Ronnie Lessa, ex-policial militar, concluiu nesta quarta-feira (10) o regime de observação na Penitenciária 1 "Dr. Tarcizo Leonce Pinheiro Cintra", uma unidade de segurança máxima localizada em Tremembé, no interior de São Paulo. A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) confirmou que Lessa continua na mesma cela de 9 m², isolado dos demais detentos.
Preso desde 2019, acusado de participar da execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, o ex-PM pode agora receber visitas. Lessa chegou à penitenciária na tarde de 20 de junho de 2024, após ser transferido da Penitenciária Federal de Campo Grande na manhã do mesmo dia. A transferência foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), atendendo a um pedido da defesa de Lessa.
Estadia marcada por “salve” do PCC
Uma facção criminosa já teria ordenado a morte de Ronnie Lessa. A informação foi confirmada pelo Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (Sifuspesp), que enviou ofícios a diversas autoridades, incluindo o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e o Secretário de Administração Penitenciária, Marcelo Streinfinger, solicitando a reavaliação da transferência de Ronnie Lessa para a Penitenciária 1 de Tremembé.
O pedido do sindicato baseia-se em denúncias recebidas que indicam um risco iminente de segurança tanto para Lessa quanto para os policiais penais e demais servidores da unidade. Segundo informações recebidas pelo Sifuspesp por e-mail, uma facção teria ordenado a execução de Lessa. A denúncia também menciona que o líder dessa facção na unidade solicitou sua transferência.
Pena em regime fechado
O acordo de delação firmado entre a Polícia Federal e Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, prevê o cumprimento total de pena de 18 anos em regime fechado, contados a partir da data de sua prisão.
Lessa está detido desde março de 2019, restando cumprir mais 13 anos para o fim do regime fechado. Após 2037, o ex-PM terá de cumprir mais dois anos em regime semiaberto e outros dez em livramento condicional. Seguindo o acordo e cumprindo as medidas de se apresentar à Justiça e não viajar, Lessa poderá ir para a liberdade total.
O termo de delação foi assinado pela Polícia Federal, Procuradoria-Geral da República e Ministério Público do Rio, além do próprio Lessa, em 16 de fevereiro de 2024. A delação pode ser suspensa caso se comprove que Ronnie Lessa mentiu ou omitiu provas durante as confissões.
Vida de Lessa na prisão
Durante o tempo na prisão, Lessa realizou diversos estudos e cursos, leu livros famosos e também chegou a desenvolver um quadro de depressão. Segundo apuração do Jornalismo da Band Vale, ele está escrevendo um livro dentro da penitenciária.
Depressão e leitura de romances
Lessa participou do Projeto Remição pela Leitura, no qual redigiu relatórios sobre obras literárias renomadas, incluindo romances como “A Culpa é das Estrelas” e “Querido John”. Confira a lista de alguns livros lidos por Lessa:
- “Vidas Secas”;
- “A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água”;
- “Tratado da Argumentação”;
- “Viciada em Feng Shui”;
- “A Volta por Cima”;
- “Querido John”;
- “A Culpa é das Estrelas”.
Além das leituras, Lessa fez cursos de agropecuária e espanhol, e concluiu formações como mecânico e auxiliar administrativo. De acordo com ele, pretende se tornar fazendeiro após o cumprimento da pena. Durante a apuração, realizada pelo jornalismo da Band Vale, constatou-se que ele faz leitura diária da Bíblia e mantém contato com a família através de cartas e visitas sociais.
Ronnie Lessa afirmou sentir um forte sentimento de injustiça, alegando não ter cometido o crime pelo qual foi condenado e nem participado de qualquer ato ilícito. Ele precisa de acompanhamento psicológico e psiquiátrico devido à depressão que desenvolveu. Em janeiro de 2021, foi relatado que Lessa estava deprimido, apresentando um discurso choroso, queixando-se de insônia e admitindo ter idealizado cometer suicídio. Ele mantém boa conduta carcerária.
Ficha corrida
Ronnie Lessa possui antecedentes criminais por tráfico internacional de armas de fogo, posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e homicídios qualificados. Ele é sargento reformado da Polícia Militar do estado do Rio de Janeiro (PMERJ), aposentado após um atentado em 2019, quando um artefato explosivo colocado embaixo do carro no qual estava explodiu, resultando na amputação da perna esquerda. Desde então, ele usa uma prótese.
Há indícios de que Lessa tenha ligações com grupos paramilitares (milícias) que atuam nas regiões de Gardênia Azul, Rio das Pedras, Musema e Itanhangá, em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro. Ele estaria vinculado a possíveis integrantes do "Escritório do Crime", organização criminosa envolvida em exploração imobiliária ilegal e grilagem. Além disso, Lessa estaria relacionado com a contravenção (jogos de azar) em várias localidades do Rio de Janeiro, incluindo Abolição, Estácio, Marechal Hermes, Bangu, Padre Miguel e Barra da Tijuca.
Em 12 de março de 2019, Ronnie Lessa foi preso por suposta participação na morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.