Um alerta da Organização das Nações Unidas sobre a rápida elevação do nível dos oceanos cita duas localidades brasileiras que devem ser diretamente afetadas: a cidade do Rio de Janeiro e o distrito de Atafona, em São João da Barra, no Norte Fluminense.
O relatório cita que o aumento do nível do mar está relacionado às consequências do aquecimento global, influenciado principalmente por dois fatores: a expansão das moléculas de água e o derretimento de calotas polares, como explica o professor do Departamento de Geografia da UFF em Campos, Eduardo Bulhões:
A maior parte do planeta é composta pelo oceano, e o oceano absorve a maior parte desse aquecimento. Quando o oceano absorve a maior parte desse aquecimento do planeta, as moléculas de água se expandem, causando elevação do nível do mar, e as áreas polares, as calotas polares e o gelo marinho, tanto do Ártico quanto da Antártica, vêm derretendo. Tudo isso faz com que o nível do mar se eleve, relatou Eduardo.
Nas duas cidades brasileiras citadas no documento, o nível do mar subiu 13 centímetros entre 1990 e 2020. A projeção até 2050, no entanto, é preocupante: segundo a ONU, o aumento pode chegar a 21 centímetros.
O professor da UFF, Eduardo Bulhões, explica que a elevação do nível dos oceanos gera diferentes problemas para a população das áreas litorâneas:
Isso tem impactos diretos nessas áreas litorâneas, com maior número de eventos de ressaca, com um volume maior de água, elas vão ficando cada vez mais perigosas. Há também um cenário de maiores eventos de inundação marinha. E uma boa parte do problema está na incapacidade de drenagem do continente. Quando chove, a água drena em direção ao oceano, mas você precisa ter um oceano mais baixo para essa água drenar, declarou o professor da UFF.
As mudanças não devem ser restritas ao litoral, já que populações de outras regiões também podem ser afetadas pelo deslocamento involuntário de pessoas para áreas do interior.
O professor de urbanismo do Ibmec-RJ, Marco Antônio Milazzo, afirma que a Praia de Atafona já sofre com as consequências do avanço do mar:
A Praia de Atafona já vem sofrendo há muitos anos com fortes ressacas. Muitas casas já foram destruídas em Atafona, as pessoas estão tendo que se deslocar, em várias cidades do mundo isso está acontecendo, inclusive. Pessoas saindo dos locais de praia, 'né'? Do litoral, disse o professor do Ibmec-RJ.
Em um vídeo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirma que salvar os oceanos é uma forma de salvar a humanidade:
Estou em Tonga para emitir um alerta global: salvem os nossos mares. Os níveis médios dos mares estão subindo em uma escala sem precedentes nos últimos três mil anos. A elevação dos mares é uma crise criada pela humanidade e que, em breve, vai atingir uma escala quase inimaginável. Se salvarmos o Oceano Pacífico, também nos salvaremos, afirmou António.
O relatório ressalta que a elevação do nível dos oceanos tem a capacidade de redefinir as costas litorâneas no século XXI e que as mudanças podem causar sérios riscos à segurança de populações, inclusive com o desaparecimento de ilhas no Oceano Pacífico.
No Rio, o Instituto Pereira Passos desenvolve estudos das áreas vulneráveis à elevação do nível médio do mar desde 2008. Segundo a prefeitura, o Plano de Desenvolvimento Sustentável e Ação Climática da cidade tem o objetivo central de construir políticas municipais alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.
No mapeamento, a elevação do nível médio do mar é um dos perigos climáticos que podem interferir sobre os sistemas naturais e humanos, junto a deslizamentos de terra, ondas de calor, ilhas de calor e inundações.
Ainda de acordo com a prefeitura, o município tem um Acordo de Cooperação com a NASA que visa, entre outros pontos, compreender e monitorar os perigos ambientais na cidade.
Procurada, a Prefeitura de São João da Barra afirmou que o problema da erosão costeira em Atafona, com o avanço do mar, é vivido há décadas e vem sendo trabalhado com muita preocupação pelo município.