A Polícia Federal (PF) entregou aos cuidados do Memorial dos Povos Indígenas, de Brasília, um conjunto de quase 9 mil objetos indígenas que estavam armazenados em um depósito da corporação desde maio de 2004.
Após permanecerem por mais de 17 anos lacradas em caixas de isopor guardadas na Superintendência da PF no Distrito Federal, as quase 8,7 mil peças indígenas passarão a integrar o acervo do museu e centro cultural criado para preservar, expor e promover a pesquisa sobre a diversidade e riqueza cultural indígena do Brasil.
Entre os objetos entregues ontem (3) há exemplares de arcos, flechas, ornamentos, cocares entre outros objetos – alguns, de grande valor artístico, cultural, histórico e sociológico, conforme apontou, em nota, o coordenador das diretorias da Subsecretaria do Patrimônio Cultural do Distrito Federal, Felipe Ramón.
“Podemos citar, por exemplo, pentes confeccionados pelos karajás e cocares feitos pelos kayapós, além de adereços corporais raros e objetos com penas de animais em risco de extinção”, citou Ramón, atribuindo valor monetário “incalculável” ao acervo. “Mas o valor monetário não é a única riqueza: ali estão representações de saberes tradicionais e modos de vida de vários povos. O valor cultural, artístico e histórico também é enorme.”
Os objetos foram todos apreendidos durante a Operação Pindorama, que a PF deflagrou em maio de 2004, para apurar a suspeita de contrabando internacional de artesanato indígena.
Ao menos 11 servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) foram investigados pela PF, que apurava o eventual emprego de índios de Mato Grosso, do Pará e de Rondônia na suposta venda ilegal de peças artesanais para o mercado externo. Feitas com produtos de origem animal, como cascos de tartarugas, penas de aves e dentes de macacos e de onças, as obras seriam vendidas principalmente a consumidores dos Estados Unidos e da Europa, onde colecionadores se dispõem a pagar grandes quantias por um único item. Segundo informação processual obtida pela Agência Brasília, do governo do Distrito Federal, os crimes prescreveram sem que ninguém fosse condenado.
Procedentes de diferentes povos indígenas, os artefatos entregues ao Memorial serão higienizados, identificados e, quando necessário, restaurados. “Apesar do tempo, há peças muito bem conservadas. Elas estavam em caixas de isopor lacradas e, assim, não sofreram com a ação do sol e da poeira”, comentou, na mesma nota do governo do Distrito Federal, a gerente de acervos da Subsecretaria do Patrimônio Cultural, Aline Ferrari, explicando que parte do material danificado poderá ser usada no restauro de outras peças já existentes no acervo do museu. “Esse material todo é de origem animal e vegetal, muito sensível. Então, ter um banco de peças de reposição é fundamental.”