34% das capitais brasileiras não possuem delegacias especializadas em crimes digitais

De acordo com dados analisados pela Bandnews FM, vítimas de extorsão na internet têm dificuldades para registrar boletins de ocorrências contra criminosos

Central de Ouvintes Ricardo Boechat

34% das capitais brasileiras não possuem delegacias especializadas em crimes digitais Foto: Agência Brasil
34% das capitais brasileiras não possuem delegacias especializadas em crimes digitais
Foto: Agência Brasil

34% das capitais brasileiras não possuem delegacias especializadas em crimes digitais.

De acordo com dados analisados pela Bandnews FM, vítimas de extorsão na internet têm dificuldades para registrar boletins de ocorrências contra criminosos.

Cenas íntimas de nudez ou de pornografia em troca de dinheiro.

Criminosos têm usado a internet para ameaçar vítimas.

Esse homem, que teve a voz distorcida para preservar a sua identidade, já pagou 5 mil reais em duas semanas desde que começaram as ameaças.

“A gente abriu o bate-papo e me chamou para fazer sexo e trocar imagens. Quando enviei a minha foto, me pediram 20 mil reais para não publicar.”, conta

O chamado golpe de “sextorsão”, que consiste em extorquir a vítima em troca de dinheiro para não publicar imagens íntimas tem ganhado força nos últimos meses.

Cibercriminosos se aproximam para conquistar a confiança até que conseguem fotos pessoais.

Esse homem registrou um boletim de ocorrência online e outro físico.

Também está com um advogado e retirou o perfil nas redes sociais, ainda assim se sente inseguro.

“Não sei mais o que faço. Tenho medo de que divulguem minha foto”, afirma.

De acordo com a Avast, que faz a segurança digital de produtos de privacidade, em média 15 mil ataques de sextorsão ocorrem no Brasil por mês.

São e-mails enviados por golpistas pedindo dinheiro para não publicar materiais íntimos.

O Country Manager da companhia André Munhoz explica como proceder diante do recebimento dessas mensagens.

“É preciso ignorar esses e-mails, porque a maioria contém informações falsas”, explica Munhoz.

Uma das maiores dificuldades para investigar esse tipo de crime é a falta de delegacias especializadas em crimes digitais no país.

De acordo com dados analisados pela Bandnews FM, 34% das capitais brasileiras não possuem esse tipo de atendimento.

A Safernet, que atua na promoção e defesa dos Direitos Humanos na Internet no Brasil, aponta que das 26 cidades, apenas 17 tem atuação com equipes treinadas para esse tipo de investigação.

Para a diretora da associação Juliana Cunha, os desafios para encaminhar as denúncias fazem com que a maioria das vítimas desista de apresentar a queixa.

“Os dados são subnotificados, porque  muita gente desiste antes de fazer o b.o.”, afirma.

As denúncias de sextorsão podem ser feitas na delegacia mais próxima da residência da vítima.

No caso de compartilhamento e postagem de fotos e vídeos, é possível contatar o provedor onde o conteúdo foi encontrado e solicitar a exclusão.

Com a lei do Marco Civil da Internet, as empresas são obrigadas a retirar o material que viole a intimidade de seus usuários.

Nas redes sociais, também há espaço para denunciar um perfil ofensivo e depois bloqueá-lo.

A advogada do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR Kelli Angelini explica como são feitas essas apurações.

“A justiça e a polícia mandam descobrir a origem de onde partiram as mensagens para localizar essas mensagens”, conta.

Ainda não existe a previsão legal da sextorsão no Código Penal devido à recente configuração da troca e vazamento de fotos íntimas não consensuais pela internet.

Para o crime de compartilhamento de imagens não autorizado a reclusão vai de um a cinco anos.

Durante o processo de denúncia e investigação, os especialistas consultados pela BandNews FM são unânimes em defender apoio psicológico às vítimas neste período.

Algumas ONGs como a Safernet Brasil oferecem especialistas que ajudam neste sentido.