O homem que fez 16 reféns dentro de um ônibus na Rodoviária do Rio deveria estar usando tornozeleira eletrônica, mas descumpria o monitoramento há pelo menos um ano e meio. Em março do ano passado, o Ministério Público chegou a pedir uma nova prisão do criminoso, mas a solicitação só foi aceita na terça-feira (12), horas após o sequestro, que terminou com dois baleados, sendo um deles em estado grave.
Paulo Sérgio de Lima, de 29 anos, foi condenado em 2019 a nove anos de prisão por roubo. O acusado participou do assalto a um ônibus no Túnel Rebouças, usando uma réplica de arma de arma de fogo, em abril de 2019. Depois, Paulo e o comparsa desceram em Rio Comprido, na Zona Norte, e ainda levaram pertences de pessoas que estavam em um ponto de ônibus.
Em março de 2022, ele passou para a prisão domiciliar, com tornozeleira. A decisão da juíza Larissa Maria Nunes Barros considerava o fato dele ter cumprido um sexto da pena e a ausência de falta disciplinar grave nos 12 meses anteriores.
No entanto, o criminoso deixou o equipamento descarregar em agosto de 2022 e nunca mais ativou o aparelho. A Secretaria de Administração Penitenciária afirma que no mesmo mês alertou a Justiça do Rio sobre a violação e ainda enviou outros cinco avisos.
O sequestrador também não cumpriu o comparecimento trimestral determinado pela decisão que concedeu a prisão domiciliar e havia sido visto pela última vez uma semana depois da soltura
Nos autos do processo, a defesa do acusado não apresentou justificativa para as violações e disse apenas que a tornozeleira apresentou defeito.
Apenas na noite de terça-feira (12) o juiz Cariel Bezerra Patriota decretou a prisão do sequestrador, mas disse que só recebeu o pedido do MP horas antes, mesmo com o documento há mais de um ano parado na Vara de Execuções Penais.
O Ministério Público afirma que também já havia pedido a prisão dele outras três vezes, em agosto, setembro e outubro de 2022.
O advogado criminalista Mozar Carvalho explica que a Justiça poderia ter determinado a regressão de regime desde o primeiro aviso da Seap, em agosto de 2022, mesmo sem qualquer manifestação do MP
Nesta quarta-feira (13), ao ser transferido para uma unidade prisional, o sequestrador debochou da situação. Na ocasião, ele disse que ia apenas viajar e foi atrapalhado pelos policiais.
Segundo a Polícia Civil, Paulo fez os disparos e deu início ao sequestro ao suspeitar que havia sido cercado por policiais ou criminosos após o ônibus em que ele estava apresentar problemas técnicos. O homem já suspeitava que estivesse sendo seguido desde a compra da passagem, às 13h50, já que o pagamento foi feito com um maço de dinheiro em espécie. Depois de quase três horas de negociação, ele liberou os reféns sem ferimentos, entre eles uma criança e seis idosos.
Na delegacia, o homem contou que tentava fugir de bandidos da Rocinha, na Zona Sul do Rio, após um desentendimento. Depois do sequestro, porém, duas pessoas reconheceram o suspeito como autor de um assalto a uma van no último domingo (10). As testemunhas contaram que Paulo estava armado e fugiu depois de pedir para o motorista parar em um dos acessos à Rocinha. Ele levou pertences das vítimas, inclusive o cordão que estava usando durante o sequestro.
O delegado responsável pelo caso, Mário Jorge Andrade, conta que, no dia, os passageiros foram atrás do criminoso e relataram o caso a um grupo de traficantes. Quando os bandidos questionaram o suspeito, o assaltante ficou nervoso, sacou uma arma e disparou contra eles. Um dos traficantes teria sido atingido nas pernas por estilhaços. Desde então, Paulo estava se escondendo em hotéis e planejava ficar na casa da mãe, em Juiz de Fora.
Os reféns já foram ouvidos pela Polícia Civil e disseram que Paulo estava muito nervoso, dizia que estava com medo de morrer, ameaçava atirar nos passageiros e ainda pedia para eles usarem os celulares para monitorar as informações em relação ao sequestro. Os investigadores também analisam imagens câmeras de segurança do local e devem ouvir outras testemunhas nos próximos dias.
Paulo foi autuado em flagrante por tentativa de homicídio, cárcere privado e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. O homem ainda tinha passagens criminais em Minas Gerais.