Há dois anos, Alberto iniciava uma nova vida após passar por um transplante de rim. A cirurgia, bem sucedida, foi um alívio para os pais do menino de cinco anos.
Após o nascimento, a criança foi diagnosticada com uma malformação no sistema urinário, que ocorre durante o desenvolvimento do feto. Entre as inúmeras sessões de diálise e hemodiálise a que Alberto era submetido, veio a notícia que a vida dele estava prestes a mudar.
A mãe da criança conta que soube por telefone que estava disponível para transplante um rim com 98% de compatibilidade. Elaine Coutinho diz que a notícia veio no momento certo, mas que ainda carrega uma angústia.
"No dia anterior a nossa internação recebemos uma ligação da médica que acompanhava o nosso filho."
"Foi uma mistura de sentimentos. Para o nosso filho ter vida, poder desenvolver como uma criança normal, uma outra familia teve uma perda, dolorosa. Eu estava vivendo uma alegria e uma outra família estava vivendo o luto", conta.
Com a perspectiva futura de depender de uma cadeira de rodas para se locomover, Alberto conseguiu reverter seu quadro clínico e recomeçar.
A conquista de Alberto, no entanto, não é tão comum entre os mais de 40.000 brasileiros que aguardam por um transplante de órgão. Segundo o Ministério da Saude, de janeiro a junho deste ano, apenas 4.247 orgãos foram doados, com recorde de transplantes de coração e de fígado. Neste mesmo período, foram cerca de 8 mil doações de córnea e somente duas mil de medula óssea.
No Brasil, os principais critérios para o recebimento de órgãos são a gravidade de cada caso e a ordem cronológica de cadastro. Esse sistema é um modelo perante o mundo. Com isso, a cirurgia só ocorre de acordo com necessidades médicas, o estágio de gravidade da insuficiência cardíaca, tipo sanguíneo e outras especificidades.
No Rio de Janeiro, estado com a maior quantidade de pessoas na lista, algumas iniciativas tentam reverter o cenário.
Com a campanha Setembro Verde, o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO) atingiu a marca de 1.500 captações de tecidos, que incluem ossos, tendões, meniscos e cartilagens. O INTO prevê ainda que a captação de globos oculares neste ano seja a maior desde a inauguração do banco de orgãos.
Já o Grupo Zelo, de serviços funerários, tenta conscientizar a população sobre a doação. De acordo com a companhia, de um total de 200 pessoas entrevistadas, 60,2% desconhecem os desejos de familiares e amigos em relação ao tema.
Se comparada ao regulamento de outros países, a legislação brasileira ainda caminha a passos lentos no que diz respeito à doação.
O atual secretário municipal de Saúde do Rio e deputado federal, Daniel Soranz, é um dos coautores de um projeto de lei no Congresso que pretende que seja indicada no documento de identidade a decisão de não doar. Caso não seja feito o registro, será presumido que o cidadão é um doador. Soranz pontua que o 'empurrãozinho' pode salvar muitas vidas.
"Pelo desenho do projeto de lei a doação de orgãos irá virá presumida. É muito importante a desburocratização, que as pessoas não precisem colocar na sua carteira de identidade que são doadores", defende.
"Isso facilita a burocracia e aumenta a possibilidade de novos doadores. E claro, se a pessoa não quiser doar ela pode registrar no seu documento que não é doadora, invertendo a lógica e considerando que a maioria da população é favoravel a doação".
O projeto se baseia na legislação espanhola. No país europeu, a Organización Nacional de Trasplantes (ONT) formou mais de 18.000 colaboradores para conversar com as famílias de pessoas que morreram para realizarem a boa ação.
Doe órgãos, Doe vida
No último dia 21 de agosto, o Grupo Bandeirantes lançou, com apoio do Minisitério da Saúde, a campanha "Doe órgãos, Doe vida", uma conscientização para a doação de órgãos e tecidos. ))
Segundo a pasta, atualmente, há 617 hospitais e 1.495 equipes autorizados a realizar transplantes no Brasil.