Uma testemunha ouvida pela Polícia Civil afirmou à agentes que os homens que agrediram o congolês Moïse Kabagambe alegaram a ela que o jovem estaria recebendo um 'corretivo' por ter assaltado pessoas na praia. No depoimento prestado na Delegacia de Homicídios da Capital, a mulher, que teve a identidade preservada, contou que viu as agressões quando foi comprar um refrigerante no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, onde o crime ocorreu no último dia 24.
Segundo a testemunha, em determinado momento, os agressores pediram para que ela não olhasse o ataque. A fala teria partido de Aleson Cristiano, o Dezenove, um dos presos e indiciados pelo caso. Ainda de acordo com o relato, a atendente do estabelecimento estaria nervosa por já ter pedido o fim das agressões.
A mulher revelou ainda que tentou buscar a ajuda de dois guardas municipais, que não teriam prestado auxílio. Logo depois, acompanhada do marido, ela percebeu que Moïse já estava sem vida. Em nota, a Guarda Municipal informou que não recebeu nenhuma notificação em relação ao testemunho relatado, mas enviou um ofício à Polícia Civil solicitando mais detalhes sobre a citação.
Nesta sexta-feira (4), a ONG Rio de Paz estendeu uma faixa no quiosque Tropicália em homenagem a Moïse. O cartaz traz os dizeres ''Fugimos do Congo para que não nos matassem. Mas mataram meu filho aqui", frase dita pela mãe do jovem de 24 anos.
Para o articulador social do grupo, João Luís da Silva, casos como o de Moïse não podem ser naturalizados.
A turista mineira Carmelita de Fátima Muniz participou da ação da Rio de Paz como voluntária. Hospedada na casa da filha, que mora em frente ao local do crime, classificou o caso como uma barbárie. Ela prestou solidariedade à mãe de Moïse.
A família do jovem vai ser incluída em programas da Secretaria Municipal de Assistência Social. O prefeito Eduardo Paes também falou sobre a morte do congolês e afirmou que a Prefeitura vem dando todo suporte aos parentes dele.
O Ministério Público do Trabalho no Rio instaurou um inquérito para investigar a relação trabalhista entre Moïse Kabamgabe e o dono do quiosque. A denúncia aponta para possível trabalho sem reconhecimento de direitos, o que pode configurar condição análoga à de escravo, na modalidade de trabalho forçado, de xenofobia e de racismo.
No sábado (4), organizações como a Coalizão Negra Por Direitos vão realizar diferentes protestos no Brasil e no mundo. Um deles vai ocorrer no local do crime. Também foram marcadas manifestações em frente à sede da ONU em Nova York, nos Estados Unidos, e na Embaixada Brasileira em Londres, na Inglaterra.
A Coalizão Negra vai entregar uma denúncia sobre o caso para o Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial da ONU. Na próxima semana, o governador Cláudio Castro deve se encontrar com familiares de Moïse.