O assassinato da vereadora Marielle Franco teve o objetivo de proteger os interesses econômicos de milícias que atuam no Rio de Janeiro e desencorajar atos de oposição política aos mandantes do crime, o conselheiro do Tribunal de Contas do Rio Domingos Brazão e o deputado federal Chiquinho Brazão. A conclusão é da denúncia enviada pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal.
A PGR denunciou quatro acusados por homicídio: Domingos Brazão, Chiquinho Brazão, o ex-chefe de Polícia Civil Rivaldo Barbosa e o policial Ronald Paulo Alves Pereira, conhecido como Major Ronald.
Já o crime de integrar organização criminosa foi atribuído aos irmãos Brazão e a um assessor de Domingos Brazão, Robson Calixto Fonseca, preso pela Polícia Federal na quinta-feira (10). Os agentes também cumpriram um mandado de prisão contra Ronald, que já estava em um presídio federal.
A PGR ainda pediu a perda dos cargos públicos dos acusados e o pagamento de indenização aos familiares das vítimas.
Viúva de Marielle, a vereadora Mônica Benício afirma que lutar por justiça é uma maneira de honrar a memória dela.
A denúncia aponta que Domingos Brazão e Chiquinho Brazão formaram alianças com diferentes grupos de milicianos, com o objetivo de explorar a ocupação irregular de terrenos nas regiões que também se tornaram redutos eleitorais deles. A parceria incluía até a nomeação de parentes de milicianos em cargos comissionados.
A atuação de Marielle contra loteamentos irregulares nas áreas controladas pela organização teria motivado o crime. A PGR diz que a vereadora se tornou a principal opositora dos interesses econômicos dos irmãos e "matá-la significava eliminar de vez o obstáculo e, ao mesmo tempo, dissuadir outros políticos do grupo de oposição.
O documento ainda acrescenta que um atentado contra o então deputado estadual Marcelo Freixo "poderia gerar grande repercussão", já que ele tinha muita projeção política.
Segundo as investigações, o assessor preso na quinta-feira (9) ajudou a intermediar o contato entre os irmãos Brazão e o assassino confesso, Ronnie Lessa. Robson é descrito como um representante da milícia com atuação na Taquara, na Zona Oeste, que apoiou os irmãos Brazão nas atividades ilegais de grilagem de terras.
Já o Major Ronald levantou informações sobre a rotina de Marielle e encontrou a "oportunidade para a execução". No dia do assassinato, segundo a denúncia, o policial soube que Marielle participaria de um evento à noite na Lapa e alertou os comparsas ainda durante a manhã.
Os investigadores descobriram que, uma semana antes do crime, Ronald acompanhou os deslocamentos de Marielle durante uma agenda no Centro do Rio. Dois dias antes da execução, ele ainda pesquisou o CPF dela em uma plataforma para descobrir o endereço da vítima, que depois foi consultado no Google Maps.
Mesmo preso desde 2019, acusado de comandar a milícia de Rio das Pedras, o major Ronald continua recebendo R$ 13 mil líquidos por mês da Polícia Militar. Em nota, a PM disse que o oficial está afastado das funções e responde a um processo administrativo disciplinar.
As defesas dos suspeitos negam as acusações. O advogado de Domingos Brazão afirma que a narrativa acusatória é uma hipótese inverossímil, que se ampara somente na narrativa do assassino confesso. A defesa do delegado Rivaldo Barbosa destacou que ele tem mais de 20 anos de serviços prestados à segurança pública e ainda não foi ouvido pelos investigadores. Já o advogado do Major Ronald disse que a própria Polícia Federal não encontrou elementos que corroborassem as alegações do delator Ronnie Lessa.