Os advogados de Ronnie Lessa deixam a defesa do ex-policial militar Ronnie Lessa após a homologação da colaboração premiada no Supremo Tribunal Federal, que trata do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Em nota, divulgada nesta quarta-feira (20), o escritório afirmou que não trabalha para delatores.
Em pronunciamento na terça (19), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, confirmou a homologação e disse que o caso deve ser solucionado em breve.
Ronnie Lessa apontou o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio Domingos Brazão como um dos mandantes do crime.
A motivação seria a atuação da vereadora contra construções irregulares da milícia na Zona Oeste do Rio, onde o conselheiro disputava influência com o ex-vereador Marcello Siciliano.
O ex-PM chegou a pedir que a segurança da família dele fosse reforçada, em troca da colaboração, além de pedir que a pena não passe de 30 anos de prisão e que ele seja transferido do Mato Grosso do Sul para o Rio de Janeiro.
O advogado criminalista Fabio Manoel acredita que a homologação pode representar que a Polícia Federal e o Judiciário estão próximos de concluir essa investigação e já possuem o nome do mandante do crime.
“O que se pode ter certeza é que essa delação premiada do Ronnie Lessa indicou elementos concretos. Ela indicou o mandante, indicou elementos para se chegar ao mandante, e é muito provável que tanto o Judiciário, quanto a Polícia Federal, já estejam muito próximos desses elementos, porque senão não teria muito sentido essa delação premiada. Então, o que se espera é que a partir dessas informações contidas na delação, se obtenha outras provas para chegar ao mandante do crime da Vereadora Marielle”.
A ministra da Igualdade Racial e irmã de Marielle, Anielle Franco, comemorou o avanço da investigação.
“Porque a gente ganha um pouco de mais de esperança, né? É a esperança de passos concretos, de saber quem mandou matar a minha irmã e por quê. Cada passo dado, cada revelação feita por esse crime é uma resposta que a gente vai dar pra democracia e é uma resposta do porquê Marielle foi assassinada da maneira que foi, no exercício de sua função e quem mandou matar a Marielle, com esse crime que tá aí há seis anos, sem muitas dessas respostas que a gente precisa. Esperando uma resposta concreta do motivo e dos mandantes do caso da minha irmã”.
Domingos Brazão negou qualquer envolvimento no crime e, em nota, a defesa do conselheiro do TCE afirmou que todas as informações que os advogados possuem foram obtidas apenas por meio de matérias jornalísticas e que também aguarda que os fatos sejam esclarecidos.
O nome de Brazão já tinha sido relacionado ao caso em 2019, quando ele foi acusado pela Procuradoria-Geral da República de tentar obstruir as investigações.
O caso foi enviado STF após ser identificado o suposto envolvimento no crime de uma pessoa com foro privilegiado, o deputado federal Chiquinho Brazão, irmão de Domingos Brazão. A informação foi confirmada pela TV Band em Brasília.
Em nota, o parlamentar disse estar surpreendido pelo que chamou de especulações. Ele ainda afirmou que o convívio com a vereadora sempre foi amistoso e que ambos compartilhavam dos mesmos posicionamentos acerca dos condomínios na Zona Oeste do Rio.
Pelas redes sociais, a esposa de Marielle, Monica Benício, disse que a homologação é um passo importante, mas criticou o pronunciamento dizendo que a declaração reforça a transformação desse caso em um espetáculo com disputas de protagonismo político.
As mortes de Marielle e Anderson completaram seis anos no último dia 14 de março. Além de Lessa, outras três pessoas estão presas por envolvimento no crime. Um ex-pm, um ex-bombeiro e um mecânico.