Oitocentos e vinte e um agentes de segurança pública tiraram a própria vida entre 2018 e 2023 no país, segundo um estudo sobre saúde mental do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio.
A informação consta na sexta edição do Boletim de Notificação de Mortes Violentas Intencionais Autoprovocadas e Tentativas de Suicídio entre Profissionais de Segurança Pública no Brasil, divulgado nesta quinta-feira (26).
Oitenta e seis por cento das vítimas de suicídio da ativa eram do sexo masculino. Os agentes que trabalhavam no período de 11 a 20 anos representam 21% dos episódios. Vinte e sete por cento tinham entre 30 e 39 anos de idade.
Setenta e seis a cada 100 casos são de policiais civis, militares, e profissionais das perícias técnicas. No período, 226 profissionais inativos da segurança pública cometeram suicidio. Do total, 85% eram policiais militares.
Nesta quinta-feira (26), durante o lançamento da nova edição na sede do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, no Centro da capital Fluminense, o secretário de Polícia Militar do Rio, Coronel Marcelo Menezes, lamentou os dois casos de suicídio registrados dentro da Corporação na última semana.
No período de seis anos analisados pelo Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio, 62 casos de homicídio ou feminicídio seguidos de suicídio foram registrados por fontes oficiais. 81% das vítimas do homicídio ou feminicídio possuíam algum vínculo íntimo anterior ou atual com a vítima do suicídio.
Por outro lado, o Boletim IPPES 2024 também levantou dados sobre as instituições que possuem profissionais para a assistência dos agentes de segurança pública.
Atualmente, somente uma das 24 guardas municipais das capitais do país possuem profissionais da psiquiatria, por exemplo. Em relação às polícias militares do Brasil, 18 das 27 Corporações possuem o setor disponível para os agentes.
Ainda na psiquiatria, somente três das 27 polícias penais possuem profissionais do setor. ((Entre as que não oferecem o serviço está a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro, que passou a fazer parte do Programa de Assistência Ampla e Integrada à Saúde Mental e à valorização dos agentes de segurança pública do estado do Rio do Ministério Público do Trabalho.
São cinco mil inspetores de polícia penal ativos e dois mil inativos. Ao todo, são cerca de 43 mil presos em regime fechado.
A policial penal Ludmila Abrante entrou no sistema prisional em 2001. A servidora começou a perceber que o trabalho impactava a saúde mental, principalmente depois de um plantão de 24 horas trabalhadas. Ela contou à BandNews FM que chegou a sentir medo de andar na rua e que buscou ajuda durante a pandemia de Covid-19.
Eu tinha dificuldade de andar na rua, preocupada se alguém me reconheceria. Eu comecei a perceber que a gente estava escasso de um cuidado, de um olhar e passei a buscar a ajuda. A gente é treinado para não mostrar nenhum tipo de vulnerabilidade.
Em relação ao serviço de psicologia, 14 dos 27 Corpos de Bombeiros do país possuem profissionais especializados desse setor. Já em relação às polícias militares, 22 das 27 Corporações possuem psicólogos para atendimento.
Por outro lado, há menos polícias civis no país com o serviço. São 19 considerando todas as 27 instituições das capitais.
Já sobre o número de assistentes sociais no Brasil, 19 das 27 polícias militares possuem o serviço. Treze do mesmo total de polícias civis também disponibilizam profissionais.
O Boletim IPPES é publicado de forma anual e traz dados sobre o comportamento suicida entre profissionais de segurança pública. Os registros são pedidos para as autoridades via Lei de Acesso à Informação.