A Vanessa prometeu para si mesma, que nunca iria ficar com um homem casado. Até se envolver com seu chefe, o Daniel, que já tinha uma família. Entre as promessas de amor e os planos futuros, ela esperou por dois anos ele largar a esposa. Só que, Vanessa ficou grávida e o Daniel a abandonou e quis seguir com a esposa.
Abandonada, Vanessa perdeu o bebê e teve que carregar sozinha as cicatrizes emocionais de todas as suas escolhas do passado. Hoje, ela reconhece que errou e tenta recomeçar a sua vida em busca do amor. Leia abaixo, na integra, o Quem Ama Não Esquece desta quarta-feira, 19/2, da Band FM:
Eu sempre acreditei que certas coisas nunca aconteceriam comigo. Que eu jamais me envolveria com um homem casado, que eu nunca aceitaria ser a segunda opção de ninguém. Mas, a vida tem um jeito cruel de nos fazer quebrar as nossas próprias promessas.
Quando eu entrei na empresa, logo comecei a ouvir muito sobre o Daniel. Claro, ele era o chefe. Todo mundo comentava sobre ele: respeitado, bem-sucedido, competente, pai de família exemplar, tinha uma esposa linda, simpática e dois filhos pequenos.
Eu ouvia tudo isso e já o admirava como chefe, mas eu logo eu comecei a perceber que ele me olhava de forma diferente e eu detestava aquele tipo de homem que, só porque é poderoso, acha que tem o rei na barriga e pode tudo. Mas, com o Daniel, as coisas foram diferentes. Ou talvez eu só tenha me enganado mais do que deveria.
Depois dos olhares, veio aquele jeito de falar, os elogios sutis, as conversas que duravam mais do que deveriam, os sorrisos fora de hora.
Eu sabia aonde aquilo ia dar, mas me convenci de que tinha o controle.
Até o happy hour...
Naquela noite, depois que todo mundo saiu para tomar uma cerveja depois do expediente, ele me ofereceu uma carona. Eu recusei, disse que não era uma boa ideia, mas ele insistiu e disse que não tinha nada demais. Mas tinha.
Quando chegamos na porta da minha casa, ele me olhou de um jeito que fez o meu corpo inteiro tremer e quando veio se aproximando, eu... eu não consegui. Não consegui impedir. Ele me beijou e eu correspondi àquele beijo.
Ele era casado, eu sabia. Foi errado, muito errado. Eu devia ter me afastado, virado o rosto, resistido, mas eu não consegui! Foi totalmente viciante. E foi ali, naquele beijo proibido, que eu entendi: não tinha mais volta.
Algumas decisões não são tomadas pela razão. São feitas de impulso. Não foi escolha: foi uma queda livre. Naquela noite, depois do beijo, eu entrei em casa flutuando. Meu coração batia tão forte, que parecia que podia acordar a rua inteira. Eu passei a madrugada acordada, pensando em cada detalhe: o jeito em que ele me olhou, como me abraçou. Meu Deus, eu sabia que era errado, mas... o que eu podia fazer?
No dia seguinte, cheguei no trabalho sem saber direito como agir e decidi fingir que nada tinha acontecido. Mas quando a gente se olhou, eu entendi que nada voltaria a ser como antes.
- A gente precisa conversar. Vem comigo.
- Daniel, eu... isso é loucura.
- Eu não consigo parar de pensar em você.
- Não é certo! Você é casado e...
- Eu sei! Mas me diz que você não sentiu nada ontem. Não dá para esquecer. Vanessa, foi diferente de tudo!
E assim começou a nossa história.
As horas passavam voando quando a gente estava junto. Ele sempre dizia que nunca tinha sentido nada assim, que eu diferente, que eu baguncei tudo dentro dele. Ele chegava a chorar na minha frente e eu acreditava, óbvio. Até porque eu queria acreditar.
