Famílias negras e pobres têm mais dificuldade em casos de desaparecimento

Centro de Estudos de Segurança e Cidadania mapeou a vivência e a experiência de parentes durante procedimentos investigatórios

Gustavo Sleman

Negros e pobres são quem mais enfrentam dificuldades na busca por desaparecidos Tânia Rêgo/Agência Brasil
Negros e pobres são quem mais enfrentam dificuldades na busca por desaparecidos
Tânia Rêgo/Agência Brasil

Uma pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania aponta que famílias negras e pobres de desaparecidos são as que mais enfrentam dificuldades em relação ao atendimento e investigação sobre os casos no Rio de Janeiro. Divulgado nesta quinta-feira (26), o estudo mapeou a vivência e a experiência de parentes durante os procedimentos investigatórios e também o percurso por instituições em busca de apoio, respostas e soluções.

O levantamento também listou aqueles que são considerados os principais obstáculos para os familiares e amigos. Apesar de contar com mais de 16 milhões de habitantes, o estado possui apenas uma delegacia especializada no tema.

Localizada na Zona Norte da capital fluminense, a Delegacia de Descoberta de Paradeiros abrange apenas o município do Rio, deixando de investigar, segundo a pesquisa, mais de 55% das ocorrências em todo Rio. Segundo o estudo, a Baixada Fluminense e as cidades de São Gonçalo e Niterói registraram nos últimos 10 anos 38% dos desaparecimentos do estado e 46% dos da Região Metropolitana.

Para a pesquisadora Paula Napolião, o estudo mostrou como a falta de políticas públicas mais efetivas impacta diretamente a elucidação dos casos.

Outro ponto abordado foi do estereótipo de que a maioria dos casos é referente a adolescentes que fogem de casa e aparecem alguns dias depois, o que segundo as mães ouvidas pela pesquisa, é dito até mesmo por agentes de segurança. No entanto, o levantamento mostrou que nos últimos 13 anos, 60,5% dos desaparecidos no Rio de Janeiro tinham 18 anos ou mais.

O filho de Claudia de Melo, Rodrigo de Melo Silva, desapareceu em maio de 2008, em Japeri, na Baixada. Além da angústia pelo desaparecimento, ela passou a investigar por conta própria o paradeiro do jovem devido as dificuldades e burocracias enfrentadas com órgãos oficiais.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2019, o Estado do Rio de Janeiro ocupava o sexto lugar em números absolutos de registros de casos de pessoas desaparecidas. Apenas nos últimos três anos, a Assembleia Legislativa do Rio contabilizou 32 projetos de lei, aprovados ou não, sobre o tema dos desaparecidos.

Marcia Albuquerque viu o filho, Jowayner Athayde, pela última vez em 2013. Ela também teve que enfrentar o descaso das autoridades na luta para encontrar o jovem.

Além de mães, o estudo também traz entrevistas com profissionais de diversos órgãos públicos atuantes na área e parentes de desaparecidas que dirigem Organizações Não Governamentais.

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