O combate à fome no país precisa de apoio urgente da ciência. É o que alerta a Academia Brasileira de Ciências. Apesar de ser atualmente o quarto maior produtor de alimentos do mundo, dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (PENSSAN) apontam que, entre 2021 e 2022, mais de 33 milhões de pessoas viviam em situação de insegurança alimentar grave no país.
O alerta é feito no livro Segurança Alimentar e Nutricional: O Papel da Ciência Brasileira no Combate à Fome, lançado nesta quinta-feira (14) pela ABC, na capital fluminense.
A obra, dividida em 18 capítulos, é organizada por Mariangela Hungria. Ela é uma das principais especialistas no tema no país e afirma que o livro surge desse paradoxo de o Brasil produzir a ponto de alimentar globalmente quase um bilhão de pessoas, mas ter no próprio território cerca de 33 milhões de brasileiros com fome.
"A principal ideia do livro é que ele surge desse paradoxo do Brasil ser hoje o quarto maior produtor de alimentos e a gente ter esses milhões de pessoas passando fome. Quando eu falo fome, insuficiência alimentar grave, é aquela pessoa que não sabe se vai ter um pão no dia. A Fome é uma questão multicausal. Então se ela tem múltiplas causas, nenhum setor consegue resolver a fome, mas a Ciência, em todos os seus ramos, tem propostas de trabalho juntos para a mitigação dessa fome".
O papel das mulheres na segurança alimentar é outro ponto destacado pela publicação. Atualmente, elas representam cerca de 43% do total de produtores na agricultura familiar, além de se destacarem no processamento, na comercialização e no preparo de alimentos. Apesar disso, as mulheres têm dificuldade no acesso à terra e enfrentam ainda as desigualdades de gênero em meio a todo esse contexto.
A coautora do capítulo Desatando Nós: Mulheres e segurança alimentar e nutricional, Gabriela Brito, diz que pensar a fome é também pensar as mulheres.
“Pensar a fome como problema estrutural, é pensar ela dentro de um contexto de uma sociedade que tem uma determinada organização social. E essa organização social vai perpassar também essas relações de gênero e relações raciais também. Então, é importante a gente entender que pra gente pensar em ações de combate à fome, é importante também a gente pensar em ações de proteção social, de empoderamento das mulheres, e principalmente das mulheres negras, quando a gente vai pontuar a questão racial”.
A publicação conta ainda com um capítulo que reflete sobre a desinformação em torno da insegurança alimentar, pensando na importância da comunicação no combate à fome.
O livro reúne o resultado do trabalho de 41 autores, de 23 instituições de pesquisa. A mensagem mais importante que o livro busca transmitir, segundo os autores, é de que a Ciência, a Tecnologia e a Inovação, quando associadas à Educação são fundamentais para que, globalmente, seja possível alcançar a desejada Segurança Alimentar e Nutricional.
A obra possui acesso gratuito e pode ser acessado na íntegra através do site da Academia Brasileira de Ciências: www.abc.org.br.