O encontros eram sempre apressados, onde desse, na hora que ele pudesse, mas eu via que cada vez ele se esforçava mais para ter tempo comigo. Tanto que ele até inventou uma viagem a trabalho para passar dois dias inteiros comigo.
- Se eu pudesse, eu te dava o mundo.
- Você pode, Daniel.
- É complicado... tem meus filhos, meus compromissos. Mas, Van, eu estou apaixonado por você. Eu só penso em você. É só uma questão de tempo. Você consegue ter paciência?
- Eu entendo...
- A gente ainda vai ser muito feliz, Van. Só espera um pouco.
E eu esperava. Deus sabe como eu esperava.
Ele falava sobre futuro, fazia planos, imaginava viagens, uma casa nossa, uma vida sem segredos. E eu me agarrava a cada palavra porque, quando a gente estava junto, nada mais me importava.
O mundo parecia besta e pequeno perto do que a gente sentia um pelo outro.
Mas depois... sempre vinha o depois.
E aí ele tinha que voltar para casa dele, para esposa dele, para a família dele. E eu ficava no vazio, sozinha. Esperando e esperando, mas também confiando no que ele dizia, porque era mais fácil me convencer de que ele me amava, do que encarar a verdade.
Eu nunca fui uma ameaça pro Daniel. Eu era, sim, a outra, mas eu não era aquele tipo de outra que ameaça, que faz cena, escândalo, que confronta... eu respeitava o casamento dele mais do que ele próprio e nunca mandava uma mensagem sequer, sem ter a certeza de que ele não estava com a família. Eu acreditava no amor dele e, por isso, eu aguardava pacientemente, como ele me pedia.
Três meses, oito meses, um ano, um ano e meio... e a vida continuava igual: nós cada vez mais apaixonados e eu, me contentando com caga migalha que ele me oferecia com a esperança de que hora ou outra, ele viria para não ir mais embora.
Foi depois de quase dois anos juntos que eu comecei a me sentir muito mal. Eu achei que fosse o estresse do trabalho, a onda de calor que estava fazendo na cidade há dias, uns problemas financeiros que eu estava enfrentando. Mas, quando parei para pensar direito, vi que aquilo poderia ser outra coisa. Enjoo, queda de pressão e, por fim, menstruação atrasada.
Nossa! A ideia me assustou, juro como assustou. Mas no fundo, um pensamento começou a tomar forma: "e se for isso? E se finalmente apareceu um motivo para o Daniel criar coragem e largar a esposa para ficar comigo?".
Eu comprei um teste de farmácia e, claro, fiz sozinha. Foram os minutos mais demorados da minha vida, mas quando o resultado apareceu, estavam ali os dois tracinhos me dizendo que eu estava mesmo grávida. Grávida do amor da minha vida. Os meus olhos encheram de lágrimas: era medo, preocupação, mas também muita esperança.
Pior que eu nem podia ligar para ele naquela hora, porque sabia que ele estava jantando com a família. Só no dia seguinte, antes de entrar no trabalho, a gente se encontrou no estacionamento.
- O que foi, Van? Você falou que precisava falar comigo...
- Eu estou grávida, Dani.
- Grávida? Mas como? Eu sou tão cuidadoso! Você tem certeza?
- Claro que eu tenho. Eu já fiz o teste. Daniel... é o nosso filho. É o fruto do nosso amor.
- Ah, que péssima hora para isso acontecer.
- E que hora seria bom? Eu não entendo... você sempre diz que quer ficar comigo, que só precisava de tempo pelos seus filhos. Bem, agora eu também tenho um filho seu aqui.
- Eu tenho uma família estruturada, Vanessa. A minha família é aquela. Mas, fica tranquila: eu não vou deixar faltar nada para você e essa criança.
Eu estava chocada! Eu tinha imaginado aquela cena mil vezes e em todas ele me abraçava, chorava, dizia que a gente ia ser feliz, mas de repente, ele só estava ali, falando como se fosse um pequeno problema que ele ia resolver com dinheiro. Parecia que eu tinha dado uma notícia qualquer, não que ele ia ser pai.
