O Plínio conheceu a Fernanda por acaso em uma cafeteria e eles nunca mais se separaram. Os dois se casaram e tentaram ter filhos, mas depois de alguns exames, ela foi diagnosticada com leucemia. Plínio se entregou totalmente ao cuidado dela, pesquisando tratamentos e buscando alternativas, mas a doença só avançava. Fernanda, estava sempre sorrindo para encorajá-lo, mas começou a se cansar, até que... pediu para o Plinio para descansar. Ele, embora destruído, entendeu que era sua vez de deixá-la partir.
Dois dias depois, Fernanda partiu. Plínio ficou, com o coração despedaçado, mas está tentando seguir em frente com a lembrança de cada momento que viveu ao lado do seu amor verdadeiro. Leia abaixo, na integra, o Quem Ama Não Esquece desta quinta-feira, 06/3, da Band FM:
Se eu soubesse que o amor também se mede pelo tamanho da dor que ele deixa, eu teria pedido ao destino para ser menos feliz.
Se alguém me perguntasse qual era o sentido da vida, eu responderia sem hesitar: Fernanda.
Ela sempre foi minha resposta para tudo. Sempre foi o meu TUDO, para ser mais sincero. Desde o dia em que a gente se conheceu, quando ela me pediu um café sem açúcar porque, segundo ela, "a vida já era doce o suficiente", até o momento em que a gente decidiu aumentar a nossa família.
A gente se conheceu por acaso, em uma cafeteria, e ela, totalmente distraída, me pediu um café pensando que eu trabalhava no lugar. Eu achei graça e perguntei se era com açúcar, mas depois eu comecei a rir e ela entendeu a confusão. Que jeito para conhecer o amor da sua vida, né? Tão simples e tão especial.
Desde então, nunca mais existiu Plínio sem Fernanda. Ela entrou na minha vida para não sair mais. A gente costumava dizer que a gente já namorava desde o primeiro olhar e assim foi…
Em menos de seis meses, nós já estávamos morando juntos! A gente tinha uma rotina simples, mas cheia de amor. A Fê adorava acordar cedo e colocar uma música para dançar enquanto preparava o café. Eu fingia que reclamava, mas, na verdade, eu adorava acordar com aquele espetáculo. A Fernanda tinha o dom de fazer com que o mundo todo fosse sempre colorido.
Nosso casamento era feliz. Não perfeito, porque ninguém é. Mas era verdadeiro. E depois de alguns anos, a gente resolveu que era a hora de aumentar a família.
- Se for menina, Luísa, é claro.
- Luísa é bonito. Eu gosto!
- E se for menino?
- Plínio Junior, óbvio.
- Ah, que ótimo! Nosso filho já vai nascer com 40 anos.
Era uma piada. Ela vivia dizendo que queria um nome jovem e moderno e que o meu era fora de moda, mas, para irritar, eu continuava fingindo que queria colocar o meu nome na criança.
Como era gostoso viver com a Fernanda! A gente ria, brincava, fazia planos, ela sonhava alto e eu acompanhava.
Depois de um ano tentando engravidar sem conseguir, a gente resolveu procurar um médico, mas para ser sincero, nenhum de nós achou que tinha alguma coisa errada. A gente só quis mesmo ter a certeza de que estava tudo bem e que, na hora certa, o nosso filho viria. Afinal, nós dois éramos muito saudáveis. Ou pensávamos que sim... Mas quando a Fernanda fez os exames dela, algumas coisas começaram a parecer bastante estranhas.
Ela não estava preocupada com as alterações, mas eu... eu fiquei. Eu senti um aperto no meu coração que me dizia que tempos difíceis estavam chegando.
E realmente chegaram.
Depois de mais e mais exames, a minha mulher, no auge dos seus 33 anos, foi diagnosticada com leucemia. Enquanto o doutor falava, parecia que o mundo tinha parado. Ele falava, explicava os termos técnicos, mostrava números e gráficos, mas tudo o que eu conseguia ouvir era o som do meu coração.
A Fernanda, do meu lado, apertava a minha mão com força e, de algum jeito, mesmo sendo ela a dona do diagnóstico, ela parecia mais calma do que eu. Eu olhava para ela, e ela sorria, como se fosse só para me encorajar. Mas como? Como eu podia ter coragem? Eu estava apavorado!
Ela repetia que a gente iria enfrentar isso juntos, que tudo ia ficar bem, e eu queria acreditar que era só um probleminha besta, mas eu sabia que não era tão simples assim. Nós não perdemos nem um segundo. Os dias seguintes já foram uma avalanche de consulta, exame e internação para começar os tratamentos.
Eu me doei de corpo e alma e até pedi uma licença do trabalho para me dedicar 100% a ela. No começo, ela continuava sendo a mesma Fê de sempre, cheia de energia e tentando transformar tudo em algo leve…
- Pelo menos, eu não tenho mais que gastar dinheiro no salão.
- Fernanda...
- Ei, é só uma brincadeira.
- Eu não consigo ficar feliz de te ver assim.
- Poxa, eu tô tão feia assim careca?
- Você continua sendo a mulher mais linda do mundo. Eu queria pegar todo o seu sofrimento para mim. Toda dor, enjoo, tudo. Você não merece passar por isso.
- Calma, Plínio. Vai dar tudo certo....
Eu sorri, porque eu sabia que era isso que ela queria. Mas por dentro eu estava despedaçado.
