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Elza Soares será velada no Theatro Municipal nesta sexta-feira

A cantora morreu no mesmo dia em que partiu seu grande amor, Mané Garrincha, que se despediu em 20 de janeiro de 1983

Maurício Bastos

Sambista, cantora, compositora, negra, mulher. Elza deixa um legado de luta e resistência
Sambista, cantora, compositora, negra, mulher. Elza deixa um legado de luta e resistência
Reprodução/RedesSociais/Denise Ricardo

Será velada na manhã desta sexta-feira (21), no Theatro Municipal, no Centro do Rio, a cantora e compositora Elza Soares. Ela morreu na tarde desta quinta-feira (20), de causas naturais, aos 91 anos. Elza passou mal em casa, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. Uma ambulância foi chamada para o atendimento, mas ela já estava sem vida.

Um dos principais nomes da música brasileira, considerada uma das maiores artistas do mundo, a cantora foi eleita a voz brasileira do milênio. Faz parte da lista das 100 maiores vozes da música brasileira, elaborada pela revista Rolling Stone Brasil.

Elza Gomes da Conceição nasceu em uma família de 10 irmãos, na Vila Vintém, comunidade no bairro de Padre Miguel, na Zona Oeste do Rio. Antes de ser alçada à condição de estrela, teve a vida marcada por muito sofrimento.

Casou-se aos 12 anos, forçada pelo pai. Aos 13, teve o primeiro filho, que morreu com poucas semanas de vida. Aos 21 anos, ficou viúva. Teve oito filhos.

Para o jornalista e crítico musical Ricardo Cravo Albin, Elza Soares é a síntese da personalidade brasileira, de dificuldade e - principalmente - superação.

Elza Soares morre no mesmo dia em que partiu seu grande amor, Mané Garrincha, se despediu, há exatamente 39 anos, em 20 de janeiro de 1983.

Elza se casou com o ídolo do Botafogo e bicampeão mundial pela Seleção Brasileira em 1966, aos 36 anos, quatro anos após conhecê-lo, em uma apresentação, na Copa do Mundo do Chile. Viveu com o jogador por quase duas décadas. Garrincha era alcoólatra e, entre idas e vindas, o relacionamento foi marcado por agressões, ciúmes e muita violência.

Segundo o escritor Ruy Castro, autor da biografia de Garrincha, Elza tinha uma paixão quase maternal pelo jogador que tanto a fez sofrer e, ao mesmo tempo, proporcionou as maiores alegrias.

Para o jornalista Zeca Camargo, autor da biografia da cantora, nunca houve uma mulher como Elza Soares. Uma mulher que, segundo ele, não deveria ter existido, tamanha a luta que enfrentou.

A história de Elza foi retratada não apenas em livro. Foi enredo de escola de samba - da escola do coração dela. Em 2020, Elza Soares foi homenageada na Marquês de Sapucaí, no desfile da Mocidade Independente de Padre Miguel. "Elza Deusa Soares", o enredo da verde-e-branco da Zona Oeste do Rio, relembrou a era de ouro do rádio, nos anos 50, época em que a menina da lata d’água na cabeça se projetou ao estrelato.

Estrela, símbolo da Mocidade, escola que reverenciou Elza nos versos de seu samba e na mensagem de despedida, nas redes sociais: "És a Estrela! Seu povo esperou tanto pra revê-la! E reviu! Reviu o seu amor Independente passar na Avenida da forma mais linda possível!"

O mundo do samba, comovido, também lamenta a morte da cantora. O cantor Zeca Pagodinho guarda as lembranças felizes de Elza Soares.

Para a cantora Alcione, Elza Soares foi a maior sambista de todos os tempos.

Sambista, cantora, compositora, negra, mulher. Elza deixa um legado de luta e resistência.

O prefeito do Rio Eduardo Paes decretou luto de três dias pela morte de uma das artistas que melhor representaram a personalidade do brasileiro.

Elza Soares será enterrada na tarde desta sexta-feira (21), no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, na Zona Oeste do Rio.

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