Moradores denunciam o avanço da atuação de criminosos que tentam impor o serviço clandestino de Internet. A prática ocorre através do corte de cabos e ameaça de funcionários de empresas que tentam fazer os reparos. Pelo menos quatro bairros da capital fluminense estão sendo afetados, além da cidade de Niterói, na Região Metropolitana.
Na Zona Norte, em Olaria, na Rua Ministro Moreira de Abreu, a família de um ouvinte, que pediu para ser identificado apenas como Roberto, está há cerca de um mês sem acesso à internet.
O Batalhão de Olaria disse que está ciente da prática criminosa na região e que atua e trabalha em conjunto com a delegacia da área no intuito de identificar e prender os envolvidos. A PM também disse que está em alinhamento com as prestadoras de serviços para entender e suprir as demandas específicas. O policiamento e as ações de abordagens foram intensificados no bairro.
No Engenho de Dentro e no Méier, na mesma região, os moradores estão há quase uma semana sem internet. O problema começou na quinta-feira (29) passada. Criminosos cortaram os cabos das operadoras e ameaçam técnicos que tentam fazer os reparos.
Na Rua Camarista Méier, um dos principais acessos da Favela de mesmo nome, técnicos da operadora chegaram a tentar resolver o problema, mas foram expulsos por traficantes, como conta um morador que não quis se identificar.
"A Claro veio para reparar e desceram alguns meliantes de moto e mandaram ir embora. Senão iam perder carro, material ou até voltariam para casa. Já estou trabalhando em casa, outras pessoas que conheço fazem home office e não conseguem fazer."
Já em Guadalupe, a Polícia Civil disse que recebeu denúncias a respeito de casos semelhantes e está em busca de informações para identificar os responsáveis.
Em Niterói, na Região Metropolitana, a situação afeta moradores de um prédio no bairro do Fonseca. A dinâmica é parecida e demora dias para ser resolvida. Durante o período sem internet, propagandas de empresas alternativas são enviadas em grupos da região.
"Têm ocorrido muitos casos de furto de cabos, principalmente de internet, dias seguidos. No meu condomínio, acontece muito de ficar sem internet e o que dizem é que a justificativa da empresa é furto de cabos na redondeza. Quando acontece uma situação dessas, sempre vem uma ‘propagandazinha’ oferecendo internet. Isso acontece."
Nos últimos anos, a prática de cobrar uma taxa mensal de exploração de serviços se expandiu no estado do Rio de Janeiro e deixou de ser uma característica de milícias. Agora, os criminosos que integram o tráfico de drogas também cobram moradores e comerciantes, que ficam sem alternativas.
Em nota, a Conexis, entidade representante das principais operadoras de serviço de internet, disse que os crimes de "furtos, roubos e vandalismo causam prejuízo direto a milhões de consumidores todos os anos, que ficam sem acesso a serviços de utilidade pública" e que "em alguns estados o problema se soma ao bloqueio de acesso das equipes das prestadoras para a manutenção de seus equipamentos, usados para a prestação do serviço”.
Procurada, a Polícia Civil disse que, sobre os bairros do Méier, Zona Norte do Rio; e Fonseca, em Niterói, as delegacias das áreas não receberam denúncias sobre esses fatos específicos.