Os bombardeios de Israel direcionados a Faixa de Gaza, território palestino, continuam sem previsão de cessar-fogo.
Israel tem como alvo os grupos Hamas e Jihad Islâmica.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou que as ofensivas devem continuar para “reduzir suas capacidades, seus recursos terroristas e diminuir sua determinação”.
Segundo ele, os grupos “ainda têm foguetes suficientes para disparar”.
Nesta quarta-feira (19), os ataques Israelenses se intensificaram, atingindo os setores de Khan Yunes e Rafah.
O chefe do governo disse estudar duas opções para o desfecho da situação:
“Seguir até o fim, que ainda é uma possibilidade, ou a dissuasão. E atualmente estamos imersos em uma dissuasão firme”.
Um projeto de resolução foi apresentado ao Conselho de Segurança da ONU pela França.
Autoridades internacionais intensificam os pedidos de cessar-fogo, mas sem sucesso.
Entenda o conflito
O número total de mortos em Gaza chega a 219, incluindo 63 crianças, de acordo com o Ministério da Saúde controlado pelo Hamas.
Do lado Israelense, 12 pessoas, entre as quais duas crianças, foram mortas em disparos de foguetes pelo grupo Hamas, que hoje controla Gaza.
Como justificar a morte de tantos civis nesta nova escalada de violência?
Porta-voz das Forças de Defesa de Israel, o major Roni Kaplan diz que as baixas civis não são intencionais e que as ações miravam um sistema de túneis usado pelo Hamas.
Além disso, ele justifica que o grupo militante que atua na faixa de gaza usa civis como escudo em suas ações.
“As Forças Armadas de Israel precisam fazer mais esforços para diminuir as vítimas civis na Faixa de Gaza. Mas é muito difícil lutar quando o Hamas opera no meio da população civil e em áreas povoadas dentro das casas das pessoas”.
Já a professora de História Árabe da Universidade de São Paulo Arlene Clemesha pontua que é difícil falar em simetria em um confronto como esse.
Segundo ela, o que acontece no território palestino é um bombardeio enorme, desproporcional, brutal que estamos vendo acontecer contra famílias inteiras que estão sendo devastadas.
“Prédios caindo inteiros, pessoas indo dormir sem saber se vão acordar no próximo dia, é uma situação muito desproporcional por um lado e, por outro, parece que tudo que as lideranças mundiais sabem dizer é - Israel tem direito de se defender”.
Como o conflito de 2021 iniciou
Para entender como a região chega a esse momento, é preciso falar de uma convergência de datas religiosas, políticas, judicias e até vacinal.
As tensões começaram no início do Ramadã, ainda em abril.
Esse é o mês sagrado para os muçulmanos.
Só que, neste ano, a polícia israelense ergueu barricadas e restringiu o acesso à Mesquita de Al-Aqsa, terceiro local mais sagrado do mundo muçulmano, onde há 10 mil moradores da Cisjordânia com o certificado das duas doses da vacina.
Acontece que somente 1% da população palestina foi imunizada até agora.
Na sequência, chegou à Suprema Corte de Israel o recurso sobre a ordem de despejo de seis famílias palestinas do bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental.
Esse despejo é fundamental para compreender o confronto:
Na guerra que se seguiu à proclamação do Estado de Israel, em 1948, esse lado da cidade ficou sob controle da Jordânia.
As famílias palestinas expulsas de suas casas em Israel se mudaram para as áreas sob controle do Egito e da Jordânia.
Só que, na Guerra dos Seis Dias, Israel tomou esses territórios.
Diretor executivo da StandWithUs Brasil e doutorando da Universidade de Córdoba, em Ciências Políticas e Sociais, com ênfase no processo de paz palestino-israelense André Lajst explica que o despejo é baseado nessa lei.
“O terreno pertence uma organização de judeus israelenses desde 1875, eles venderam depois os direitos para outra organização que tem interesse de trazer israelenses judeus para morar no lugar. As famílias moram lá, elas não são donas o terreno e não pagam aluguel, então está tendo uma negociação na justiça por isso”.
Para a professora de História Árabe da Universidade de São Paulo Arlene Clemesha, não existe lei para os palestinos expropriados.
No calendário político, um arrefecimento da violência não interessa ao Hamas, que usa o confronto atual para aumentar seu poderio na Faixa de Gaza.
Do lado Israelense, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ainda não conseguiu formar governo e vê no conflito a chance de reforçar sua principal bandeira - a de guardião da segurança de Israel.
Perspectiva
Diante desse cenário, os especialistas ouvidos pela BandNews FM têm um ponto de concordância: o conflito está longe do final.
André Lajst diz: “Enquanto o grupo não for derrotado ou mudar de opinião, não tem muito o que fazer com o processo que engloba a Cisjordânia e o estado palestino”.
E Arlene Clemesha concorda: “Em algum momento o ataque a Faixa de Gaza, os lançamentos de foguetes pelo Hamas a Israel podem terminar. Mas, o conflito com o problema de fundo que é a causa e a origem de cada, que é a manutenção da ocupação e a violação dos direitos humanos dos palestinos em todo o território, não tem perspectiva.
Aconteceu na última semana
O domingo foi o dia mais violento da última semana.
Ataques aéreos de Israel em Gaza derrubaram três edifícios e mataram ao menos 33 pessoas.
No sábado, os bombardeios israelenses na região mataram outras dez pessoas de uma mesma família palestina, entre elas oito crianças e duas mulheres.
Um bebê de cinco meses sobreviveu.
No mesmo dia, os ataques também destruíram o edifício onde ficavam os escritórios de veículos de imprensa como da agência de notícias Associated Press e da rede de TV Al-Jazeera.
O último conflito, com grandes proporções como o atual, entre as duas nações ocorreu em 2014.