No Paraná, amostras humanas de fezes coletadas na cidade de Guaratuba, no litoral, e enviadas ao Laboratório Central do Estado (Lacen) pela vigilância sanitária municipal, confirmaram que o surto de virose que atinge diversas cidades litorâneas foi provocado por norovírus. O resultado saiu nesta quinta-feira (16).
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) afirmou que o resultado de “apenas uma amostra não confirma o norovírus como causa” do surto no litoral. “A Sesa ressalta a importância dos municípios litorâneos enviarem uma quantidade maior de amostras humanas (fezes) para realização de exames e identificação do agente etiológico circulante na região”, disse em nota.
As noroviroses são um grupo de doenças de origem viral que são conhecidas como gastroenterite e normalmente são transmitidas por via fecal-oral. Os esgotos são os principais vetores do vírus.
A norovirose é uma doença que dura em média três dias, provocando sintomas como náusea, vômito, diarreia, dor abdominal e, algumas vezes, dores musculares, cansaço, dor de cabeça e febre baixa.
Desde dezembro, turistas e moradores de cidades do litoral paranaense, principalmente em Matinhos, Pontal do Paraná e Guaratuba, vem reclamando do aumento de casos de virose, principalmente após as festas de final de ano.
O município de Guaratuba foi o primeiro do litoral paranaense a enviar as amostras ao Lacen e é o único que tem um resultado até agora.
Ainda não se sabe o que causou a infecção. A Sanepar, companhia de saneamento estadual, confirmou que seis fossas transbordaram em Pontal do Paraná, por causa de fortes chuvas do início do ano. A companhia e o governo, no entanto, atribuem as condições impróprias das praias, principalmente, aos esgotos clandestinos e também a chuvas acima da média.
Prevenção
Para se prevenir contra viroses, orientam especialistas, a população deve procurar sempre lavar bem as mãos antes de preparar alimentos e ao se alimentar. Também é preciso evitar alimentos mal cozidos e evitar tomar banho de mar nas 24 horas seguintes à ocorrência de chuvas. A secretaria também explica que não devem ser consumidos gelos, raspadinhas, sacolés, sucos e água mineral de procedência desconhecida.
O tratamento consiste principalmente em hidratação. Para casos mais graves, é preciso realizar a hidratação endovenosa. A hospitalização em geral é muito rara, informou a secretaria.
Evacuações muito frequentes e líquidas, dificuldade na hidratação com vômitos que não cedem, pele e boca secas, dificuldade em urinar são indicações de que se deve procurar o serviço de saúde.
A Secretaria da Saúde ressalta que nenhum medicamento deve ser tomado sem conhecimento e indicação médica.
Álcool em gel
O norovírus é resistente ao álcool em gel por não possuir um envelope de gordura em sua camada externa, que é o principal alvo do produto.
“Pela estrutura externa não lipídica do norovírus, concentrações baixas de álcool não são efetivas. A questão de lavar as mãos funciona devido ao mecanismo físico, e não químico”, afirma o médico geneticista Salmo Raskin.
O infectologista Jaime Rocha, da Sociedade Brasileira de Infectologia, destaca que a principal forma de combate ao norovírus é higiene rígida. “Em alguns pontos do País foram identificados realmente vírus, principalmente da família dos norovírus, que tem realmente uma certa resistência a álcool na questão da higiene de mãos. Por isso que a higienização deveria ser feita com água e sabão”, explica o médico.
Antibióticos
A confirmação de que não há bactérias causadoras de gastroenterite nas amostras coletadas no Litoral do Paraná é importante para que os pacientes evitem os antibióticos, já que não são indicados para o norovírus, pois não são eficazes contra vírus, lembra o membro da Sociedade Brasileira de Infectologia.
“Confirma que não há necessidade realmente de antibióticos para tratamento da maioria desses casos. Não quer dizer todos os casos. As pessoas estão chamando de virose, mas gastroenterocolite, que são os casos de vômitos e diarreia, pode ter várias causas. Vírus é uma das principais causas, daí também entraria o nome virose. Bactérias foram descartadas como principal causa, ainda sobram os parasitas, toxinas e outras mais”, destaca.
O médico lembra que a hidratação é muito importante. “A hidratação, principalmente de crianças pequenas e idosos, é fundamental porque a questão da desidratação é o ponto mais forte que pode levar a complicações e óbito no caso de diarreia”, alerta.
“A maioria dos casos não há necessidade de procurar uma assistência médica direta, porque a grande maioria dos casos costumam ser leves e de fácil controle, mas quando surgem sinais de alerta, há necessidade sim de acompanhamento médico”, ressalta o infectologista Jaime Reis.
O tratamento do norovírus é de suporte, com foco na reidratação oral ou intravenosa.