Especialistas alertam para cuidados no consumo, após escândalo de carnes estragadas

Quatro homens foram presos por armazenarem 800 toneladas do alimento que ficou submerso

Anna Alves *(sob supervisão)

Especialistas alertam para cuidados no consumo, após escândalo de carnes estragadas
Foram 800 toneladas de carne revendidas
Reprodução/Pcerj

Especialistas ouvidos pela reportagem da BandNews FM alertam para os cuidados durante a compra e o consumo de produtos após o caso da empresa que revendia carnes estragadas no Sul Fluminense. 
 
Na última quarta-feira (22), quatro homens foram presos em flagrante pela Polícia Civil por armazenarem 800 toneladas do alimento que ficou submerso por mais de 30 dias nas enchentes de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O produto foi comercializado em todo o Brasil. 
 
De acordo com a nutricionista Bruna Klein, ingerir carne estragada não é apenas um risco imediato, já que pode levar ao desenvolvimento de doenças mais delicadas.

Quando carne estragada é ingerida, os perigos vão muito além de um desconforto digestivo. Contaminações por Salmonella, E. Coli e Listeria podem causar intoxicações alimentares graves. Além disso, há o risco de Botulismo, uma infecção rara e potencialmente fatal, causada pela toxina da bactéria. Essa toxina pode provocar paralisia muscular, incluindo os músculos respiratórios, que podem levar a falência de órgãos ou a morte. Os produtos químicos usados para "maquiar" essa carne, como corantes artificiais, conservantes industriais, também podem causar irritação gastrointestinal, intoxicação alimentar e aumentar o risco de câncer. Os sintomas de alerta: dores abdominais intensas, febre que não abaixa, vômitos incontroláveis, diarreia severa e sinais de desidratação, como boca seca e fraqueza extrema. Caso esses sintomas apareçam após o consumo de alimentos suspeitos, procure imediatamente uma emergência.

 A compra e a ingestão de carne estragada do caso investigado pela Polícia Civil não é um caso isolado. Mesmo tomando todos os cuidados necessários, qualquer consumidor pode se ver diante dessa situação, seja em restaurantes, lanchonetes, açougues e supermercados. 
 
O estudante João Victor Machado compartilhou que já passou por essa experiência dentro da própria casa, em um jantar de família. Na ocasião, ele e os parentes perceberam o problema ao notarem o gosto estranho da carne. 

Eu comi carne estragada num jantar de família que teve aqui em casa. A gente comprou a carne no mesmo dia, no mercado que a gente sempre compra as coisas aqui perto e acabou que estava meio passada a carne. A gente só percebeu que estava estragada depois de comer um pouco, sentindo um gosto estranho, não tinha certeza se era da carne, se era do arroz, se era de outra coisa e acabou demorando um pouco para perceber. Isso fez com que a gente comesse uma quantidade relativamente grande dessa carne, que causou uma reação em todo mundo, todo mundo teve alguns sintomas, por exemplo, teve gente que teve diarreia, eu fiquei vomitando 2 dias, acabou que ninguém precisou ir ao hospital, graças a Deus, mas todo mundo ficou passando mal.

Apesar de ser possível "maquiar" a aparência e o cheiro de uma carne vencida, por meio do uso de produtos químicos e até de água para aumentar o peso do alimento, esse processo não é simples. Edimilson Migowski, médico e professor de doenças infectocontagiosas da UFRJ, explica que alguns outros sinais indicam que a proteína não está em boas condições de consumo. 

Ela pode ter um brilho estranho, pode estar com um odor também estranho, às vezes esverdeada, o que sugere então que aquela carne não está muito legal. E a carne não é para ter um odor de podre, está estragada ou estragando e deve ser realmente evitada. Eu ressalto que algumas toxinas produzidas por algumas bactérias que podem contaminar essa carne estragada, algumas são termoresistentes. Mesmo que você coma uma carne que foi cozida, que foi ao fogo, ainda assim, essas toxinas podem se manter viáveis e você pode ter diarreia e vômito de imediato. E dependendo da gravidade, realmente pode causar o óbito, por isso que é importante evitar, adoecendo, comunicar o serviço médico, manter uma boa hidratação e até eventualmente lançar mão de antibiótico se essa carne tiver alguma bactéria de maior agressividade.

A operação "Carne Fraca" teve como objetivo cumprir nove mandados de busca e apreensão contra sócios da empresa "TEM DI TUDO", no município de Três Rios, no Sul Fluminense. A grande quantidade de carne foi adquirida por cerca de 80 mil reais. Em bom estado, poderiam valer até 5 milhões, o que equivale à 62 vezes mais. 
 
A empresa alegou que a intenção era fabricação de ração animal e graxa. No entanto, o delegado Wellington Vieira explica que o grupo vendeu a carne bovina estragada para consumo humano para várias empresas. 

A carne não chegou nem aqui no Rio de Janeiro, ela já foi transportada para diversos outros compradores, que não sabiam da procedência. 32 carretas que saíram lá do Sul para diversos destinos no Brasil.

A empresa, alvo de investigação, obteve um lucro de mais de 1.000% e colocando em risco consumidores de todo o Brasil. A mercadoria foi distribuída para diferentes estados como um produto em boas condições. Uma das empresas adquirintes revendeu o material para o frigorífico gaúcho que reconheceu o produto e denunciou o caso 
 
Os mesmos sócios também são investigados pela Polícia Civil por roubar cargas tombadas em rodovias para comercialização. 

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