A cidade do Rio de Janeiro vai ter uma nova Bolsa de Valores no segundo semestre do ano que vem. O anúncio foi feito na manhã desta quarta-feira (3) pelo presidente da Americas Trade Group, controlada desde o ano passado pela Mubadala Capital, um fundo soberano com sede em Abu Dhabi.
O prédio onde vai funcionar o centro de negociações ainda não definido. O secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico, Chicão Bulhões, disse que há negociações em andamento para o edifício do antigo Automóvel Clube, no Centro do Rio, receba o projeto. No entanto, ele não descartou outros bairros.
A nova bolsa já deve começar a ser testada de forma temporária por seis meses a partir de dezembro, segundo a Americas. A negociação de ações será realizada no mesmo molde da B3, que chegou a resistir a ideia de uma concorrente no país, segundo o presidente da ATG.
Durante a cerimônia realizada na sede da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), na região central, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, sancionou o projeto de lei que cria incentivos à instalação da Bolsa de Valores na capital fluminense.
A medida reduz para 2% o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) que incide sobre as atividades a serem desempenhadas por uma bolsa de valores, mercadorias e futuros, bem como sobre as atividades exercidas por sociedades que atuam na negociação, liquidação e custódia de ativos financeiros. O projeto de lei proposto pelo município foi aprovado pela Câmara Municipal do Rio no mês passado.
Segundo a Prefeitura do Rio, a nova bolsa vai negociar ações, derivados, câmbio e commodities e competir com a B3, em São Paulo.
Eduardo Paes disse que a redução do ISS permite também a redução de custos dos investimentos, já que permite a criação da nova bolsa e gera concorrência.
No entanto, para o economista e membro da Comissão Consultiva de Normas Contábeis dos Fundos de Investimentos da Comissão de Valores Mobiliários, Gilberto Braga, ainda não seria possível dizer que a nova bolsa de valores vai competir com a B3.
"A princípio, é difícil que uma nova bolsa possa competir com a B3, pelo menos no primeiro momento, para negociar os mesmos tipos de ativos. Entretanto, existem espaços para novos ativos, como, por exemplo, créditos de carbono e crítico. Embora a bolsa que está sendo proposta não especifica ou não restringe quais tipos de ativos serão negociados. A viabilidade de uma nova bolsa, ela certamente traz concorrência e existe a possibilidade, como no passado, de que os ativos listados na B3 eventualmente também possam ser negociados na nova bolsa do Rio, então a tendência é que os custos de transação possam ser diminuídos no futuro.
O economista Matheus Peçanha afirma que a criação da nova bolsa pode impactar na abertura de capitais de outras empresas."
"A criação de uma nova bolsa de valores no Brasil tem um potencial enorme de atração de novos investimentos, meio como um indutor de desenvolvimento no mercado de capitais brasileiro que ainda é emergente, ele ainda tem um volume muito aquém dos mercados mais maduros. Mas uma segunda bolsa pode atrair novos capitais de investidores e também de novas empresas abrindo capital, isso pode dar uma insuflar a atividade no mercado de capitais brasileiro com mais empresas sendo listadas, mais IPO's acontecendo, um aumento de volume, meio que uma oferta induzindo a demanda, mas pode acontecer. E principalmente, isso é a lei básica dos mercados, uma segunda bolsa vai trazer mais concorrência para esse mercado. Então isso, de modo geral, mais concorrência é sempre bom para os, entre aspas, consumidores. Nesse caso, os investidores, que podem se beneficiar de uma competição entre a B3 e a nova bolsa, através de taxas menores de administração para seus investimentos."
Apesar do anúncio, o processo regulatório ainda está pendente de aprovação no Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários. O pedido para atuar no mercado de bolsa feito pela Americas Trading Group (ATG) foi feito no ano passado. Segundo a ATG, a ideia de criar uma nova bolsa de valores no Brasil é construída há 12 anos.
O total de investidores pessoa física na bolsa brasileira cresceu 80% desde 2020, atingindo a marca total de 19,4 milhões em 2024. Os dados são da B3.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Fazenda e Planejamento, o setor financeiro entre 2021 e 2023 foi o quarto maior pagador de impostos do Rio, com o valor de R$ 1,5 bilhão. O valor representou 9,1% da arrecadação total.
Atualmente, o setor financeiro conta com 68,5 mil trabalhadores na capital fluminense. Dois mil e setecentos novos empregos foram criados no período. Com a possibilidade da vinda da bolsa ao Rio a estimativa da Prefeitura é criar novas oportunidades de trabalhando para os cariocas, movimentando a economia municipal.
A capital fluminense foi sede da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ). No entanto, ela foi descontinuada em 2002 e foi incorporada pela Bolsa de Valores de São Paulo, criando a B3 S.A. - Brasil, Bolsa e Balcão.
A sede da Comissão de Valores Mobiliários, que regulamenta o mercado financeiro, também é no Rio de Janeiro.
Bolsa de Valores RIo
BandNews FM