A CPI da Pandemia se prepara para votar nesta quarta-feira (30) a convocação de novas testemunhas para falar sobre a compra de vacinas contra a Covid-19 pelo Ministério da Saúde. O representante da Davati Medical Supply, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, deve ser convocado para prestar esclarecimento já na próxima sexta-feira (02). Ele afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo que foi cobrado pelo diretor de Logística Roberto Ferreira Dias o pagamento de propina para a venda de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca. O negócio não se concretizou após a negativa da negociação com escusa.
O senador Omar Aziz, presidente da CPI, anunciou a convocação do empresário pelo Twitter ainda na noite desta terça-feira (29). Ele considerou a denúncia como “forte”.
Horas após a publicação da reportagem, os senadores Randolfe Rodrigues, vice-presidente da CPI, e Alessandro Vieira protocolaram o pedido de convocação do vendedor de vacinar.
Dominguetti Pereira afirma ter se encontrado com Roberto Ferreira Dias, então diretor de Logística do Ministério da Saúde, no dia 25 de fevereiro, em um restaurante de Brasília. Na conversa, que foi acompanhada por um militar e um outro servidor da pasta, Ferreira Dias teria solicitado propina de US$ 1 por dose. Com a discordância por parte do representante da empresa, o negócio não foi adiante.
Roberto Ferreira Dias teve a exoneração publicada no Diário Oficial nesta quarta-feira (30). O nome dele já tinha sido envolvido nas negociações suspeitas sobre a compra das vacinas indianas Covaxin.
Outro requerimento para ouvir o deputado federal Ricardo Barros deve ser votado nesta quarta-feira (30). Por ser um parlamentar com mandato, o político do Progressistas do Paraná deve ser convidado a depor. Barros foi citado pela colega Luís Miranda como sendo o padrinho político de servidores do Ministério da Saúde e por ter envolvimento nas suspeitas de irregularidades no contrato da Covaxin. Ricardo Barros, que é líder do governo na Câmara, nega qualquer participação nos atos investigados pela CPI.
O parlamentar afirmou que irá à CPI no Senado. A expectativa é que ele seja ouvido ainda nesta semana, ou no mais tardar na próxima semana.
DEPUTADO LIGADO A LOBISTA
O senador Alessandro Vieira, que é um dos autores do pedido que levou à abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito, protocolou pedido para ouvir o deputado federal Luís Miranda em sessão secreta da CPI. O pedido ainda precisa ser votado pelos membros da comissão.
O deputado do Democratas do Distrito Federal é irmão do servidor do Ministério da Saúde que afirmou ter sofrido pressão para liberar a compra da vacina Covaxin, mesmo com irregularidades.
A revista Crusoé divulgou que Luís Miranda esteve com o empresário Silvio Assis, conhecido lobista de Brasília, e com o deputado Ricardo Barros. Na reunião, teria sido oferecido o pagamento de propina para o parlamentar do DF convencer o irmão, que atuava na diretoria de importação do Ministério da Saúde, a liberar a compra de 20 milhões de doses da Covaxin.
Segundo a revista, foi oferecido o pagamento de valores indevidos que totalizavam R$ 6 milhões. O deputado também teria ouvido promessas de facilidades na campanha de 2022 para buscar a reeleição ao Congresso.
Luís Miranda e o irmão, Luís Ricardo Miranda, estiveram na CPI na última sexta-feira (25), mas não citaram qualquer reunião com o lobista. No entanto, o parlamentar citou que ao levar a denúncia de suspeitas no contrato da Covaxin ao presidente Jair Bolsonaro, no dia 20 de março, ouvir o nome de Ricardo Barros como sendo o responsável pela falcatrua denunciada.
O Ministério da Saúde nega irregularidade nos contrato com a Covaxin, representada no Brasil pela Precisa Medicamentos. O contrato para a compra do imunizante é o mais caro firmado pelo Ministério e envolveria o pagamento de R$ 1,6 bilhão. A pasta suspendeu o contrato, mesmo afirmando não haver suspeitas, após recomendação da Controladoria-Geral da União.