A bordo do icônico Fusca, taxistas do Rio oferecem aos passageiros viagem ao passado

Marcos Cardoso e Luis Cláudio trabalham há mais de 30 anos transportando clientes

Anna Alves *(sob supervisão)

A bordo do icônico Fusca, taxistas do Rio oferecem aos passageiros viagem ao passado
Taxistas do Rio de Janeiro oferecem aos passageiros uma viagem única ao passado
Reportagem BandNewsFM

Em meio à infinidade de veículos dotados dos recursos tecnológicos mais avançados, dois taxistas do Rio de Janeiro oferecem aos passageiros uma viagem única ao passado, a bordo do icônico Fusca. Lançado pela Volkswagen em 1938, na Alemanha, o modelo só passou a ser produzido no Brasil em 1959, na fábrica de São Bernardo do Campo, em São Paulo. As suas linhas arredondadas, o seu baixo custo-benefício e a sua mecânica simples, logo conquistaram os brasileiros, tornando-se um dos carros mais populares da história do país e um sucesso que marcou gerações.

Embora sejam raros hoje em dia, já que estão fora de linha desde 1996, ainda existem modelos em circulação, mas pouquíssimos são encontrados em tão bom estado como os dos primos Marcos Cardoso e Luis Cláudio, que trabalham há mais de 30 anos transportando clientes do Largo da Usina para a subida do Alto da Boa Vista, no bairro da Tijuca, na Zona Norte da cidade.   

Em 2014 foi decretado que a partir do ano seguinte não seria permitido que carros com mais de 6 anos de fabricação oferecessem o serviço de táxi. Na época diversos moradores da região se mobilizaram e fizeram um abaixo-assinado para permitir que os dois fusquinhas continuassem em trânsito. Por fim, conseguiram a licença do prefeito Eduardo Paes, que também decretou os fuscas-táxis como Patrimônio Histórico Cultural do Rio de Janeiro. 

A equipe de reportagem da BandNews FM entrou em contato com os taxistas para saber um pouco mais sobre o dia a dia, os prós, os contras e outras curiosidades sobre a história dos primos com os fuscas. Marcos, mais conhecido como Quinho, relatou que o seu contato com o carro já vem de muitos anos. Ele abandonou o seu emprego anterior para virar taxista e hoje sente muito orgulho por dar segmento ao legado do pai. 

A minha história no Fusca, como taxista, começou há uns 37 anos atrás. Eu tinha outro emprego, trabalhava de caixa de banco e vi que não estava dando resultado monetariamente. Aí resolvi partir para o Fusca, né, já que meu pai também tinha sido taxista. E estou aqui há 37 anos e com muito orgulho, eu e meu fusquinha.

Além disso, ele contou sobre o carinho que recebe dos passageiros, que insistem para que ele não encerre as atividades com o veículo. 

Em relação aos passageiros, eles adoram, né? Falam para cuidar direitinho, para não deixar acabar nunca. Crianças, então, adoram. Os pais trazem aqui, principalmente, final de semana, para dar uma volta com as crianças. Só elogio. O pessoal passa, fala que é relíquia, para não deixar acabar nunca. E estou aqui muito orgulhoso com meu fusquinha. 

Por serem automóveis antigos, é necessário que a manutenção seja feita regularmente. Luis Cláudio relatou que realiza cuidados básicos e leva o carro para revisão de 2 a 3 vezes no ano. No momento, ele está há 4 dias sem operar. Com exceção das vistorias de rotina, ele disse que o veículo não costuma apresentar problemas e não pretende trocá-lo por outro nunca.  

Os fuscas sempre passam por manutenção de rotina. Troca de óleo, troca de filtro, troca de correia dentada, troca de pastilha de freios, lona, regular freio de mão, regular motor, então tanto eu, quanto o Marcos, a gente cuida muito bem dos carros. Até porque os carros agora viraram patrimônio histórico da cidade do Rio de Janeiro e nós temos que mantê-los em condições para continuar com esse título e continuar com os carros. A gente brinca com os passageiros aqui que o Fusca não anda, ele desfila. A gente vai junto andando pela cidade, é muito legal, é muito gratificante você ver pessoas apontando, olhando, tirando foto, filmando, não acreditam. Então trocar o Fusca nunca, nunca, nunca, nunca. É o que eu falo, eu estou andando com meu fusquinha-táxi na rua, tem um Jeep Compass do lado, tem um Corolla Cross, tem uma BMW, você pode apostar que eles vão olhar para o fusquinha-táxi.

Em 2015, uma ação da 99Táxi ofereceu uma repaginada nos fuscas-táxis, revitalizando-os e permitindo que ficassem ainda mais novos. A oficina do Fábio, especializada em restauração de veículos Volkswagen, foi a escolhida para realizar a transformação. Apaixonado pelo carro, Fábio comentou sobre o prazer em trabalhar nos modelos de 1995. 

Para mim foi uma surpresa ter sido escolhido para restaurar os Fuscas. Eu já conhecia esses carros e era até um sonho restaurar esses carros. Eu tinha esse projeto, só que não sabia que isso de fato ia acontecer. Então, para mim foi muito bom que alavancou o meu negócio, ganhei muita clientela e até hoje eu tenho orgulho de fazer parte dessa história. Foi muito bom. 

A Sinara Ramos, moradora da região, contou que já está tão habituada com a presença dos veículos no local que não lembra a primeira vez que os utilizou. 

Eu moro aqui há 40 anos, então subir a ladeira com o fusquinha-táxi faz parte da minha vida cotidiana, não é nem uma coisa diferente do nosso cotidiano. Sempre que a gente vê alguém (falando): "Ah! Tem um fusquinha lá na Usina, para a gente é extremamente comum. Meu pai já foi motorista do fusquinha-táxi e por isso que a gente tem essa familiaridade com o Quinho. Mas eu já fiquei sabendo que tem gente que vem bastante aqui pedir para tirar foto e andar no carro, no fusquinha, como se fosse uma atração turística mesmo. 

Apesar do cuidado necessário para manter os fuscas-táxis conservados, todo o esforço é recompensado. Além de encantar diversos turistas, o serviço, que fica disponível todos os dias da semana, de manhã até o fim da tarde, faz parte da vida dos moradores e trabalhadores que transitam diariamente pela Tijuca. 

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