As investigações da Polícia Federal sobre a chamada "Abin Paralela", esquema ilegal de espionagem que funcionou dentro da Agência Brasileira de Inteligência durante o governo Bolsonaro, apontam que todos os envolvidos tinham funcões bem definidas no grupo que usou a estrutura do órgão para espionar adversários políticos do ex-presidente.
Eram quatro núcleos e cada um deles tinha uma responsabilidade específica:
- Núcleo da Alta Gestão: composta por delegados da PF em cargos mais altos, que identificavam potenciais alvos entre os desafetos do ex-presidente Jair Bolsonaro.
- Núcleo dos subordinados: composto por policiais federais, esse grupo cumpria determinações da Alta Gestão, monitorando os alvos e produzindo relatórios.
- Núcleo Evento Portaria 157: grupo tinha o objetivo de vincular, sem fundamento, parlamentares e ministros do Supremo à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
- Núcleo Tratamento de 'Logs': responsável pelo tratamento dos dados gerados pelo sistema First Mile (software espião israelense) e daqueles gerados a partir de celulares e computadores das vítimas da espionagem ilegal.
Nesta quinta-feira (09), a PF prendeu cinco envolvidos em mais fase da operação que apura uso da Agência Brasileira de Inteligência para monitorar autoridades e desafetos políticos do ex-presidente.
Entre os detidos estão um militar, um agente da PF, um empresário e um ex-assessor da Secretaria de Comunicação Social.
De acordo com as investigações, a organização criminosa teria usado um sistema adquirido pela Abin para espionar políticos, integrantes do Supremo Tribunal Federal e até mesmo jornalistas. Entre eles, estão:
Poder Judiciário:
- Luís Roberto Barroso, presidente do STF
- Alexandre de Moraes, ministro do STF
- Dias Toffoli, ministro do STF
- Luiz Fux, ministro do STF
Poder Legislativo:
- Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados
- Rodrigo Maia (PSDB-RJ), ex-presidente da Câmara dos Deputados
- Kim Kataguiri (União-SP), deputado federal
- Joice Hasselmann (Podemos-SP), deputada federal
- Alessandro Vieira (MDB-SE), senador
- Omar Aziz (MDB-AM), senador
- Renan Calheiros (MDB-AL), senador
- Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), senador
Poder Executivo
- João Doria (sem partido), ex-governador de São PauloHugo Ferreira Netto Loss, servidor do Ibama
- Roberto Cabral Borges, servidor do Ibama
- Christiano José Paes Leme Botelho, auditor da Receita Federal
- Cleber Homen da Silva, auditor da Receita Federal
- José Pereira de Barros Neto, auditor da Receita Federal
Jornalistas
- Mônica Bergamo
- Vera Magalhães
- Luiza Alves Bandeira
- Pedro Cesar Batista.
E haveria ainda a intenção de monitorar o âncora de "O É da Coisa", da BandNews FM, Reinaldo Azevedo.
Segundo a PF, todos foram alvos do chamado "gabinete do ódio", instalado no governo Jair Bolsonaro e que criava perfis falsos para a divulgação de notícias falsas.
Havia ainda um grupo batizado de 'grupo dos malucos', utilizado para atacar as autoridades.