Eu não conseguia entender. Tudo bem, ele poderia estar nervoso pela situação, mas ele me amava. Ele dizia que me amava e agora, tinha motivo para viver comigo. Mas, ele não ia. Eu vi que ele não ia. No fundo, talvez, acho que eu sempre soube, mas eu precisava daquilo para cair na real.
A minha raiva foi tão grande que, pela primeira vez, eu perdi a compostura e o equilíbrio. Eu comecei a bater no Daniel e disse que a esposa dele ia saber de tudo, que eu ia contar tudo e acabar com a vida dele.
Eu fui embora espumando, mas a verdade é que eu nunca fui esse tipo de pessoa. Eu nunca teria coragem de me sujeitar a uma coisa assim. E para falar a verdade, eu nem precisei, porque no dia seguinte, foi ela, a esposa do Daniel quem veio me procurar.
Óbvio que eu sabia quem era ela. Já tinha visto mil fotos. Eu poderia reconhecer aquela mulher quilômetros de distância. Então, quando ela apareceu na minha porta, quase tive um ataque do coração. Ela linda, elegante, educada. Perguntou se poderia conversar comigo e eu, que ainda estava em choque, respondi que sim.
Eu não fazia ideia no que aquilo ia dar, mas eu nunca imaginaria que ela ia falar o que falou.
Ela sentou no meu sofá, segurou a minha mão como se fosse minha amiga e disse com muita calma – e um tom horrível de superioridade – que eu era uma bobinha, uma menina ingênua e que era só mais uma a acreditar no Daniel.
Ela falou que sempre soube de mim, assim como sempre soube de todas. "De todas". Ela me falou que o marido tinha várias amantes e que isso não era problema nenhum para ela, porque ela também tinha seus amantes.
Ela ainda disse (meu Deus do céu!) que o Daniel tinha outros dois filhos fora do casamento, perdidos por aí e que, assim como eles, ela não ia deixar que o meu passasse nenhuma necessidade.
Ela falou isso com uma naturalidade! Falou que o marido era inconsequente e irresponsável, mas que eu não precisava me preocupar, porque eles arcariam com tudo. Contanto que eu não desse dor de cabeça nem para ela, nem para a família dela.
Eu queria vomitar, gritar, chorar, expulsar aquela mulher da minha casa, mas eu não tinha forças para nada porque, no fundo, toda a raiva que eu estava sentindo não era por ela, mas por mim mesma. Eu não tive coragem de responder. Só fiquei ali, parada, olhando para aquela mulher que, em questão de minutos, desmoronou todas as ilusões que eu me agarrei por anos. Quando ela saiu, me deixando sozinha, me joguei no sofá e chorei até não ter mais lágrimas.
Eu queria odiar Daniel. Queria odiar aquela mulher fria e debochada. Mas, no fundo, só conseguia odiar a mim mesma. Porque eu aceitei. Eu aceitei ser a outra. Aceitei cada desculpa, cada promessa. Me submeti a essa história achando que, no fim, eu seria escolhida. Mas, nunca fui uma escolha. Eu fui só mais uma.
O tempo passou. O Daniel sumiu da minha vida, como era de se esperar. Meu nome rodou pela empresa, alguns me olharam com pena, outros com desprezo, mas ninguém se importava de verdade.
Eu pedi demissão pouco depois. Eu queria recomeçar, mas um tipo de marca ficou em mim. Uma cicatriz invisível que eu mesma causei. O bebê? Eu perdi com três meses de gestação.
Talvez tenha sido um castigo. Talvez tenha sido livramento. Eu não sei.
O que eu sei é que, por mais que eu quisesse culpar o destino, no final das contas, tudo o que aconteceu foi por minha causa. Eu entrei nessa história sabendo de tudo. Eu escolhi cada passo. E agora, eu pago o preço. Sozinha.