A vida de goleira não é fácil e a Karen sabe muito bem disso. Arqueira do Minas Brasília e atualmente com a seleção brasileira na Austrália, a paulistana seguiu os passos do pai ao preferir ficar embaixo das traves. Por isso, tem que aguentar as cobranças em casa do seu Sydney.
"Ele é o maior corneteiro de todos. Ele não passa a mão. Se eu falhei, ele já pergunta o que aconteceu no lance, por que eu não saí. Quando eu faço um jogo bom e o time perde, ele fala ‘você fez o seu melhor, o time não ajudou, mas tem um gol ali que vc poderia ter evitado’”, conta.
Karen, hoje com 28 anos, começou a carreira na verdade no futsal, como hobbie, sem pretensão de ir para o campo ou viver do futebol. A oportunidade, porém, surgiu na Portuguesa. Sem candidatas para o gol, ela conseguiu passar na peneira quando estava para completar 18 anos.
“Fiz o teste e acabei ficando porque no primeiro momento não tinha goleira com porte alto. Foi tudo bem rápido, quando eu vi já estava iniciando a carreira profissional, estreando no Paulista, jogando contra meninas de seleção, mudou da noite para o dia. Eu me aperfeiçoei, corri atrás, tentei tirar alguns vícios do futsal, mas não tirei todos porque alguns me convêm ainda”, explica.
Depois de uma boa temporada no Osasco Audax, em 2019, ela foi para o Palmeiras no ano passado, mas só fez três partidas. Este ano, no Minas Brasília, ganhou sequência e chamou a atenção da técnica Pia Sundhage. “Para a goleira é sempre mais difícil, porque é uma oportunidade em 100. Quando abriu essa possibilidade, esse leque, confesso que o coração disparou. Pensei ‘realmente a Pia chegou fazendo diferente, está dando oportunidade para as goleiras mostrarem seu trabalho’. Isso é legal, está havendo renovação de fato. Só faz com que a gente trabalhe cada vez mais.”
A goleira ficou sabendo da convocação em um momento de lazer. “A melhor notícia da minha vida até o momento. Eu estava na praça tomando açaí, era um domingo à noite. A Nayeri (Diretora de Futebol e Futsal Feminino) me ligou e disse que tinha uma boa notícia, falou que eu havia sido convocada. Meu coração disparou, não sabia como reagir ou agradecer. Só sabia chorar, queria ligar para os meus pais. Foi um misto de emoções. Quando eu liguei para os meus pais, minha mãe achou que era notícia ruim. Quando eu contei, eles começaram a chorar de alegria comigo. Não tem nem como descrever”, lembra.
Karen tem contrato com o time brasiliense até o fim desta temporada e dará prioridade para o clube por renovação.
A goleira acredita, porém, que esse período com a seleção brasileira na Austrália poderá dar visibilidade ao trabalho dela.