Instituições de cursos de Medicina do Brasil sofrem com a escassez de cadáveres para ensino e para pesquisa, de acordo com levantamento feito pela BBC NEWS Brasil.
O professor de Anatomia na Universidade Federal do Ceará (UFC) Erivan Façanha levantou um questionamento que evidencia a gravidade do problema: "Você prefere ser operado por um médico que dissecou um cadáver ou por aquele que apenas estudou em peças sintéticas?"
O levantamento procurou 30 Universidades públicas que fazem parte do ranking mais recente do Universitário da Folha 2019.
Esse ranking foi escolhido por avaliar as instituições de forma mais ampla, com base em cinco aspectos: pesquisa, ensino, mercado, internacionalização e inovação.
Ao todo, 26 universidades responderam à pesquisa que levava em consideração se cadáveres são usados nas aulas, de qual forma e se há exemplares suficientes.
Desses, 17 afirmaram que sofrem com a falta de cadáveres para estudo e para pesquisa e duas instituições destacaram que a quantidade de cadáveres é suficiente.
Outras sete relataram que não têm esse problema porque ainda estão montando um programa de anatomia ou porque a própria instituição não teria condições de mantê-los em boas condições para uso.
De acordo com a pesquisa, as universidades ainda relataram falta de estrutura para preservar os cadáveres e, principalmente, a baixa doação por parte da sociedade.
Segundo o professor de anatomia humana da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Kennedy Martinez, os alunos estão buscando outras alternativas fora do país para conseguir ter essas aulas. “Estados Unidos e Canadá são alguns dos destinos mais procurados", afirmou.
O professor do departamento de Medicina da Universidade Federal de Lavras (UFLA) Daniel Martinez Sae afirmou que a falta de cadáveres acontece devido às novas tecnologias ajudarem na identificação de corpos por parte dos familiares.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, o Serviço Funerário do Município e o Instituto Médico Legal (IML) enviam uma lista de corpos não identificados ao Diário Oficial, que pode ser consultado pela internet.
Outro ponto, segundo o Sae, o que leva ao uso menos frequente desses cadáveres, é a questão burocrática. Dessa forma, dificulta a liberação para as universidades e, se tratando de cadáveres, o tempo é fundamental.