Melhores (ou piores) momentos dos games em 2021

Uma lista com acontecimentos mais impactantes do ano, segundo profissionais do mercado de jogos

Eddy Venino - Equipe BANDx

Divulgação Studio Pixel Punk
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Studio Pixel Punk

Final do ano finalmente chegou! Que 2021 seja despachado e 2022 nos traga muita paz, amor e joguinhos bacanas!

Mas eu não poderia deixar esse ano passar batido, afinal, 2021 foi bem movimentado para os games. Então, resolvi chamar uma galera sensacional, que trabalha com jogos, para apontar os momentos mais marcantes do mercado de games para eles. Espero que gostem dessa pequena “retrospectiva” e que ela sirva para refletirmos sobre o que queremos para 2022 nos games.

Unsighted, um dos melhores jogos do ano

Com ótimas críticas em sites de games no mundo todo, Unsighted foi uma das gratas surpresas deste ano. Desenvolvido por Tiani e Fernanda Dias, do Studio Pixel Punk, esse jogo brasileiro deixou todos apaixonados por ele, tanto por suas mecânicas quanto pelo cuidado artístico. Críticos não pouparam elogios para essa obra que foi realizada por um time tão pequeno, e que mesmo com todas as dificuldades que isso acarreta, entregaram um dos jogos mais belos de 2021.

Acho que um jogo brasileiro e queer de tanta qualidade é um marco latino americano sempre. A Tiana e a Fernanda tinham que estar orgulhosas, porque o jogo é muito, muito bom”, compartilhou João Brant, desenvolvedor de Dandara.

"O melhor jogo do ano para mim, entre os que joguei, foi Unsighted. Estou com alguns AAA para fechar e alguns antigos que comprei e ainda não terminei, mas Unsighted tá me tirando o sono e quando consigo dormir, sonho com ele”, declarou Abrahão Amin, ou simplesmente Abe, streamer no canal Aberverso.

O retorno de Alex Kidd

Cada vez mais a indústria de games tem ressuscitado franquias amadas pelo público mas que pareciam relegadas ao passado. E Alex Kidd in Miracle World DX é um desses jogos que bate forte para os nostálgicos. Eu joguei e escrevi sobre o jogo aqui no BANDx. Ele ganhou artes lindas e fez muita gente ficar emocinada.

É perceptível o cuidado nesse remake, em replicar o que fez desse game um clássico da era 8-bits. Porém, nem tudo são flores, pois além de replicar o que funcionou, parece que os desenvolvedores também replicaram o que o faz um plataforma bastante difícil e impreciso. Mas isso não tira o mérito do jogo, que me arrancou algumas lágrimas ao final da aventura de Alex pelo reino de Radaxian”, disse Vinícius Rosa, responsável pelo site de games Salvando Nerd.

Discussões sociais nos games

Com a globalização, hoje temos modelos de mercado que são implementados por diversos setores para aumentar sua produção e consequentemente o seu lucro. No mercado de games, uma área relativamente nova dentro do entretenimento, a curva de crescimento foi assustadora, e hoje todos voltam os olhos para essa indústria bilionária.

Entretanto diversas questões são atropeladas ao se criar jogos. E esse ano muitas delas foram discutidas com afinco através de redes sociais e sites especializados no segmento. Não conseguiria nem citar todas, mas algumas como a ação judicial dos funcionários da Activision/Blizzard contra a empresa ou casos de racismo, homofobia, misoginia e preconceito por parte do próprio público por conteúdos dentro dos jogos, se destacam por mostrar como esse mercado tem amadurecido de uma maneira errada. Um dos casos se refere a Angrboda, uma personagem negra, que estará em God of War Ragnarok e sofreu hostilidade por parte dos fãs, por não considerarem que uma personagem de sua etnia poderia estar no game.

