Com quase 50 anos de Carnaval, Neguinho da Beija-Flor anuncia despedida como intérprete em 2025

Foram 14 títulos do Carnaval carioca e seis Estandartes de Ouro conquistados

Por Guilherme FariaÁdison Ramos

O Carnaval de 2025 vai ser o último de Neguinho da Beija-Flor na Marquês de Sapucaí. O histórico intérprete da escola de samba de Nilópolis anunciou a aposentadoria da Passarela do Samba nesta quarta-feira (20).

Intérprete da Beija-Flor desde 1975, Neguinho vai se despedir da Avenida no ano em que completa cinco décadas a frente da escola. No intervalo, foram 14 títulos do Carnaval carioca e seis Estandartes de Ouro conquistados.

No ano que vem, a Beija-Flor vai homenagear o mestre Laíla, amigo de Neguinho e um dos maiores sambistas da história. O intérprete afirma que este foi um dos motivos que o fez adiar a aposentadoria até o ano que vem.

Eu ia parar em 2024, mas aí eu vou ter que parar em 2025, porque eu não posso deixar de homenagear esse grande amigo, irmão, meu primeiro produtor.

Em um comunicado, a Beija-Flor de Nilópolis afirmou que o ano de 2025 vai ser marcado por grandes homenagens e recordações, com o último desfile com a "voz da história" da Azul e Branco.

Em entrevista a BandNews FM, a porta-bandeira Selminha Sorriso enalteceu a carreira de Neguinho e lançou uma campanha pela continuidade da trajetória do cantor na Sapucaí.

O coração está apertado, entretanto, esperançoso de que ele repense e continue conosco, porque imagina o carnaval do Rio de Janeiro sem Neguinho da Beija-Flor, sem o famoso, tradicional grito de guerra "Olha a Beija-Flor aí gente". Já liguei para ele e disse que não estava acreditando, não queria acreditar. Já chorei, dei um grito, meu peito ficou apertado, sabe? Me deu uma sensação de que isso não pode estar acontecendo, é uma mudança na nossa cultura, porque algumas pessoas vieram pra ficar. Já lancei a #FicaNeguinho.

Apesar de se despedir da Avenida em 2025, Neguinho vai seguir com a carreira como cantor. A despedida dos desfiles, no entanto, não significa um adeus à Beija-Flor.

É, vida que segue, mas continuo Beija-Flor, continuarei Beija-Flor, visitando... Beija-Flor é a minha vida, meu amor.

Nas redes sociais, a Beija-Flor agradeceu a Neguinho por cada momento e cada emoção proporcionada e disse que a despedida é apenas do posto de intérprete oficial, mas que Neguinho sempre será a essência da escola.

Neguinho também escreveu uma carta dedicada à Beija-Flor. A íntegra do documento está no site da BandNews FM.

Confira:

"À minha amada Beija-Flor,

O desfile de 2025 marcará minha despedida como intérprete de seus hinos na Passarela do Samba. No próximo Carnaval, escreverei, com a comunidade nilopolitana, o ponto final da trajetória cinquentenária, tempo de muita felicidade e alegria. Vamos atravessar a Passarela do Samba pela derradeira vez, eu com a minha voz e o orgulho de sempre, sustentando a força e a magia de nossa comunidade que brilha no altar dos bambas. Será mais um momento de nosso amor eterno.

Lembro emocionado, querida escola, do início dessa história, quando cheguei jovenzinho para participar da disputa de samba, no inesquecível "Sonhar com rei dá leão". Joãosinho Trinta, também recém-chegado, criara o enredo sobre o jogo do bicho e eu, então Neguinho da Vala, sonhava entrar para a ala de compositores. O saudoso carnavalesco permitiu que eu tentasse - e deu certo. Com o samba composto por mim, fomos campeões.

De lá para cá, você ganhou 14 carnavais, e me concedeu o privilégio de estar presente em todos. Fomos tricampeões duas vezes, levamos o Cristo mendigo coberto pela censura, na imagem mais conhecida do Carnaval. E o mais importante: inserimos a Beija-Flor de Nilópolis na história da maior festa popular do Brasil. Em lugar de protagonista.

Consolidou-se a Maravilhosa e Soberana, como está no nosso hino-exaltação, "Deusa da Passarela", que tive a honra de compor. E virou seu merecido apelido no planeta Carnaval.

Por você, venci o câncer, cantando na avenida ainda sob tratamento. Tenho fé que me curei graças a Deus e ao abençoado remédio do Carnaval. Nunca esquecerei como a comunidade me recebeu, na volta aos ensaios, em nossa quadra sagrada. O aplauso e a montanha de carinho estão para sempre tatuados na memória.

Por isso e muito mais, jamais cogitei receber salário da Beija-Flor. Nunca assinei contrato nem me submeti a qualquer burocracia. Nossa relação é única e dispensa protocolos. Costumo repetir que se alguém deve algo, sou eu a você, minha escola. Tenho muito orgulho de carregá-la em meu nome oficial, o da carteira de identidade: Luiz Antonio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes.

Guardo como um tesouro a primeira carteira de integrante da ala de compositores. Está lá a data, 11 de junho de 1975, do começo de tudo. Dos companheiros originais, ainda estão aqui o patrono Anísio Abrahão David e a querida Pinah. Começamos juntos a aventura de conduzir uma pequenina escola da Baixada Fluminense ao panteão das gigantes de nossa cultura popular. E chegamos lá, com a participação de muitos outros sambistas que vieram depois e seguirão rumo ao futuro.

Chegou a minha hora. Em 2025, cantarei a exaltação de meu parceiro Laíla - a quem conheci ainda antes do primeiro Carnaval, na lendária roda de samba do Bola Preta -, como epílogo dessa odisseia que durou meio século de folia e felicidade. Superou muito meus melhores sonhos. E continuarei lhe amando. Você pode contar comigo por toda a eternidade.

Obrigado por tudo, minha escola, minha vida, meu amor.

Olha a Beija-Flor aí, gente!"

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