Dia nacional: em meio a dilemas, família de receptor de órgão enxerga recomeço

No Brasil, mais de 40.000 brasileiros que aguardam por um transplante

Por João Videira (sob supervisão)

Dia nacional: em meio a dilemas, família de receptor de órgão enxerga recomeço
Famílias de receptores de órgãos enfrentam dilemas
Marcelo Casal Jr/Agência Brasil

Há dois anos, Alberto iniciava uma nova vida após passar por um transplante de rim. A cirurgia, bem sucedida, foi um alívio para os pais do menino de cinco anos.  

Após o nascimento, a criança foi diagnosticada com uma malformação no sistema urinário, que ocorre durante o desenvolvimento do feto. Entre as inúmeras sessões de diálise e hemodiálise a que Alberto era submetido, veio a notícia que a vida dele estava prestes a mudar.

A mãe da criança conta que soube por telefone que estava disponível para transplante um rim com 98% de compatibilidade. Elaine Coutinho diz que a notícia veio no momento certo, mas que ainda carrega uma angústia.  

"No dia anterior a nossa internação recebemos uma ligação da médica que acompanhava o nosso filho."

"Foi uma mistura de sentimentos. Para o nosso filho ter vida, poder desenvolver como uma criança normal, uma outra familia teve uma perda, dolorosa. Eu estava vivendo uma alegria e uma outra família estava vivendo o luto", conta.

Com a perspectiva futura de depender de uma cadeira de rodas para se locomover, Alberto conseguiu reverter seu quadro clínico e recomeçar.

A conquista de Alberto, no entanto, não é tão comum entre os mais de 40.000 brasileiros que aguardam por um transplante de órgão. Segundo o Ministério da Saude, de janeiro a junho deste ano, apenas 4.247 orgãos foram doados, com recorde de transplantes de coração e de fígado. Neste mesmo período, foram cerca de 8 mil doações de córnea e somente duas mil de medula óssea.

No Brasil, os principais critérios para o recebimento de órgãos são a gravidade de cada caso e a ordem cronológica de cadastro. Esse sistema é um modelo perante o mundo. Com isso, a cirurgia só ocorre de acordo com necessidades médicas, o estágio de gravidade da insuficiência cardíaca, tipo sanguíneo e outras especificidades.

No Rio de Janeiro, estado com a maior quantidade de pessoas na lista, algumas iniciativas tentam reverter o cenário.

Com a campanha Setembro Verde, o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) atingiu a marca de 1.500 captações de tecidos, que incluem ossos, tendões, meniscos e cartilagens. O INTO prevê ainda que a captação de globos oculares neste ano seja a maior desde a inauguração do banco de orgãos.

Já o Grupo Zelo, de serviços funerários, tenta conscientizar a população sobre a doação. De acordo com a companhia, de um total de 200 pessoas entrevistadas, 60,2% desconhecem os desejos de familiares e amigos em relação ao tema.

Se comparada ao regulamento de outros países, a legislação brasileira ainda caminha a passos lentos no que diz respeito à doação.

O atual secretário municipal de Saúde do Rio e deputado federal, Daniel Soranz, é um dos coautores de um projeto de lei no Congresso que pretende que seja indicada no documento de identidade a decisão de não doar. Caso não seja feito o registro, será presumido que o cidadão é um doador. Soranz pontua que o 'empurrãozinho' pode salvar muitas vidas.  

"Pelo desenho do projeto de lei a doação de orgãos irá virá presumida. É muito importante a desburocratização, que as pessoas não precisem colocar na sua carteira de identidade que são doadores", defende.

"Isso facilita a burocracia e aumenta a possibilidade de novos doadores. E claro, se a pessoa não quiser doar ela pode registrar no seu documento que não é doadora, invertendo a lógica e considerando que a maioria da população é favoravel a doação".

O projeto se baseia na legislação espanhola. No país europeu, a Organización Nacional de Trasplantes (ONT) formou mais de 18.000 colaboradores para conversar com as famílias de pessoas que morreram para realizarem a boa ação.  

Doe órgãos, Doe vida

No último dia 21 de agosto, o Grupo Bandeirantes lançou, com apoio do Minisitério da Saúde, a campanha "Doe órgãos, Doe vida", uma conscientização para a doação de órgãos e tecidos. ))

Segundo a pasta, atualmente, há 617 hospitais e 1.495 equipes autorizados a realizar transplantes no Brasil.

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