A CPI da Pandemia recebe nesta quarta-feira (30) o empresário Carlos Wizard, apontado como participante do gabinete paralelo da Saúde, responsável por aconselhar o presidente sobre o uso de cloroquina, ineficaz contra a Covid-19, e advogar contra vacinas. Wizard chegou a ser indicado para um cargo no Ministério da Saúde, mas desistiu após críticas. Os senadores também devem votar novos requerimento que ajudem na investigação sobre a compra de vacinas pelo governo. Há suspeitas de irregularidades no contrato da Covaxin e o pedido de propina na oferta de doses da AstraZeneca.
Wizard deveria ser ouvido no dia 17 de junho, mas não compareceu alegando estar nos Estados Unidos. Os advogados do empresário procuraram a CPI para marcar uma nova data após os senadores recorrerem ao Supremo Tribunal Federal pedindo a condução coercitiva de Wizard para prestar depoimento e a apreensão do passaporte dele assim que retornasse ao Brasil.
Carlos Wizard é suspeito de participar do chamado gabinete paralelo da Saúde, estrutura extraoficial que teria atuado no aconselhamento do presidente durante a pandemia. O grupo é criticado por seguir visões sem o embasamento da ciência.
Ao retornar ao Brasil, na última segunda-feira (28), o empresário teve o passaporte retido pela Polícia Federal do Aeroporto de Campinas. Wizard tem o respaldo de um habeas corpus do ministro do Supremo Tribunal Federal Luis Roberto Barroso para permanecer em silêncio na comissão e não se autoincriminar na resposta das perguntas dos senadores.
Apoiador do governo Bolsonaro, defensor de teses sem eficácia científica como o “tratamento precoce” e a imunidade de rebanho, Carlos Wizard já teve aprovado pela CPI a quebra de sigilo fiscal, bancário, telefônico e telemático (sobre o envio de mensagens).
INVESTIGAÇÃO SOBRE COMPRA DE VACINAS
A importância do depoimento do empresário Carlos Wizard perdeu força após as revelações de suspeitas no contrato de compra da vacina indiana Covaxin e o pedido de propina por parte de um membro do Ministério da Saúde a um vendedor de vacinas da AstraZeneca.
Por isso, nesta quarta-feira (30), os senadores devem votar a convocação do representante da Davati Medical Supply, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, para ser ouvido como testemunhas na sexta-feira (2). Ele afirmou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que o diretor de Logística Roberto Ferreira Dias solicitou propina de US$ 1 por dose de 400 milhões ofertadas ao Ministério da Saúde. O servidor foi afastado pela pasta.
Ferreira Dias seria uma indicação do deputado Ricardo Barros, do Progressistas do Paraná e líder do governo na Câmara. O parlamentar nega relação com indicações no Ministério da Saúde e diz não ter participado da compra da vacina Covaxin.
O ministério fechou contrato de R$ 1,6 bilhão para a compra de 20 milhões de doses do imunizante que ainda não tem autorização dos órgão de controle e nem sequer estudo de eficácia tinha sido publicado até segunda-feira (28). Há suspeitas de direcionamento do acordo com a Precisa Medicamentos, que representa o laboratório indiano responsável pela vacina.
O nome de Barros teria surgido durante uma conversa entre os irmãos Miranda, que estiveram no Palácio da Alvorada para denunciar suspeitas de irregularidades ao presidente Jair Bolsonaro. Luís Miranda é deputado pelo Democratas do Distrito Federal e tem um irmão servidor do Ministério da Saúde. Embora Bolsonaro tenha tido que investigaria a compra, a Polícia Federal não foi acionada.
Ricardo Barros teria concordado em comparecer ao Senado, mas por ter mandato, pode apenas ser convidado e não convocado.
A CPI tem ainda que votar mais de 60 requerimentos para aprofundar as investigações. São ao menos 18 pedidos para ouvir novas testemunhas.
A comissão ainda precisa definir o calendário do fim da semana e da próxima, que ainda não estão completamente confirmados. Existe a esperança de ouvir o sócio da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiliano, que voltou da Índia e faz quarentena obrigatória, além do assessor de assuntos internacionais da presidente Filipe Martins.