Racismo no Futebol: a importância da denúncia no combate e educação

Série especial trata de histórico e problemas estruturais

Alinne Fanelli, Bruno Camarão e Jordana Araújo

A atacante Natasha, do Doce Mel, ouviu gritos racistas da torcida do Sport Foto: reprodução/redes sociais
A atacante Natasha, do Doce Mel, ouviu gritos racistas da torcida do Sport
Foto: reprodução/redes sociais

A Rádio BandNews FM começa a exibir nesta quarta-feira (13) uma série especial sobre o racismo no futebol. No primeiro episódio, a reportagem aborda os casos que repercutiram na Libertadores e na Sul-Americana e que voltaram a lembrar que é preciso combater a prática criminosa no dia a dia.

O Observatório da Discriminação Racial no Futebol monitora 50 casos de racismo em 2022, sendo 12 nas competições citadas acima. Boca Juniors, Cerro Porteño, Independiente Del Valle e River Plate são alguns dos clubes cujos torcedores estiveram envolvidos em episódios hostis.

O aumento das denúncias vem da maior conscientização dos envolvidos de repulsa ao discurso de ódio no dia a dia e nas redes sociais.

O diretor do Observatório, Marcelo Carvalho, destacou a importância de que todos falem sobre o assunto. "Era muito pior em algum momento. A gente tinha cânticos discriminatórios que eram encarados como normais. É inegável esse movimento que observamos vindo dos jogadores, que antes não denunciavam e hoje eles têm comunicado insultos ao árbitro, falando dos insultos nas redes sociais. Ou seja, estamos tendo de fato um movimento. Estamos tendo uma quebra de silenciamento", comentou.

O ex-jogador Grafite, vítima de um ato racista que teve repercussão mundial, disse que hoje teria tomado outra atitude com relação à queixa-crime. Há 17 anos, o então atacante do São Paulo foi chamado de "negro de merda" por Desábato, à época, jogador do Quilmes, da Argentina. O brasileiro foi expulso e o adversário acabou sendo preso em campo, após o apito final.

Hoje comentarista, Grafite lamenta não ter levado a queixa-crime adiante. “Depois de um tempo, vi que as pessoas foram saindo e eu fiquei sozinho naquilo. A minha filha chegava chorando da escola porque as crianças faziam brincadeira com ela. Ninguém falava mais dos meus gols perdidos, só falavam do caso do racismo e aquilo vai te incomodando. Decidi não levar adiante. Naquele momento, estava sendo muito ruim para mim. Sinto hoje que eu fui egoísta em pensar só em mim. Mas, à época, quando você é atleta, você só quer jogar futebol e se dedicar à sua carreira e aquilo para a minha carreira estava sendo prejudicial. Se fosse hoje, com certeza eu teria outra postura e levaria adiante”, revelou.

A reportagem conversou também com a atacante Natasha, do clube Doce Mel, da Bahia, que ouviu gritos racistas da torcida do Sport, adversário do confronto pela Série A3 do Brasileirão. A árbitra Deborah Cecilia registrou a denúncia em súmula. “No primeiro momento, fiquei meio sem reação. Nunca aconteceu isso comigo. Achei um absurdo. Ficaram falando: ‘te chamou de macaco, não acredito’.”, contou.

Nesta quinta-feira (14), o segundo episódio da série tratará dos aspectos históricos e culturais que levam os torcedores sul-americanos a praticarem atos racistas sem o menor pudor.

Ouça a reportagem com Jordana Araújo: