oliveira de novo depois de mais de 20 anos. Eu nem conseguia acreditar que já fazia tudo isso de tempo... 20 anos! E mesmo assim, mesmo com todo esse tempo, no meio do papo, o Oliveira me surpreendeu.
- Tina, quer namorar comigo?
- Namorar? Calma! Não é assim... Eu não sou mais uma menina inconsequente. Eu sou uma mulher madura e as coisas não são assim, de repente.
- Você não percebe? Eu já te pedi em namoro duas vezes e nas duas você disse NÃO pra mim. Eu não posso e não vou te perder de novo.
- Mas, vamos com calma. A gente precisa se conhecer primeiro. Conhecer essas pessoas que nós nos tornamos.
- Nesses 20 anos, você nunca saiu da minha cabeça. Eu vou fazer o que for preciso. Eu vou ser o homem que você quer, que você precisa.
Eu não aceitei namorar com ele assim, na hora, mas eu me permiti viver aquela história e fui conhecendo aquele novo Oliveira, que mesmo mais velho e diferente, ainda era o homem que eu tinha amado mesmo de longe por tanto tempo.
Um mês depois, ele e os filhos dele vieram morar na minha casa e nós nos casamos, mas, dessa vez, não quis contar para ninguém. Depois de dois casamentos com vestidos, véus, buquês e tudo o mais – que não deram certo – eu preferi me casar em segredo. E assim, aqui, estamos nós: já juntos há oito anos.
Desde os meus nove anos o Oliveira esteve na minha vida e desde aquela época eu já sabia que ele era a pessoa certa para mim. Mas, hoje, vejo que nós nos reencontramos no momento certo, já mais maduros e prontos para fazer um amor verdadeiro dar certo. Ele sempre foi e sempre será o destino que o meu coração escolheu.