BandNews FM

60 anos do golpe militar no Brasil: como o rádio fez parte da resistência

BandNews FM relembra censura da imprensa e a força do meio de comunicação mesmo com restrições

Marina Fornazieri e Maria Cecília Dallal

Há 40 anos, mais de 300 mil pessoas se reuniam em comício pelo voto direto no centro de SP
Há 40 anos, mais de 300 mil pessoas se reuniam em comício pelo voto direto no centro de SP
CSBH/FPA

Em 31 de março de 1964, o então presidente do Brasil, João Goulart, popularmente conhecido como Jango, foi deposto. O acontecimento marcou o início de um regime ditatorial militar que perduraria por mais de 20 anos e que teve uma estrutura dedicada à censura da imprensa, tortura, mortes e desaparecimento de civis e opositores políticos.

Como um dos meios de comunicação de maior alcance nacional, o rádio foi veículo de resistência, com transmissão de radionovelas, jornalismo, notícias policiais e programas musicais, mesmo com as limitações.

As ondas radiofônicas tiveram papel importante na troca de informações. Nas prisões, por exemplo, as rádios estrangeiras eram um caminho para obter atualizações que não passavam pelo restrito crivo militar.

O ex-preso político e diretor administrativo do Núcleo de Preservação da Memória Política, Maurice Politi, conta que, entre prisioneiros, o uso do rádio de ondas curtas de outros países, como Argentina, Cuba e Estados Unidos, era comum para que os presos estivessem a par das notícias censuradas no Brasil.

O jornalista e diretor do Centro de Documentação e Memória da Rádio Bandeirantes, Milton Parron, conta como a censura na época afetou o trabalho jornalístico:

Apesar do impedimento, o rádio se manteve relevante como um meio para divulgar atos contra o regime militar. Isso inclui a campanha pelas "Diretas Já", movimento essencial para a retomada das eleições, como conta Milton Parron:

Para além das notícias, o rádio também foi um meio de resistência cultural.

A professora do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora Tatyana de Amaral Maya destaca que as chamadas “músicas de protesto” favoreciam as críticas ao sistema.

Isso só era possível depois da análise dos censores, funcionários que recebiam produções artística, jornalísticas ou de entretenimento que seriam veiculados nas rádios.

Canções como "Apesar de Você", de Chico Buarque, e "Pra não dizer que não falei das flores", de Geraldo Vandré, são alguns dos exemplos do combate ao regime da época.

Segundo a professora Tatyana, a imprensa foi essencial para denunciar violações dos direitos humanos. 

O rádio também foi utilizado em favor do regime militar, principalmente a partir do programa Hora do Brasil. A atração nacional foi criada no governo de Getúlio Vargas e, hoje, é chamada de Voz do Brasil.

Tópicos relacionados