Cerca de 160 mil pessoas vivem em situação de rua no Brasil, segundo levantamento feito pelo projeto Incontáveis, do Programa Transdisciplinar Polos de Cidadania da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). De acordo com o estudo publicado em julho, 86% dessa população é composta por homens e 70% por pessoas pretas ou pardas.

Agnaldo Pereira conta que viveu em situação de rua e passou por muitos casos de violência.

“Fiquei um tempo em São Paulo e passei mais de três anos na rua. Na rua dormi em papelão, apanhava muito, tive um braço quebrado, cabeça com cicatrizes, andando em lugares perigosos quase fui morto. Peguei muito frio, muita chuva, e assim meu corpo foi ficando mais fraco. Uma pessoa da igreja católica pagou a minha passagem e eu vim parar em Salvador há pouco tempo. Já estou no terceiro albergue, albergues são muito violentos. Roubaram um celular meu e eu não vi quem foi. ”, explica Agnaldo.

A história se repetiu na vida de Manoel, outra pessoa em situação de rua.

“Passei muita fome, depois da pandemia a fome multiplicou para mim e a falta de moradia. Eu dependia do auxílio e foi cortado, passei a passar mais fome. Falta roupa para mim, falta tudo. Às vezes eu peço comida em algum restaurante, lanchonete, tem gente que tem o coração bom e dá. Eu não abuso, peço quando estou com fome. ”, conta Manoel. 

Em Salvador, são mais de 8 mil pessoas em situação de rua. No entanto, os números do último Censo Suas, realizado pela IPEA, em 2020, representam apenas cidadãos que deram entrada no CADÚnico. 

Na Bahia, cerca de 150 atendimentos mensais são realizados pelo projeto Pop Rua em Movimento, desenvolvido pelo Núcleo de Atendimento Multidisciplinar da População em Situação de Rua (Núcleo Pop Rua) da Defensoria Pública, como explica a defensora Fabiana Miranda: “O Núcleo de Atendimento Multidisciplinar da População em Situação de Rua acaba sendo a porta de entrada à própria defensoria e ao sistema de justiça. É muito comum que pessoas em situação de rua ao receberem uma certidão de nascimento, a primeira via da carteira de identidade, chorem de alegria na nossa frente. Isso demonstra intenso agradecimento por conseguirem acesso a um documento de identificação. ’’, pontua Fabiana. 

No início da pandemia, a jovem empreendedora Maria Fernanda e o amigo Matheus distribuíam marmitas compradas por eles mesmos para tal grupo vulnerável. Com o passar dos meses, o projeto cresceu e hoje leva o nome For Love. A iniciativa agora conta com cerca de 40 colaboradores e, em dia de ação, produz cerca de duzentas marmitas para pessoas em situação de rua.

“ Nós costumamos ir em locais que possuem aglomeração de pessoas em situação de rua, já foi notado que elas se reúnem, tanto por questões de segurança na hora de dormir e afins, tanto para socialização. São pessoas invisíveis para a sociedade e elas encontram abrigo em pessoas que estão na mesma situação que elas. ”, explica Maria Fernanda.

De acordo com a última pesquisa do IPEA, Instituto de Pesquisa Aplicada, em março de 2020, o número da população em situação de rua no Brasil era de 220 mil pessoas. E, segundo o mesmo relatório esse número aumentaria devido à atual situação provocada pela pandemia.