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Brasil registra quase dois mil casos de trabalho análogo à escravidão

Número aponta uma alta de 71% em 2021

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Minas Gerais lidera o ranking, com 758 registros.
Minas Gerais lidera o ranking, com 758 registros.
Foto: Divulgação/MPT

Cinco pessoas são resgatadas, por dia, no Brasil, em condições de trabalho análogo à escravidão. Segundo o Ministério Público do Trabalho, em 2021, 1.937 casos, uma alta de 71% em relação a 2019, antes da pandemia.

Minas Gerais lidera o ranking, com 758 registros, mais que o dobro do apontado em Goiás, que aparece em seguida, com 358. São Paulo é o terceiro com 147 casos.

Já a Bahia, em 2021, teve 69 ocorrências, dentre as quais 60 delas só na capital, e ocupa a oitava colocação.

Um dos casos foi de Dona Valdeci de Jesus, de 48 anos. Ela é uma mulher negra retinta e foi resgatada em Salvador, no ano passado, após 30 anos sem receber o devido salário e ter a carteira assinada. Valdeci trabalhava como cuidadora de três irmãs idosas desde os 15 anos, sem férias nem folga no fim de semana.

Moradora de Feira de Santana, no centro norte baiano, dona Valdeci não tinha parentes por perto, já que a mãe morreu logo após ela se mudar para a capital baiana. Em 2015, tomou coragem e resolveu denunciar. Porém , só em 2021 conseguiu ser atendida.  

Lys Sobral, coordenadora de combate ao trabalho escravo do MPT nacional, conta que houve mais denúncias durante a pandemia. As queixas podem ser anônimas e chegam, principalmente, pela disque 100. Logo após o resgate, as pessoas têm direito a receber três meses de seguro desemprego emergencialmente.

Mesmo com o aumento de denúncias, há ainda um outro grave problema: a subnotificação. Segundo Creuza Maria Oliveira, presidente do Sindicato das Empregadas Domésticas da Bahia, muitos outros casos sequer chegam ao conhecimento das autoridades.

A ativista também foi vítima de exloração pelos patrões e trabalhou dos dez ao cinquenta anos em funções domésticas. Hoje, com 64 anos, ela só conseguiu conquistar a aposentadoria depois de muita luta.

Outro elemento que reforça as práticas escravagistas até hoje é o minúsculo quarto conhecido como "o de empregada", como afirma o arquiteto João Gabriel Silva Santos. Um projeto de lei, em Salvador, aguarda sanção da Prefeitura e pretende impedir que elevadores continuem segregando funcionários de moradores com a justificava de separar o equipamento social do de serviço.

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