Há algumas semanas, deparei-me com um termo sueco que fez muito sentido para mim, tanto na vida pessoal quanto na profissional: "lagom". Na cultura sueca, "lagom" simboliza a virtude do equilíbrio — nem demais, nem de menos, mas exatamente na medida certa. Este princípio milenar pode transformar nossas estratégias de liderança e negociação de maneiras profundas e eficazes.
Acredita-se que deriva da expressão "laget om", que significa "ao redor da equipe" em sueco antigo, enfatizando o valor cultural sueco da moderação e da igualdade, encorajando um comportamento que considera o bem-estar do grupo, evitando excessos ou insuficiências. "Lagom" evoluiu para significar algo como "exatamente certo", "adequado", ou "o suficiente".
Outro dia conversei com um diretor de uma startup e ele compartilhou uma transformação significativa impulsionada pelo novo CEO. A cultura da empresa, historicamente marcada por longas horas de trabalho e alta pressão, começou a mudar. O CEO, adotando um estilo de liderança inspirado no "lagom", passou a enfatizar um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal.
Ele introduziu políticas que limitam horas extras e incentivam pausas regulares, com um foco renovado no bem-estar dos colaboradores. "A produtividade e o engajamento dos funcionários dispararam depois dessas decisões. As pessoas se sentem mais valorizadas e, por sua vez, mais comprometidas com a missão da empresa", explicou o diretor. Esta abordagem melhora tanto a satisfação dos funcionários, como fortalece a empresa como um todo.
Na negociação, "lagom" nos ensina o valor da moderação e da equidade. Por exemplo, numa recente negociação entre uma grande distribuidora e um fornecedor de matéria-prima, o princípio de "lagom" foi fundamental para alcançar um acordo mutuamente vantajoso. Em vez de pressionar por descontos máximos, o que poderia prejudicar a relação a longo prazo, os negociadores buscaram interesses e necessidades que fossem importantes para ambos os lados, garantindo preços, volumes, qualidade e entrega pontual que todos pudessem aceitar.
Este equilíbrio não apenas preservou a relação entre as duas empresas, mas também assegurou uma cadeia de suprimentos estável e confiável, mostrando como a equidade pode se transformar em uma vantagem competitiva duradoura.
Recentemente, em uma negociação de venda de um imóvel, um comprador e um vendedor encontraram-se num impasse sobre o preço. O vendedor inicialmente pediu um valor que superava o mercado, enquanto o comprador contraofertou com um preço significativamente mais baixo. Em vez de prosseguirem em um embate direto, ambos decidiram adotar uma abordagem "lagom". Isso significou sentar-se para conversar antes de negociar para entender e respeitar as necessidades e limites um do outro. O vendedor reconheceu a necessidade de vender a propriedade dentro de um prazo razoável, e o comprador entendeu a importância de investir em um imóvel que atendesse a todas as suas exigências. Eles acabaram concordando com um preço que, embora não fosse o ideal para nenhum dos lados, era justo e sustentável para ambos. Uma parte interessante é que o vendedor acabou sendo apresentado a outras pessoas do círculo do comprador, e o comprador conseguiu alguns upgrades que não estavam antes na conversa.
A liderança inspirada pelo "lagom" vai além de simplesmente manter um equilíbrio no ambiente de trabalho; ela infunde cada aspecto da gestão com a noção de justiça e adequação. Líderes que abraçam esse conceito sueco buscam constantemente a "medida certa" em suas decisões e ações. Isso significa avaliar cuidadosamente tanto as demandas da empresa quanto as necessidades de seus funcionários, buscando sempre um ponto de encontro que beneficie o coletivo.
Em uma prática de liderança "lagom", os gestores tornam-se adeptos de ouvir e responder de forma equitativa, garantindo que nenhum membro da equipe se sinta sobrecarregado ou subutilizado. Essa abordagem promove uma atmosfera de respeito mútuo e confiança, onde a comunicação aberta e honesta é valorizada.
"Lagom" nos desafia a pensar diferentemente sobre como equilibramos pressão e performance nas negociações. Para os líderes de grandes empresas e equipes, incorporar "lagom" pode significar a diferença entre um ambiente de trabalho estressante e um que é produtivo, justo e motivador.