“Se tirar a dor dos pais, me condene”, diz réu durante julgamento da Boate Kiss

Nesta quinta (09) foi encerrada a fase de depoimentos e durante os próximos dias os debates serão entre a acusação e a defesa

Luciano Bonilha, réu no julgamento da Boate Kiss Foto: TJRS
Luciano Bonilha, réu no julgamento da Boate Kiss
Foto: TJRS

O julgamento da boate Kiss pelo incêndio que matou 242 pessoas e deixou mais de 600 feridos segue pelo 9º dia consecutivo. Nesta quinta (09) foram ouvidos três réus: Luciano Bonilha Leão, Mauro Hoffmann e Marcelo de Jesus dos Santos.

Hoje também é encerrada a fase de depoimentos e durante os próximos dias os debates serão entre a acusação e a defesa.

O primeiro a depor foi o ex-sócio da boate, Mauro Hoffman que afirmou não ter culpa sobre o acontecido.

Hoffman disse não se considerar dono da boate nem ter as chaves do estabelecimento e que por isso não tinha poder nas decisões: “Eu nunca quis ter a chave. Me ofereceram. Eu tendo chave algum dia alguém pode me chamar para vir aqui. Não é o nosso combinado.”

O ex-sócio contou que logo que entrou na sociedade, afirmou a Kiko, proprietário do local e réu no julgamento, que não tinha tempo para estar completamente focado na KISS. Ele entrou no negócio em dezembro de 2011.

“Eles precisavam prender alguém. Ninguém prende por crime culposo. E aí eles criaram uma narrativa de coisas para poder prender alguém. Porque eles iam acalmar a situação e eles realmente acalmaram. Eu fiquei quatro meses preso, na ala dos principais bandidos”, disse Mauro.

O segundo a depor foi Luciano Bonilha, produtor da Banda Gurizada Fandangueira, que afirmou ter comprado os fogos usados dentro da boate. No entanto, o réu diz não ter sido avisado pelo vendedor sobre o risco de utilizar o produto em ambientes internos. Bonilha disse ser apenas um ajudante de palco da banda, mas que se for para tirar a dor deles, está pronto para ser condenado.

“Esses pais são legítimos de lutarem por justiça pelos filhos deles. Eu tenho minha consciência tranquila de que não foi o meu ato que causou essa tragédia. Mesmo eu sabendo que eu sou inocente e sou uma vítima, para tirar a dor dos pais, eu estou pronto, me condene. Mesmo eu sabendo. Mas que tire a dor dos pais e que não seja simplesmente uma injustiça que está acontecendo comigo.”

No início do incêndio, conforme o relato de Luciano, foi utilizado um extintor para tentar apagar o foco. O equipamento estava sem lacre, parecia vazio e não funcionou.

Luciano relatou que já havia participado de outros shows da banda com uso de fogos no local. Emocionado, ele relembrou a saída da casa noturna e contou que achava que iria morrer.

Luciano cogitou entrar na Associação de Vítimas e Familiares da tragédia, mas entende que não seria bem-vindo.

Novamente, familiares de vítimas deixaram o plenário emocionados ao final do depoimento. Alguns precisaram de atendimento médico. Luciano Bonilha Leão respondeu aos questionamentos apenas do juiz e da sua banca de defesa, por cerca de uma hora.

O vocalista da Banda Gurizada Fandangueira foi o último dos 4 réus a ser interrogado. Marcelo de Jesus dos Santos diz que escondeu dos seus chefes suas sequelas pulmonares por ter medo de ficar sem emprego.