Lucas Sanseverino é radialista e ator. Começou na TV Band Vale apresentando o Republica 103.9, projeto que por 4 anos foi exibido aos sábados. Desde 2012, apresenta o Falando Nisso, de segunda a sexta, trazendo assuntos do cotidiano. Aos sábados, desde 2020, comanda o programa Manhã na Band, com muita culinária e conversa em volta de uma mesa de café da manhã.
Uma agulha que cai no chão é como um estouro de uma bomba. Uma buzina no trânsito é o mesmo que uma torcida em coro gritando palavrão. A verdade é que nunca estivemos vivendo numa sociedade tão "tolerância zero". E se formos sinceros, veremos que fazemos parte dessa intolerância.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, cerca de 90% da população mundial sofre com o estresse. No nosso país, de acordo com a Associação Internacional do Controle do Estresse (ISMS), o Brasil é o segundo lugar no mundo com o maior nível de estresse.
Porque chegamos a esse ponto? Como "resetar" todos os dias o nosso coração e mente, para conseguir encontrar equilíbrio em todas as situações corriqueiras? Trouxe alguns questionamentos a psicóloga Renata Bueno que podem nos trazer uma direção.
LUCAS SANSEVERINO: Renata, a impressão é que a panela de pressão pode explodir a qualquer momento, e quando explode, acabamos nos prejudicando e ferindo pessoas a nossa volta, seja com atitudes ou palavras. Porque estamos tão estressados e no limite?
RENATA BUENO: Há pouco saímos de uma pandemia, momento de apreensão extrema e medo real,
O mundo há um bom tempo está globalizado e a velocidade das informações estão cada vez maiores.
Este cenário demanda do ser humano o mínimo de equilíbrio emocional e resiliência.
Imagina, com tanto stress e demanda reais e imaginárias (autocobrança), aqueles que não detém o mínimo de autoconhecimento acaba reagindo instintivamente, buscando prazer a curto prazo, sendo intolerantes a espera, a frustrações e assim reagem como se tudo fosse para atacar ou defender-se.
O tempo todo neste cenário de luta interna e externa, levando ao limite do stress.
LUCAS SANSEVERINO: Buzina no trânsito, palavras rispidas no trabalho, farpas em casa, porque estamos sempre no limite nas situações mais banais?
RENATA BUENO: Estas reações ditas “agressivas e violentas” resulta da profunda desconexão consigo mesmo.
Tem um autor muito conhecido por trabalhar com a comunicação não violenta (CNV), que é o Marshall Rosenberg que dizia que por detrás de toda agressividade existe uma necessidade não atendida, ou seja, aquele que “Buzinam no trânsito, tem palavras rispidas no trabalho, e soltam farpas em casa”, por desconexão consigo não percebem que escondem uma necessidade não atendida.
A medida que nos conhecemos e sabemos nosso limite e o que precisamos, automaticamente aprendemos a falar dos nossos sentimentos e a pedir de forma educada.
Este é um processo que resulta de muito autoconhecimento e autorresponsabilidade.
LUCAS SANSEVERINO: A internet 5G, o clicar e ir, nos tornou impacientes?
RENATA BUENO: Sim, e a quem se irrite até com a “lentidão” da internet.
Buscam uma velocidade que nada mais é do que o não estado de presença.
Sabe aquele prazer a curto prazo? Então, nem está sensação mais irá atender, porque está tudo no fora, no externo.
A medida que resgatamos o simples, o observar a natureza, nossas reações corporais, nosso mastigar do alimento, vamos percebendo que este “descontrole e ansiedade” só nos afasta de nós mesmos e daquilo que realmente importa : saúde física/mental/espiritual/emocional
Por isto o grande aumento de diagnósticos de ansiedade e depressão.
Querer atender um ritmo acelerado foge da natureza humana e quem tenta entrar neste ritmo inevitavelmente paga um preço alto: comprometimento da sua física, mental e relacional.
LUCAS SANSEVERINO: O que percebo que ao ter que fazer muito, acabo esquecendo de ser mais presente com quem está por perto, o urgente nos torna indelicados?
RENATA BUENO: O que nos torna indelicados é a falta de empatia. Lembrando de que ninguém da aquilo que não tem.
Se eu não me respeito, se acredito que tenho que atender o “status quo”, se fico voltado a expectativas alheias, como eu vou conseguir respeitar o outro ?
Lembre-se : atrás de uma pessoa agressiva tem sempre uma necessidade não atendida e está necessidade perpassa pela falta de autoconhecimento e consequente falta do autoamor.
LUCAS SANSEVERINO: Pessoas infelizes se escondem na impaciência?
RENATA BUENO: Pessoa infelizes transmite infelicidade, que pode ser através de comportamentos deprimidos ou mesmo agressivos.
A impaciência é a incompletude de si mesmo .
LUCAS SANSEVERINO: A pergunta de milhões: Como tornar a paciência um hábito?
RENATA BUENO: Primeiro praticando o exercício da autoconsciência e autopercepção.
Entre um estímulo e uma resposta deve haver um “pause”.
Sempre digo para os meus clientes impulsivos :
Quando algo saia do controle, primeiramente ao perceber que você não está no seu humor equilibrado é necessário:
- querer dar uma nova resposta, ou seja, não ser impulsivo;
-Depois saia do ambiente stressor, entre num banheiro, peça para sair, evite o confronto;
-Retorne após escolher uma resposta mais assertiva para a situação.
Normalmente está estratégia funciona.
LUCAS SANSEVERINO: Aquele conselho de vó de respirar fundo e contar até 10 funciona?
RENATA BUENO: Está técnica faz parte das estratégias de enfrentamento da situação conflitante.
Contar até 10 é realmente um recurso que estabiliza fisiologicamente a pessoa que está alterada, proporcionando o estado de autoconsciência e possibilitando tomar decisões mais sábias.