Vinte e cinco anos após o desabamento do edifício Palace II, que deixou oito pessoas mortas, as famílias das vítimas só receberam cerca de 40% da indenização total. A informação é da Associação das Vítimas.
O edifício foi construído em 1990 na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, pela Sersan, que pertencia ao engenheiro e deputado federal, Sérgio Naya.
Na cobertura estava a família Rodrigues. Por volta das duas horas da manhã, eles sentiram o primeiro estalo, mas não acreditaram que seria algo mais grave. Às 4h25 da manhã, Sebastião Murad Rodrigues e Júnia Luz Rodrigues quase foram arremessados para fora da cama, com o balanço da estrutura, semelhante a um terremoto.
Sebastião conta que começou a descer as escadas do prédio, com a esposa, o filho e a sogra. No décimo quinto andar, a idosa começou a passar mal. Ele lembra que nesse momento resolveu abrir a porta de acesso ao corredor, para dissipar parte da poeira. Foi aí que teve a noção mais precisa do que acontecia.
A família foi a última a deixar o Palace II, sem precisar de resgate. O prédio tinha 23 andares. Na época da tragédia, 120 dos 176 apartamentos estavam ocupados. De acordo com as investigações, o edifício tinha graves problemas de estrutura e acabamento. ((O desabamento atingiu as colunas 1 e 2 do prédio, onde havia 44 unidades.
O empresário chegou a ter a prisão decretada em 1999, mas a decisão foi revogada em seguida. A absolvição veio em maio de 2001, mas Sérgio Naia teve o mandato de deputado federal e o registro profissional de engenheiro cassados.
Os bloqueios dos bens já acontecem desde 1998. Desde então, a justiça tenta levantar os valores devidos de indenização para quem tinha apartamento no Palace II. Até hoje, há suas dificuldades: encontrar compradores para o patrimônio de Naia e a realização de uma venda justa, através do valor de mercado, já que parte dos espólio de Naia possui problemas tributários.
A título de indenização, ainda faltam cerca de R$ 150 milhões a serem pagos entre as 120 famílias, valor que ainda precisa ser corrigido. A presidente da Associação das Vítimas do Palace II, Rauliete Guedes, explica que esse montante não chega nem a metade do total pago até hoje.
Os trabalhos foram delicados e oitos mortes foram confirmadas. Entre as vítimas, estava uma criança de 12 anos, que morreu ao lado do pai e da madrasta. A mãe dela, Bárbara Martins, conta como soube que a filha estava sob os escombros.
Vinte e cinco anos após o desabamento do Palace II, há cicatrizes e também lições. Júnia Luz diz o que o desabamento ensinou para ela e a família.
Entre decisões e recursos, Sérgio Naia não ficou 140 dias preso. O empresário morreu em 2009, vítima de um infarto fulminante