Saúde precisa rever gestão de medicamentos de alto custo, diz entidade

Ministério incinerou o equivalente a R$ 214 milhões em remédios para o tratamento de doenças raras que estavam vencidos

Rádio BandNews FM

Saúde precisa rever gestão de medicamentos de alto custo, diz entidade
Saúde precisa rever gestão de medicamentos de alto custo, diz entidade
Agência Brasil

Em entrevista à Rádio BandNews FM, a presidente do Instituto Vidas Raras Amira Awada condena a ação do governo Bolsonaro de incinerar o equivalente a R$ 214 milhões em remédios para o tratamento de doenças raras.  

Os dados sobre estoques da Saúde estavam sob sigilo desde 2018. No fim de fevereiro, a Controladoria-Geral da União (CGU) recomendou revisão dessa reserva. Há na relação de itens perdidos duas doses do Spinraza, cada uma comprada por R$ 160 mil pelo governo federal. Usada para pacientes com atrofia muscular espinhal (AME), a terapia é uma das mais caras do mundo.

“Durante todas as conversas que nós tivemos com o Ministério da Saúde, sempre foi nos falado que não existe estoque. E aí quando você vê que tem estoque e que o medicamento acaba sendo perdido por uma má gestão desse estoque, é muito complicado”.  

Foram descartadas ainda 949 unidades do Translarna, produto usado para pacientes com distrofia muscular de Duchenne, que causa degeneração muscular progressiva. Esses lotes custaram R$ 2,74 milhões no total.

No caso das doenças raras, a grande maioria delas é progressiva e degenerativa, ou seja, o paciente que está no tratamento de uso contínuo, quando tem a interrupção do mesmo, perde todo o progresso que conquistou.

“O ministério acaba fazendo uma economia burra com essa interrupção de tratamento. A gente precisa lembrar que para o paciente continuar melhorando, para não piorar, ele precisa ter o medicamento de uma maneira contínua, sem interrupção, para que esse tratamento seja o mais eficaz possível”, aponta Amira.

Awada acredita que é necessário debater a questão de sustentabilidade de sistema, mas que a judicialização é um meio, muitas vezes utilizado como fim - até mesmo por parte do Ministério da Saúde -, por não ter o custo dentro do orçamento obrigatório, dessa forma caindo na chamada “economia da judicialização”.

O Instituto presidido por Amira faz parte da Aliança Rara, grupo composto por 90 Associações e grupos informais de pessoas que convivem com essas doenças. De maneira conjunta, as entidades irão escrever uma carta destinada ao Ministério da Saúde. O objetivo é conseguir uma cadeira no Comitê que será criado para acompanhar os desdobramentos do caso.

“A grande questão hoje não é achar culpados, acho que a gente precisa trabalhar como sociedade civil e poder público para que isso não se repita, para que a gente possa zelar cada vez mais pelo nosso orçamento e pensando em orçamento, pensar também no tratamento e cuidado por essas pessoas”, finalizou Awada.