Câmara avalia se vai fiscalizar Eletronuclear após vazamento em Angra

O despejo de água contaminada no mar de Angra dos Reis só foi comunicado oficialmente três semanas depois

Por Pedro Dobal

Câmara avalia se vai fiscalizar Eletronuclear após vazamento em Angra
Câmara decide na quarta se vai fiscalizar Eletronuclear após vazamento em Angra
Agência Brasil

A Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados deve investigar a atuação da Eletronuclear diante do vazamento de água contaminada no mar de Angra dos Reis, na Costa Verde Fluminense.

O caso aconteceu em setembro do ano passado, na usina Angra 1, mas só foi comunicado aos órgãos responsáveis 21 dias depois. O requerimento de fiscalização da empresa foi apresentado pelo presidente da comissão, o deputado José Priante, do MDB. Caso a proposta seja aprovada, um conjunto de parlamentares poderá acompanhar de perto o episódio, as consequências e as medidas necessárias para contenção do ocorrido.

Um inquérito aberto pela Polícia Federal ainda em setembro, antes da comunicação oficial pela Eletronuclear, também apura as circunstâncias do vazamento.

Na última quarta-feira (22), a Justiça Federal deu um prazo de 30 dias para a companhia realizar uma avaliação completa dos possíveis danos causados. A liminar foi concedida após o Ministério Público Federal ajuizar uma ação civil pública sobre o caso e acusar a Eletronuclear de tentar esconder o vazamento.

A decisão determina que seja feita uma análise completa da possível contaminação de água, solo e ar, além de eventuais impactos na saúde humana. A estatal também deverá prestar, em 30 dias, todas as informações necessárias sobre o vazamento.

Para o especialista em gerenciamento de riscos Gerardo Portela, a falta de comunicação adequada pode colocar em risco a credibilidade da empresa.

No fim de fevereiro, o Ibama multou a Eletronuclear em R$ 2,1 milhões pelo descarte irregular de substância radioativa e por não ter comunicado o caso imediatamente. Relatórios apresentados pela empresa e pela Comissão Nacional de Energia Nuclear confirmaram que o acidente foi provocado pela corrosão do sistema de contenção de vazamentos, mas não houve dano à saúde da população no entorno da usina.

A empresa afirma que intensificou o monitoramento radiológico no local de despejo das águas fluviais e não encontrou nenhum resultado significativo. A diretoria executiva da Eletronuclear também abriu um processo interno para apurar se houve alguma falha na comunicação.

O caso começou a ser investigado pelos órgãos responsáveis após uma denúncia anônima recebida pelo Instituto Estadual do Ambiente no fim de setembro, à qual a BandNews FM teve acesso em primeira mão. Segundo o relato, a água teria entrado em contato direto com o meio ambiente, já que parte dela escorreu para ralos de águas pluviais que têm o mar como destino final.

O Inea afirma que, assim que a denúncia foi recebida, notificou o Ibama e a Comissão Nacional de Energia Nuclear, órgão responsável pelo controle e supervisão das instalações nucleares brasileiras. As inspeções realizadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear comprovaram que, durante uma operação de rotina, uma válvula de isolamento apresentou falha e cerca de 90 litros de água foram liberados para o canal de descarga da usina. Amostras foram coletadas e foi detectada radiação somente no ponto onde ocorreu a liberação. O órgão ainda notificou a empresa para que eventos dessa natureza sejam sempre prontamente reportados.

Em setembro, a BandNews FM procurou a Eletronuclear, mas a empresa disse que a denúncia não era verídica. Na época, a companhia afirmou que o problema era oriundo de água empoçada em um ralo, prontamente drenada, e que não foi necessária a notificação dos órgãos ambientais e da Prefeitura de Angra dos Reis porque o evento não se caracterizou como acidente ambiental.

Agora, a empresa admitiu que fez uma liberação não programada de um pequeno volume de água contendo substâncias radioativas, mas o caso foi tratado como incidente operacional porque os valores estavam abaixo dos limites da legislação que caracterizam a ocorrência de um acidente. A empresa diz que está tomando as providências para que, daqui para frente, todos os eventos sejam divulgados com ampla transparência e publicidade.

A usina nuclear Angra 1 foi a primeira a entrar em operação comercial no Brasil, em 1985. Ela opera com um reator de água pressurizada e gera energia suficiente para suprir uma cidade de 1 milhão de habitantes.

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