Me incomoda a hipocrisia do nerd ao criticar a personagem, pois o embranquecimento rola o tempo todo, inclusive com pessoas reais, o tempo inteiro, e eles não se opõem. Jesus continua lá, branco… e pior ainda, tentando enganar o pessoal, porque estariam prezando pela fidelidade histórica, pois se fosse real essa preocupação, o fato de ter um deus grego (Kratos) como pai de uma das maiores figuras da mitologia nórdica, iria incomodar bem mais. Parece nazista querendo enganar o povo, falando que tá usando a suástica como símbolo budista”, comenta Henry Lorenzatto, jornalista de games que tem debatido sobre pautas sociais nos jogos, tanto em sua produção como no impacto que eles tem na audiência, o que ele tem chamado de socio-gaming - que seria uma abordagem através de aspectos sociais para os jogos - com o qual o coletivo NOIZ (do qual eu faço parte) compactua.

Já a Activision/Blizzard acabou ganhando os noticiários por diversas acusações de abuso moral, sexual, comportamentos tóxicos e discriminatórios contra minorias, mas principalmente para com mulheres dentro do ambiente de trabalho. Isso acabou gerando uma grande comoção por parte dos funcionários, fãs da desenvolvedora e jornalistas, que não queriam mais ver esse tipo de situação acontecendo dentro das desenvolvedoras.

Em 20 de julho surgiu à tona um processo contra a Activision/Blizzard que revelou uma série de práticas de abusos internos na empresa que afetam até mesmo o CEO Bobby Kotick. A resposta da empresa tem sido desastrosa desde então, e mesmo que alguns nomes envolvidos nas denúncias tenham sido demitidos, a sensação de que um grande estúdio está chegando ao fim (e sangrando muito talento no processo) é bastante forte”, disse Felipe Gugelmin, jornalista e roteirista que já atuou em veículos de mídia como Tecmundo e Canaltech.

It Takes Two é o grande campeão!

The Game Awards é uma das mais populares premiações de jogos do mundo e acontece todo final de ano. Com exibição de diversos trailers de jogos inéditos e performances artísticas, o evento é grandioso, sem dúvida. Mas também é controverso. Muitos acham que o evento é mais propaganda (eu incluso) do que de fato uma premiação justa. Unsighted, que citei no início do texto, é um dos jogos que merecia estar na premiação, mas que nem foi cogitado, por não ser um jogo de uma grande produtora e estar localizado fora do “eixo” EUA/Japão/Europa.

Outra grande surpresa (boas para uns e nem tanto pra outros) foi a escolha de It Takes Two como o jogo do ano. Por ser um jogo com temática “mais infantil” muitos viraram os olhos quando o jogo abocanhou a maior premiação da noite. Mas o jogo não foi indicado à toa e tem diversos defensores e com certeza chama atenção pela jogabilidade cooperativa que acabou se tornando seu chamariz nesta pandemia, onde você poderia se divertir e viver uma aventura emocionante com alguém. Tudo o que precisávamos para passar por essa tempestade que tem sido esse ano para os brasileiros: união e amizade.

Jogar It Takes Two foi impactante pra mim, principalmente por nós ainda estarmos numa pandemia, não vendo os amigos. Ter tido algo tão legal e interessante pra compartilhar com um amigo que não via desde que tudo isso começou, me marcou demais. Tiveram outros jogos durante esses anos que até joguei junto, mas não com esse nível de surpresa, envolvimento e alegria, lembro que no final de cada dia que nós jogávamos junto ficava um sentimento ótimo”, comentou Marcia Effect, host do podcast Final Level Cast.

Existem outros diversos momentos que eu poderia citar aqui, mas irei fechar com esses, que pra mim agregam: representatividade, nostalgia, luta por direitos e a importância das relações, que são assuntos muito caros para mim e acredito que eu tenha dever de ajudar a espalhá-los. 

Foi um ano importante pra mim, porque tive a oportunidade de escrever para vocês aqui no BANDx. Espero que tenham gostado da nossa trajetória até aqui. Lhes desejo um ótimo final de ano e que venha 2022! Nos vemos ano que vem ;)

[ twitter @eddyvenino ]

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