O Ministério Público Federal vai apurar as responsabilidades e a participação do Banco do Brasil na escravização e no tráfico de pessoas negras no século 19. Segundo o órgão, a ação tem o objetivo de promover uma reflexão sobre o tema e garantir que crimes contra a humanidade como esse não voltem a acontecer, além de garantir mecanismos de reparação.
O inquérito civil foi instaurado após manifestação apresentada por um grupo de 15 professores e universitários de diferentes instituições nacionais e internacionais, que realizaram pesquisa sobre o silêncio e a falta de participação de entidades no combate à escravização de pessoas.
No caso do Banco do Brasil, os historiadores apuraram que havia uma relação de "mão dupla" da instituição com a economia escravagista da época. Segundo eles, o quadro de sócios e a diretoria da instituição são formados, em boa parte, por pessoas ligadas à escravatura.
De acordo com o procurador da República Julio Jose Araújo, a iniciativa abre uma reflexão sobre o assunto.
No documento, os procuradores dão um prazo de 20 dias para que o banco apresente considerações sobre a pesquisa e informe a posição a respeito da relação com o tráfico de pessoas negras escravizadas e as iniciativas de reparação em relação a esse período.
O MPF também pede o agendamento de uma reunião com a presidência do Banco do Brasil no dia 27 de outubro.
Na análise do historiador Rodrigo Rainha, é importante entender os vínculos entre as instituições e a escravatura.
Em nota, o Banco do Brasil afirmou que está à disposição do Ministério Público Federal e que considera que a história do país e as relações com a escravidão das comunidades negras precisam ser um processo de reflexão permanente. A instituição ainda disse que entende que a reparação histórica é uma responsabilidade de toda a sociedade.
O banco também ressaltou que, em julho, assinou um Protocolo de Intenções com o Ministério da Igualdade Racial para ações direcionadas à superação da discriminação racial, à inclusão e à valorização das mulheres negras.