Especialistas divergem sobre ações de redução da demanda comercial de petróleo

Diretor da Petrobras afirmou que novos combustíveis devem pressionar ainda mais os fósseis

Por João Videira (sob supervisão)

Especialistas divergem sobre ações de redução da demanda comercial de petróleo
Plataforma de petróleo na Baía de Guanabara, Rio de Janeiro
Tânia Rego/Agência Brasil

Especialistas divergem sobre a declaração do diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Maurício Tolmasquim, em que cita uma possível queda da demanda por petróleo no mundo em 40% até 2050.

Em um evento do BNDES na segunda-feira (5), o diretor da companhia analisou que, dentre os três cenários desenhados pela Agência Internacional de Energia (AIE) para o futuro do setor de óleo e gás, o mais provável é o de queda da procura pelo combustível.

Audiência pública da Subcomissão Temporária que acompanha a execução das obras da usina de Belo Monte: presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim<br>Foto: Pedro França/Agência Senado
Maurício Tolmasquim - Reprodução/Agência Senado

"Nesse contexto, um fato inquestionável é que a demanda de petróleo no mundo vai cair. Podemos discutir os cenários e, com algum otimismo, vai se atender o que ficou acordado em Paris, com a demanda caindo 40% nas próximas décadas", disse.

Ansgar Pinkowski, diretor de Transição e Sustentabilidade da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, acredita na previsão.

“Eu acredito sim que esses 40% vão acontecer. Temos a emissão de carbono, temos a cobrança de taxas de carbono. No futuro, a estimativa é de que tudo isso vai contribuir para um declínio de uso de petróleo nos próximos décadas”, afirma.

Já Marcus D'Elia, economista especialista em óleo e gás, defende que não há um esforço concreto dos governos em metas para a redução do consumo e do uso de combustíveis fósseis.  

“Eu diria que esse não é o cenário mais provável, ele é um cenário possível, mas o cenário mais provável é o de uma estabilização do consumo mundial de petróleo em torno de 100 milhões de barris por dia.”

Segundo a AIE, para a redução da demanda, nações ao redor do mundo precisariam parar de aprovar projetos de novas usinas movidas a carvão e novos campos de petróleo e gás.

Os países também precisam eliminar rapidamente os veículos movidos a gasolina, se quiserem evitar efeitos mais fortes da mudança climática. 

Na declaração, Maurício Tolmasquim lembrou que 128 países, que concentram 88% das emissões globais de carbono e 92% do PIB mundial, assumiram compromissos oficiais para redução da liberação do gás.  

No Brasil, os esforços ainda estão restritos a iniciativas como o RenovaBio, da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O projeto estabelece metas anuais de descarbonização para o setor de combustíveis. Mas, na avaliação de D'Elia, é ainda um pequeno esforço.

“Com relação ao Brasil a gente não tem ainda uma visão clara. Uma vez que a gente não tem metas para essa redução do consumo de fósseis estabelecidas. E não temos políticas energéticas para uma transição energética eficaz. É preciso um posicionamento mais claro”.

Já Pinkowski acredita que ainda há tempo para que seja concretizada a transição para o uso alternativo de combustíveis menos poluentes.  

“Nós temos ainda um prazo de vinte anos para essa modernização para fontes mais mais sustentáveis. E o Brasil tem todo o potencial por causa de sua matriz grande de renováveis, principalmente no Nordeste, mas também no Rio de Janeiro e em outros lugares que têm todo um potencial de liderar esse esse mercado.”

Presidente Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar pontua a disposição da Petrobras para enfrentar o uso excessivo de combustíveis fósseis, mas diz que ainda depende de maiores esforços.

“A mudança de carros com motores a combustão, que são movidos por combustíveis fósseis, é necessária mas não é feita num estalar de dedos”, diz.

“Há uma série de resistências pra essa mudança de consumo da população brasileira e a Petrobras precisa se tornar uma empresa de energia que as observe, tendo em perspectiva o futuro da própria companhia”, completa.

No entanto, a empresa ainda depende da inclusão concreta de metas estabelecidas pelo diretor de Transição Energética no Plano Estratégico da empresa.

Na última versão, aprovada pelo Conselho de Administração da companhia, havia a previsão de investimentos de 6% a 15% em baixo carbono, ante a 6% determinados no plano anterior.

No documento, a Petrobras disse que o elemento visa preparar a empresa para o compromisso com um "futuro mais sustentável".

Segundo Ansgar Pinkowski, além da competição das fontes limpas já existentes, resta saber se um dia a companhia irá diversificar sua matriz ao ponto de deixar de ser chamada de petroleira.  

“Se a Petrobras realmente abraçar essa ideia e ir firme nesses nessa direção e nesse propósito de se tornar mais uma empresa mais sustentável, com uma pegada de cada vez menor, talvez no futuro, daqui a vinte anos, ela possa deixar de ser chamada de petroleira.”

Mais notícias

Carregar mais