O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, teve as visitas de familiares suspensas na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná. A informação é da Polícia Civil, que deflagrou uma operação na manhã desta terça-feira (10), com o Ministério Público contra uma organização criminosa responsável pelo roubo de veículos de carga em pelo menos três vias no estado do Rio. Os investigadores desconfiam que parentes repassavam informações privilegiados ao criminoso.
Os roubos acontecem na Avenida Brasil, na Rodovia Washington Luís e na Rio-Magé. Os criminosos são de quatro comunidades de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, reduto dos bandidos. Vinte e oito pessoas envolvidas com o tráfico e integrantes do Comando Vermelho foram denunciadas pelo Ministério Público. A ordem para os roubos parte, na maioria das vezes, de dentro dos presídios, segundo o órgão estadual.
Fernandinho Beira-Mar está preso desde 2001. O traficante acumula diversas penas, que somam mais de 300 anos. Segundo o Ministério Público, ele ordenava os roubos de dentro dos presídios e determinava as lideranças locais de cada região dominada.
Nesta terça-feira (10), ao menos dois homens foram presos em flagrante por porte de drogas e armas em endereços ligados à organização criminosa.
Ainda segundo o MP, os roubos de carga financiam o tráfico de drogas, já que 50% dos produtos dos crimes são destinados ao Comando Vermelho. A ação faz parte da segunda fase da Operação Torniquete, que tem como objetivo reprimir roubos, furtos e receptação de cargas e de veículos.
O prejuízo estimado pelos crimes é de cerca de R$ 4 milhões em três anos. Um dos crimes analisados pelos investigadores foi praticado em maio do ano passado no Jardim Ana Clara. Dois funcionários de uma empresa são abordados por bandidos, que obrigam que uma das vítimas tirasse a camisa e colocasse sob a câmera de segurança instalada dentro do caminhão. A ação começou antes do meio-dia.
A organização criminosa utiliza armamento e aparelho bloqueador de sinais fornecidos pela facção no momento das abordagens. Segundo a delegada Patrícia Uana, o trabalho investigativo durou dois anos. Ela disse que os criminosos tinham conhecimento técnico, por exemplo, da utilização de bloqueadores de sinais.
Os agentes cumprem os mandados de busca e apreensão em endereços ligados aos acusados e na Penitenciária Moniz Sodré, Cadeia Pública Jorge Santana, Presídio Ary Franco, Penitenciária Jonas Lopes de Carvalho, Presídio Pedro Mello da Silva, Cadeia Pública Paulo Roberto Rocha, Penitenciária Moniz Sodré e Penitenciária Jonas Lopes de Carvalho. Seis celulares foram apreendidos.
Desde setembro, no âmbito da segunda fase da Operação Torniquete, mais de 240 pessoas foram presas. Agora, a próxima fase da investigação é identificar os receptores dos produtos roubados.
Ao mesmo tempo, especialistas no setor de cargas mostram preocupação com o aumento de crimes. Se antes as cargas de alimentos e bebidas, por exemplo, eram as mais procuradas pelos criminosos, a mudança de mentalidade acendeu o alerta.
Agora, produtos como polietileno, ferro silício e até caminhão Munck, de transporte e içamento de objetos, se tornaram atrativos para os criminosos. Para o presidente do Sindicato das Empresas do Transporte Rodoviário de Cargas e Logística do Rio de Janeiro, Filipe Coelho, não existe mais aquele roubo de "camelô".
Que não é aquele roubo do camelô, é o roubo de matéria-prima, o roubo de carga que tem consumidor dirigido, entendeu? Existem indústrias, por quê? Porque tem produto que é roubado, por exemplo, polietileno lá. Quem vai consumir se não uma indústria? O próprio Caminhão Munck, que não tinha roubo esse ano, já foram quase 40.
Mil e quarenta e cinco roubos de carga foram registrados no estado do Rio entre agosto e outubro de 2024. Na comparação com o mesmo período do ano passado, quando 533 casos foram notificados, o aumento é de 96%. Só em outubro, o crescimento é de 87%. No acumulado do ano, a redução é de 9% frente ao ano passado. Os dados são do Instituto de Segurança Pública. Os roubos acontecem, na maioria das vezes, entre terça-feira e sexta-feira, das 8 às 12 horas em território fluminense.
Para Filipe Coelho, o problema também está no Poder Judiciário. Segundo o presidente do Sindicarga, o sindicato manda advogado próprio em audiências de custódias que envolvem criminosos presos por roubo de carga para evitar que o suspeito seja liberado.
"Ele prende, ele vai responder em liberdade, e se ele for condenado, devido à pena ser muito branda, ele não fica preso. Eu tenho relatos aqui de policiais, ele nem acabou de lavar ainda a ocorrência na polícia e já teve uma audiência de custódia e o criminoso está saindo. E aí lá na sindicato nós fazíamos um acompanhamento das audiências de custódia, a gente manda divulgado lá. Para quê? Para poder ajudar e fazer com que esse criminoso fique preso."
A delegacia com o maior registro de roubos de carga no estado em 2024 é a mesma que deflagrou a operação desta terça-feira (10) com o Ministério Público.
Em 2023, um grupo acusado de roubar pelo menos 28 caminhões na Baixada Fluminense causou um prejuízo de R$ 15 milhões aos alvos dos crimes, segundo estimativa da Polícia Civil. A maior parte dos veículos era do tipo munck.
Os caminhões eram levados para outros estados, como Minas Gerais e Espírito Santo.