Eu passei a viver para ela e cada segundo do meu dia era planejado para garantir que ela tivesse conforto, que não se sentisse sozinha e que soubesse que eu estava ali. E eu estava mesmo. Sempre.
Nos dias em que ela conseguia levantar da cama e nos dias em que tudo o que ela conseguia fazer era me olhar com aqueles olhos grandes, que já... que já não tinham o mesmo brilho de antes.
Eu nunca aceitei a ideia de perder a Fernanda. Eu nunca considerei essa possibilidade. Eu nunca quis acreditar que o amor da minha vida poderia me deixar. Desde o dia em que a gente recebeu aquele maldito diagnóstico, eu me recusei a aceitar qualquer coisa que não fosse a cura.
A gente tinha planos. A gente queria ter filhos. A gente ia encher a casa de risadas, de dança, de brigas por besteira... Não! Eu não podia, não queria e não ia conceber um futuro sem ela. E por isso eu era mesmo incansável.
Consultas, tratamentos, pesquisas de madrugada, até viagens para buscar uma segunda, terceira ou quarta opinião. Eu me tornei um verdadeiro especialista em leucemia sem nunca ter estudado medicina. Se eu via uma possibilidade, eu já infernizava os médicos perguntando porque não estavam tentando esse ou aquele remédio.
Enquanto isso, a Fernanda tentava continuar forte. Mesmo nos piores dias, ela sempre sorria pra mim. Sempre. E dizia que ia ficar tudo bem, mesmo quando todos os exames mostravam o contrário. Ela dizia porque ela tinha medo de me machucar. Eu sabia. Eu via como ela estava cansada daquela luta, mas eu não queria saber de desistir. Eu falava o tempo todo que ela iria vencer, que a gente iria conseguir.
Os dias viraram semanas, e as semanas viraram meses. Mas, a melhora que a gente esperava nunca veio. Ela continuava sorrindo, mas já não era o mesmo sorriso. Era um sorriso fraco, tentando esconder o que ela não tinha coragem de dizer.
Cada exame novo parecia uma sentença, cada consulta era um soco no estômago. Os médicos falavam em tentar outras abordagens, só que no fundo eu sabia… eu sabia que eles estavam ficando sem opções. Mas eu não aceitava isso.
Se um tratamento não funcionava, eu já corria atrás de outro. Se um médico dizia que as chances eram pequenas, eu buscava um que dissesse o contrário.
Eu passava o dia na internet pesquisando, vendo histórias de quem tinha vencido, entrava em contato com essas pessoas e até com médicos de fora do país eu tentei falar, mesmo sem ter dinheiro para nada daquilo.
Eu nem dormia mais. Eu só tinha um pensamento: Salvar a Fernanda. E ela… ela sofria.
Eu via como cada ciclo de tratamento sugava um pouco mais dela. O corpinho magro, os olhos fundos, a pele tão pálida e fina que parecia que iria rasgar. Eu sabia que doía. Eu via os tremores nas mãos dela quando achava que eu não estava olhando. Mas ela não reclamava. Nunca.
Ela continuava sorrindo pra mim.
Até que uma noite, depois de mais uma internação, eu sentei ao lado dela e comecei a falar sobre um estudo que estavam fazendo. Um negócio novo, mas que podia se tornar alguma coisa.
Era uma esperança, era alguma coisa em que a gente podia se agarrar, mas a Fernanda respirou fundo, me olhou de um jeito que eu nunca vou esquecer, pegou na minha mão, e falou aquilo que eu não estava e nunca estaria pronto para ouvir.
- Plínio...
- Eu sei que parece difícil, mas se a gente correr atrás, dá tempo de tentar. Eu já entrei em contato para me falarem mais e...
- Plínio, eu estou cansada.
- Amor, eu sei que tá difícil, mas...
- Eu estou cansada demais. Eu sei que você quer me salvar. Eu sei. Eu te agradeço demais por tudo o que você tem feito e eu sei que você faria tudo por mim. Mas eu não aguento mais.
- Não fala assim, Fê.
- Por favor, meu amor... Por favor, Me deixa descansar.
O mundo inteiro desabou. Eu tremi, senti o chão desaparecer sob meus pés e fiquei em silêncio, porque não existia resposta para aquilo. Como aceitar o fim quando eu só sabia lutar?
A dor me rasgou por dentro, queimou, esmagou cada pedaço de mim. Mas eu enxerguei... enxerguei que ela estava ali, presa, resistindo, não por ela, mas por mim. Segurando a própria dor só para não me ver desmoronar.
E foi aí que eu entendi. Era a minha vez. Minha vez de sentir, de carregar o peso, de aceitar que, por mais que doesse, eu precisava deixar que ela fosse.
Tinha chegado a hora de parar de ser egoísta. Eu não podia mais prolongar aquela tortura. Então, eu beijei a testa dela e menti. Menti prometendo que eu iria ficar bem, que ela podia ficar em paz e ir sem medo, porque eu ia dar conta. Eu não sabia se iria mesmo conseguir. Mas ela precisava acreditar.
Dois dias depois, a Fernanda dormiu e não acordou mais. E eu fiquei.
O sentido da minha vida se foi, levando meu ar, minha cor, minha paz, mas eu sigo aqui, juntando cacos, tentando aprender a respirar sem ela, tentando encontrar um novo caminho e carregando no meu peito cada riso, cada sonho e cada pedacinho da Fernanda que ficou dentro de mim, sabendo que pelo menos eu tive a honra e a sorte de viver um amor como poucos vivem.