O movimento Mães de Maio realiza nesta terça-feira (14) um debate em memória das vítimas do caso que ficou conhecido como “Crimes de Maio”. Mais de 400 pessoas foram mortas em ações envolvendo agentes do governo paulista.
O evento acontece no campus da Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Após o debate, haverá um ato em frente ao Fórum de Santos, no litoral paulista, onde os inquéritos das investigações foram arquivados. O ato também terá discussões sobre a Operação Escudo, ação que teve um reforço na segurança na região e um aumento no número de mortes em ações policiais. A Ouvidoria da Polícia Militar investiga relatos de execuções e tortura na operação, enquanto a Secretaria de Segurança Pública afirma que os policiais foram recebidos com tiros.
Há 18 anos, ao menos 400 pessoas foram mortas por agentes de segurança pública do estado em São Paulo entre os dias 12 e 20 de maio de 2006. A maioria das vítimas era formada por jovens negros, pobres e moradores da periferia.
O caso ficou conhecido como “Crimes de Maio” e foi equiparado por historiadores ao período da ditadura militar no Brasil, que teve um número similar de mortes em 21 anos de regime.
A ação dos policiais aconteceu após uma onda de atentados do Primeiro Comando da Capital (PCC) contra agentes de segurança. O conflito resultou na morte de 59 agentes públicos, entre eles policiais, guardas civis e policiais penais.
No dia 15 do chamado "maio sangrento", Edson Rogério, de 29 anos, foi encontrado morto após uma abordagem policial. A mãe dele, Débora Maria da Silva, passou a dedicar a vida em busca de resposta. Meses depois do caso, ela decidiu fundar o movimento Mães de Maio.
Débora atua como pesquisadora no campo do adoecimento de mães que perderam os filhos para a violência policial. Após a morte de Edson Rogério, ela buscou outras mulheres que também perderam filhos em ações policiais. Ela conta que a iniciativa surgiu ao tentar entender o porquê das execuções e ao perceber uma grande semelhança com outros casos.
Até hoje, mães atingidas pela violência de 2006 lutam por justiça. Nenhuma delas recebeu indenização do estado pelas mortes.
Sob gestão do governador Tarcísio de Freitas, São Paulo registrou um aumento de 138% no número de mortes por policiais militares no primeiro trimestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano passado. A Secretaria de Segurança Pública afirma que os casos de mortes em ações policiais são investigados e que os policiais são treinados para atuar dentro da lei.
O projeto de lei "Mães de Maio", que tramita desde 2022 na Câmara dos Deputados, estabelece um programa de enfrentamento aos impactos da violência institucional e revitimização de mães e familiares das vítimas.