A Polícia Civil investiga mais dois casos de crianças mordidas em creches do Rio, após a repercussão do episódio em que um menina foi mordida por crianças durante sete minutos em um estabelecimento na Rocinha, na Zona Sul, sem nenhuma intervenção de um profissional.
Os novos episódios denunciados ocorreram em duas unidades da rede Creche Esperança, que tem convênio com a Prefeitura. Na unidade de Magalhães Bastos, na Zona Oeste, os pais de uma bebê de 1 ano e 8 meses denunciam que a filha foi mordida pelo menos seis vezes por outras crianças.
Nathalya Vieira deixou a pequena Maria Júlia no espaço para o segundo dia de adaptação, na manhã da última terça-feira (27). Ao retornar para buscá-la, ela foi recebida pela diretora e por uma professora que comunicaram a situação.
A mãe começou a suspeitar da situação após encontrar um elástico de cabelo na boca da criança.
Quando a gente tirou a roupa dela indo pra casa, foi aí que eu notei que ela estava toda mordida e toda arranhada. Na mesma hora nós voltamos na creche, mas a única coisa que recebemos da creche foi um pedido de desculpa. Minha comadre, que é professora, quis voltar. A pedagoga foi até lá conversar com a gente. Ela falou 'são duas auxiliares, tirando a professora, só que hoje vieram 17 crianças e uma auxiliar faltou', Ela falou que uma auxiliar tinha saído da sala. Quando ela voltou, ela falou que não viu a minha filha sendo mordida, disse ela
Maria Júlia foi levada ao Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, para receber os cuidados necessários nas feridas.
Episódios de crianças mordidas em creches são frequentes e até comuns, mas a presidente do Instituto Singularidades, Cláudia Costin, alerta que as situações não devem acontecer por tanto tempo sem que algum profissional intervenha.
Acontece sim, mesmo em boas creches, que uma criança, num momento de descuido do cuidador ou do professor, morda outra criança. Mas isso não pode acontecer em um espaço mais prolongado. A LDB, Lei de Diretrizes e Bases, estabelece que é necessário haver não apenas cuidadores, mas professores em cada sala em que há crianças. E essas crianças não podem ser deixadas, não atendidas ou sem alguém dentro da sala, afirmou a presidente do Instituto
O segundo caso que está sendo investigado ocorreu na unidade da Creche Esperança em Irajá, na Zona Norte. Na segunda-feira (26), o pequeno João, que ainda vai fazer um ano no fim de março, foi mordido pelo menos nove vezes. A irmã dele, Raphaella Souza, conta que foi chamada por uma funcionária, que disse que João seria um 'alvo fácil'.
Quando eu fui buscar o João às 15h na creche, elas não me deram o João de imediato. Me chamaram numa salinha, pra falar que meu irmão se tornou um alvo fácil para as outras crianças, que o choro do João estava incomodando as outras crianças, que ele chorava muito. Por ele não andar, por ele não engatinhar, por ele ser um bebê, ele virou um alvo fácil para essas crianças morderem ele, relatou a mulher.
A creche disse para a família que não sabe como ele foi mordido desse jeito.
A Secretaria Municipal de Educação abriu sindicância e iniciou os procedimentos de apuração da creche conveniada.
A Creche Esperança foi procurada, mas não respondeu a reportagem.