Mapa da fome: Quase meio milhão de cariocas não tem o que comer

A informação faz parte do Primeiro Inquérito de Insegurança Alimentar do município do Rio

Por João Boueri

Mapa da fome: Quase meio milhão de cariocas não tem o que comer
Estudo foi realizado pelo Instituto de Nutrição Josué de Castro
Divulgação/Prefeitura de Goiânia

Cerca de dois milhões de cariocas enfrentam algum grau de insegurança alimentar, seja leve, moderado ou grave. A informação faz parte do Primeiro Inquérito de Insegurança Alimentar do município do Rio, divulgado nesta quarta-feira (29), pela Câmara Municipal.

Quase um milhão de cariocas convivem com manifestações mais severas de insegurança alimentar. Quatrocentas e oitenta e oito pessoas vivem com apenas uma refeição ao dia ou ficam sem comer o dia inteiro. O estudo foi realizado pelo Instituto de Nutrição Josué de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e a Frente Parlamentar contra a Fome e a Miséria.

Segundo a pesquisa, a insegurança alimentar grave da população carioca é maior em residências chefiadas por mulheres, em domicílios com população preta ou parda ou escolaridade mais baixa.

Os moradores das regiões da AP3, que reúne bairros como Pavuna, Vigário Geral, Madureira, Maré e o Complexo do Alemão, na Zona Norte; e a AP5, que compreende a região de Santa Cruz, Campo Grande e Realengo, na Zona Oeste, são as que mais convivem com a fome na capital fluminense.

Para a professora e pesquisadora do Instituto de Nutrição da UFRJ, Rosana Salles, o desemprego também contribui para o aumento da insegurança alimentar.

Esse é um ponto bastante importante. Quanto menor a renda, maior a insegurança alimentar grave, ou seja, maior a fome nos lares das famílias cariocas. Podemos colocar também nesse resultado que a menor escolaridade também está relacionada a maior insegurança alimentar, como também quando eu olho o chefe da família e que ele estava ou com emprego informal ou principalmente desempregado. Isso soma-se uma série de fatores que estão aumentando essa desigualdade, e assim não é infelizmente de surpreender esse cenário preocupante no nosso município.

No quarto trimestre do ano passado, 28 a cada 100 domicílios no país eram afetados por algum grau de insegurança alimentar, segundo dados do IBGE. O porcentual corresponde a mais de 21 milhões de residências. Já 3 milhões e 200 mil domicílios enfrentavam a forma mais grave de insegurança alimentar.

No Brasil, o cenário mais grave foi identificado em áreas rurais. A proporção de domicílios particulares em insegurança alimentar moderada ou grave nessas regiões foi de 12,7%, contra 8,9% nas áreas urbanas.

Segundo o estudo, na comparação com os dados do IBGE, a fome é maior na população carioca e representa quase o dobro dos valores encontrados para o país.

A insegurança hídrica também se relaciona com a insegurança alimentar. O nível mais severo da fome atinge um terço das famílias com fornecimento de água irregular ou falta de água potável.

Diante do cenário, pesquisadores recomendaram a ampliação das cozinhas comunitárias no Rio. Na capital fluminense, a prefeitura criou em março de 2022 o programa Prato Feito Carioca, para garantir alimentação com qualidade para a população em situação de insegurança alimentar.  

No entanto, nos três meses anteriores à pesquisa o acesso ao programa foi de apenas 2,1%.

As entrevistas foram feitas em uma amostra de duas mil famílias cariocas entre novembro de 2023 e janeiro de 2024. Os pesquisadores utilizaram um questionariam com perguntas da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar.

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