
O rebaixamento do lençol freático durante as obras da Estação de Tratamento de Esgoto da Barra da Tijuca agravou o ressecamento dos lagos do Bosque da Barra, na Zona Oeste. A conclusão é do Ministério Público do Rio.
O órgão estadual analisou documentações e fez vistorias no local. Os danos ambientais também foram agravados pelas obras.
A BandNews FM teve acesso ao relatório, que aponta que a concessionária Iguá, responsável pelas intervenções na Estação de Tratamento, sabia, mas omitiu a execução de rebaixamento do lençol freático nos materiais enviados para o Instituto Estadual do Ambiente, que autorizou os serviços.
Já o Inea, segundo o MP, classificou de forma errada a obra como de baixo impacto ambiental. Além disso, para o órgão, o instituto não reconheceu a "clara necessidade de rebaixamento de lençol freático para as intervenções previstas no projeto".
A conclusão do MP é que o Inea não foi "capaz de prever e cobrar medidas para mitigação dos possíveis danos ambientais causados pela obra" no terreno vizinho ao Parque Natural Municipal Bosque da Barra. O inquérito do órgão estadual foi instaurado no ano passado.
Segundo a gestão do Bosque da Barra, há risco iminente de perder todos os lagos após o rebaixamento do lençol freático e a recente estiagem no município do Rio.
Um outro relatório do Inea apontou que a situação acontece desde junho, coincidentemente com as obras de rebaixamento do lençol freático promovidas pela empresa Iguá.
A seca afeta a fauna local, como espécies ameaçadas de extinção. Pelo menos dois jacarés-de-papo-amarelo foram resgatados em condições de subnutrição.
Cerca de 90% dos indivíduos de espécies botânicas morreram. Além disso, praticamente 100% dos peixes da Área Norte do Bosque da Barra perderam a vida.
Um parecer da pasta aponta que não há informações sobre o volume de água bombeado do lençol freático e descartado pela concessionária Igua, principalmente entre junho e agosto. No documento, a secretaria afirma que a empresa também não sabia informar.
O MP ressaltou que não é adequado o abastecimento do lençol freático com água proveniente do sistema de abastecimento público, como o executado pela Igua, com água clorada, devido aos possíveis impactos das características físico e/ou químicas da água na biota local, podendo acarretar em novos danos ambientais.
Para o professor de Oceanografia da UERJ, Marcelo Sperle, o ideal era reestabelecer as condições anteriores do lençol freático.
O Ministério Público também cita a estiagem do ano passado como fator para a seca dos lagos do Parque Municipal.
Em outubro de 2024, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima afirmou que as áreas alagadas do Bosque da Barra estavam "quase que totalmente secas com morte elevada da fauna e da flora". No mesmo mês, o Inea destacou que a degradação ambiental era de difícil reparação.
Em nota, a Igua disse que o relatório do Ministério Público ainda não é definitivo. A concessionária afirmou que vai apresentar a resposta ao órgão demonstrando que não há correlação entre a seca sazonal nos lagos artificiais do Bosque da Barra e a execução das obras em questão. A empresa reafirmou que cumpriu todas os ritos e exigências dos órgãos competentes para a execução das obras.
Procurado, o Inea ainda não se posicionou.