Na esteira do nacionalismo da Era Vargas, o Brasil ganhou a primeira petroleira para chamar de sua. 70 anos depois, a Petrobras comemora mais um aniversário, nesta terça-feira (3), com o farol apontado para a Transição Energética e para a diversificação da cadeia produtiva. Para celebrar a data, a BandNews FM ouve os atores que fizeram parte e compõem a companhia.
Nesse período, o Brasil passou de um pequeno produtor e grande importador de petróleo para ser um país que produz cerca de 3,3 milhões de barris de petróleo por dia: o 9º maior produtor no mundo de petróleo, com a expectativa de alcançar o top 5 mundial até 2030, com grande parte produzida pela estatal. A Petrobras está no front da economia brasileira e, apenas no primeiro semestre desse ano, repassou mais de R$ 118 bilhões em tributos e participações governamentais à União. Perante o mundo, a empresa também se destacava, até o ano passado, na liderança na lista de maiores pagadores de dividendos do mundo.
No entanto, durante a história, a empresa tem enfrentado dilemas que envolvem os interesses de seus mais diversos atores. Com capital misto e controlada majoritariamente pelo Estado, ela passa por sucessivas mudanças em sua cúpula, quando há mudanças no Governo Federal, e enfrenta o desafio de unir o interesse público aos anseios dos acionistas minoritários.
O atual presidente, Jean Paul Prates, tem o desafio de chefiar a Petrobras com a proposta de modernizar a companhia e tocar mudanças estruturantes. Uma nova estratégia comercial foi anunciada em maio. A Petrobras passou a desconsiderar a volatilidade dos preços internacionais, o câmbio, além dos gastos com transportes para precificar o combustível vendido às refinarias.
Além disso, a empresa precisou enfrentar as investigações de corrupção pela Operação Lava Jato, iniciada em 2014, com as prisões de ex-diretores e empresários.
Mas um dos principais marcos da história da companhia foi em 2008, quando sondas especiais foram enviadas para perfurar sete poços na Bacia de Santos, embaixo de uma camada de sal. Guilherme Estrella não imaginava o que estava por vir. O então diretor de exploração e produção da Petrobras, conta como foi participar da descoberta do Pré-sal, na região de Tupi, abaixo da camada de sal, onde foi encontrado petróleo.
"Essa é uma grande vantagem de quem atua na fronteira tecnologica. Quem atua nessa fronteira é aquele que identifica oportunidades de inovações, de avanços tecnológicos", conta.
A descoberta e exploração protagonizada pela Petrobras, à época, provocou desconforto nos agentes privados, que desconfiaram da disposição da petroleira em manter a quebra do monopólio do petróleo, aprovada dez anos antes pelo Congresso Nacional. Atualmente, o Pré-sal representa cerca de 80% de toda a produção nacional.
Para o diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Mahatma dos Santos, o petróleo deve continuar como um ativo estratégico.
"O petróleo ainda será um ativo estratégico para garantia da segurança energética nacional e global, assim como o gás natural será um insumo importantíssimo a transição energética."
Transição Energética
Aliar os investimentos em combustíveis fósseis, que correspondem à maior fatia do lucro atual da empresa, às fontes renováveis é outro dilema que a Petrobras enfrenta junto às outras grandes petroleiras pelo mundo. Esse enfrentamento tem sido capitaneado pela nova diretoria de Transição Energética, criada apenas neste ano. Dentre as medidas anunciadas, estão o investimento em eólicas offshore, o fomento ao hidrogênio verde e a diminuição da emissão de gases nocivos ao meio ambiente no processo de refino.
Presidente da estatal de 2012 a 2015, Graça Foster avalia que o investimento em renováveis é uma demanda importante do mercado e da sociedade.
"Eu acho que não há mais espaço para uma grande petroleira se elas querem entrar no mundo diversificado, esverdeado, porque a sociedade quer, e os compradores querem. Os nossos clientes querem comprar produtos com o máximo de descarbonização possível", conta.
José Mauro Coelho, presidente da petroleira de abril a junho de 2022, defende que a empresa é vanguardista na promoção de alternativas verdes.
“Ressaltar que a Petrobras tem hoje um dos maiores programas de captura e estocagem de CO2 na produção de petróleo. Vem trabalhando muito para reduzir as emissões nas plataformas, com a eletrificação das plataformas de modo a usar menos combustíveis fósseis”.
O que está por vir?
Representando aqueles que atuam no front, diretamente das plataformas da empresa, Deyvid Bacellar, presidente da Federação Única dos Petroleiros, espera um futuro próspero, em que a companhia dê atenção aos trabalhadores e se mostre atenta às demandas da classe.
“A empresa completa sete décadas, prometendo ser uma empresa integrada, soberana e comprometida com a sociedade brasileira, mas principalmente com os trabalhadores e com a Transição Energética justa.”
Os agentes carregam em comum as dores e os desafios de fazer parte de uma empresa importante mundialmente, mas também a certeza de que a Petrobras, com o passar do tempo, deve se reinventar para se manter na dianteira do setor.