Especialistas divergem sobre a declaração do diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da Petrobras, Maurício Tolmasquim, em que cita uma possível queda da demanda por petróleo no mundo em 40% até 2050.
Em um evento do BNDES na segunda-feira (5), o diretor da companhia analisou que, dentre os três cenários desenhados pela Agência Internacional de Energia (AIE) para o futuro do setor de óleo e gás, o mais provável é o de queda da procura pelo combustível.
"Nesse contexto, um fato inquestionável é que a demanda de petróleo no mundo vai cair. Podemos discutir os cenários e, com algum otimismo, vai se atender o que ficou acordado em Paris, com a demanda caindo 40% nas próximas décadas", disse.
Ansgar Pinkowski, diretor de Transição e Sustentabilidade da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, acredita na previsão.
“Eu acredito sim que esses 40% vão acontecer. Temos a emissão de carbono, temos a cobrança de taxas de carbono. No futuro, a estimativa é de que tudo isso vai contribuir para um declínio de uso de petróleo nos próximos décadas”, afirma.
Já Marcus D'Elia, economista especialista em óleo e gás, defende que não há um esforço concreto dos governos em metas para a redução do consumo e do uso de combustíveis fósseis.
“Eu diria que esse não é o cenário mais provável, ele é um cenário possível, mas o cenário mais provável é o de uma estabilização do consumo mundial de petróleo em torno de 100 milhões de barris por dia.”
Segundo a AIE, para a redução da demanda, nações ao redor do mundo precisariam parar de aprovar projetos de novas usinas movidas a carvão e novos campos de petróleo e gás.
Os países também precisam eliminar rapidamente os veículos movidos a gasolina, se quiserem evitar efeitos mais fortes da mudança climática.
Na declaração, Maurício Tolmasquim lembrou que 128 países, que concentram 88% das emissões globais de carbono e 92% do PIB mundial, assumiram compromissos oficiais para redução da liberação do gás.
No Brasil, os esforços ainda estão restritos a iniciativas como o RenovaBio, da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O projeto estabelece metas anuais de descarbonização para o setor de combustíveis. Mas, na avaliação de D'Elia, é ainda um pequeno esforço.
“Com relação ao Brasil a gente não tem ainda uma visão clara. Uma vez que a gente não tem metas para essa redução do consumo de fósseis estabelecidas. E não temos políticas energéticas para uma transição energética eficaz. É preciso um posicionamento mais claro”.
Já Pinkowski acredita que ainda há tempo para que seja concretizada a transição para o uso alternativo de combustíveis menos poluentes.
“Nós temos ainda um prazo de vinte anos para essa modernização para fontes mais mais sustentáveis. E o Brasil tem todo o potencial por causa de sua matriz grande de renováveis, principalmente no Nordeste, mas também no Rio de Janeiro e em outros lugares que têm todo um potencial de liderar esse esse mercado.”
Presidente Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar pontua a disposição da Petrobras para enfrentar o uso excessivo de combustíveis fósseis, mas diz que ainda depende de maiores esforços.
“A mudança de carros com motores a combustão, que são movidos por combustíveis fósseis, é necessária mas não é feita num estalar de dedos”, diz.
“Há uma série de resistências pra essa mudança de consumo da população brasileira e a Petrobras precisa se tornar uma empresa de energia que as observe, tendo em perspectiva o futuro da própria companhia”, completa.
No entanto, a empresa ainda depende da inclusão concreta de metas estabelecidas pelo diretor de Transição Energética no Plano Estratégico da empresa.
Na última versão, aprovada pelo Conselho de Administração da companhia, havia a previsão de investimentos de 6% a 15% em baixo carbono, ante a 6% determinados no plano anterior.
No documento, a Petrobras disse que o elemento visa preparar a empresa para o compromisso com um "futuro mais sustentável".
Segundo Ansgar Pinkowski, além da competição das fontes limpas já existentes, resta saber se um dia a companhia irá diversificar sua matriz ao ponto de deixar de ser chamada de petroleira.
“Se a Petrobras realmente abraçar essa ideia e ir firme nesses nessa direção e nesse propósito de se tornar mais uma empresa mais sustentável, com uma pegada de cada vez menor, talvez no futuro, daqui a vinte anos, ela possa deixar de ser chamada de petroleira.”