Pesquisadores da Uerj utilizam extrato do caroço do açaí para tratar ansiedade

A proposta, que ainda está em fase de testes, pode beneficiar cerca de 18 milhões de brasileiros que sofrem com a ansiedade

Por Guilherme Faria (sob supervisão)

Pesquisadores da Uerj utilizam extrato do caroço do açaí para tratar ansiedade
Açaí
Wenderson Araujo/Trilux/CNA

Um estudo feito por pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro pode mudar a forma como milhões de brasileiros tratam a ansiedade. As pesquisas mostram que o extrato do caroço do açaí pode ser útil no tratamento contra os transtornos provocados pela doença.

O estudo, feito pelo grupo de pesquisa em Farmacologia Cardiovascular e Plantas Medicinais do Instituto de Biologia Roberto Alcantara Gomes, da Uerj, começou em 2014 e é pioneiro ao propor a utilização de um extrato feito a partir do caroço do açaí, parte do fruto que geralmente é descartada.

A proposta, que ainda está em fase de testes, pode beneficiar cerca de 18 milhões de brasileiros que sofrem com a ansiedade, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. Uma delas é a estudante Nina Ribeiro. Ela conta que os transtornos fizeram com que ela ajustasse a rotina para lidar com a doença:

"Acho que o principal da ansiedade é saber lidar com ela e entender, indo no médico... No meu caso, meu médico passou uma medicação para os momentos de crise, então eu prefiro andar com o medicamento para caso eu tiver uma crise eu conseguir lidar melhor".

O estudo feito pelos pesquisadores da Uerj busca entender mais sobre o efeito ansiolítico do caroço e como o extrato atua no sistema nervoso. Os testes de comportamento feitos com roedores mostraram que os animais tratados com o extrato apresentaram atitudes menos ansiosas diante de situações adversas. 

Uma das pesquisadoras responsáveis pelo estudo, a professora de Farmacologia Graziele Freitas de Bem, explica que o extrato tem se mostrado um fármaco eficaz para o tratamento da ansiedade:

"Então, nós estamos propondo a utilização de uma planta medicinal que pudesse ter algum efeito benéfico na ansiedade. E aí nós tratamos os animais quando eles já estavam ansiosos e observamos que o extrato do caroço do açaí reduz a ansiedade sem ocasionar, ou ocasionando quase nenhum efeito adverso. Então, esse seria um efeito muito importante para a gente continuar estudando e tentar, em algum momento, transpor para a clínica".

Neste ano, uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz revelou um aumento de 75% no uso de medicamentos para tratar a ansiedade, na comparação a períodos antes da pandemia da Covid-19. Segundo a OMS, em 2019, mais de 300 milhões de pessoas sofriam com a doença em todo o mundo, e o Brasil era o país com o maior número de casos.  

Além de se mostrar eficiente no tratamento da ansiedade, a utilização do extrato do caroço do açaí é uma solução ecológica, já que utiliza uma parte do fruto que normalmente é descartada, evitando o desperdício. Os resultados obtidos pelo estudo já foram publicados na revista científica canadense "Applied Physiology, Nutrition, and Metabolism", em novembro de 2020. 

Agora, os pesquisadores buscam patentear os estudos com o extrato do caroço do açaí, que recebeu o nome "ASE", abreviatura da expressão "açaí seed extract". O processo já está em andamento junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial. O próximo passo da pesquisa é o início dos testes em seres humanos.

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